Capítulo 38 - Eu não preciso de ajuda

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Como combinado, Marcela largou sua casa na primeira quarta-feira gelada de agosto e se sentou no banco do passageiro do carro do pai depois de uma pequena discussão com Carlos sobre quem iria na frente.

A ansiedade já não fazia parte do coração Marcela nesse momento já que o Colégio Gillar São Paulo não era mais um desafio. Ela fazia parte daquele lugar assim como as mesas e cadeiras da sala de aula. Medo sentirá quando lá não for mais o destino.

- Você acha que podemos conversar amanhã? - Marcela pergunta para o pai, colocando o cinto. Roberto, coçou o bigode preto e grosso enquanto negava. - Na quarta?

- Marcela você sabe que preciso ir pra Campinas a semana inteira. Deveria ter me contado isso antes. - Ele não está olhando para ele enquanto fala, se concentrava em dar ré para tirar o carro grande da vaga do estacionamento do prédio.

- Mas a Lisbete...

- Você não é a Lisbete. Eu não sou o pai dela, nem conheço a família dela.

- Clássico - Carlos resmunga no banco de trás. - Por isso ficou implorando pra ele te dar carona? - A pergunta foi pra Marcela, que revira os olhos.

Ela pega o celular, mas ignora as mensagens que ainda não leu no whatsapp. Sabe que seu mau humor não vai fazer seu pai, magicamente, sentar e deixar Marcela convencê-lo a deixá-la viajar para o Paraná no seu aniversário. Lisbete havia dado a ideia alguns dias atrás. Ela ficou empolgada, mas sabia que seus pais poderiam não gostar mundo que ela fosse para outro estado já que até para o litoral ela precisa implorar por meses, dar todas as informações com antecedência e ficar na casa que eles tem na praia.

- Sábado, então?

- Sim, sábado pode ser. - Roberto encara a filha por poucos segundos. - Se sente melhor mesmo?

Marcela assentiu. A pergunta de Roberto lembrou Marcela da noite anterior. Uma dor intensa transcorreu seu corpo e ela precisou chamar seus pais porque precisava de ajuda. É por isso que ela odeia o frio e como suas crises de dores da anemia falciforme se intensificam com ele. Não tinha tido muitas no ano passado, mas a má alimentação e hidratação graças à carga enorme de trabalho e o estresse do final do ensino médio estavam piorado, muito, todos os seus problemas médicos.

- Ainda tá amarelo? - Marcela diz isso e abaixa o espelho do carro, acima de sua cabeça. Ela abre bem os olhos para notar que a amarelidão não sumiu. - Af!

- Se não diminuir vamos no médico amanhã - Roberto informa, mudando a marcha do carro.

- Por que a gente pode ir no médico amanhã, mas não pode conversar amanhã? Você prometeu desde que eu tinha 13 anos que eu ia poder escolher fazer o que eu quisesse no meu aniversário de 18!

- Porque com 13 anos ainda faltavam 5 anos pra você fazer 18. - Marcela odiava a velocidade de raciocínio do seu pai. Ela fez uma careta apropriadamente ignorada por ele. - Não consegue ficar até sábado com seu falar desse aniversário, Marcela? Para com isso.

Carlos está rindo, o que irrita Marcela ainda mais. Ama o pai, ama Carlos, mas odeia os dois juntos.

- Podemos parar na casa do Igor na volta, eu esqueci minha jaqueta lá outro dia e tenho que pegar antes de viajar.

Roberto olha os movimentos da fala de Carlos pelo retrovisor e assente, mas claramente descontente porque ele odeia dirigir pelas ruas dentro da cidade de São Paulo.

- Aí, pai, eu não quero ir no médico! - Marcela retomou o assunto que realmente a chateou. - Tenho um milhão de matéria acumulada pra estudar e se ele achar alguma coisa vai me prender lá por dias pra fazer os exames! Carlos! - Ela olha para trás, mas seu irmão tinha tirado os aparelhos auditivos e mexia no celular.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora