Capítulo 41 - A explosão

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Dezembro

Eu tô passando muito mal. Muitíssimo mal. Se demorar mais dois dias eu posso estar morta antes de você chegar.

Minha nossa senhora da pamonha, Marcela! EU VOU VOMITAR. Precisa disso tudo?

Vai cuidar da sua vida, vai.

Que saudade, Giu, volta logo!

Giulia estava rindo do áudio de 15 segundos que Marcela enviou uma hora atrás. Ela então montou em sua bicicleta e pedalou até a biblioteca de São José dos Campos para entregar um livro que tinha pego meses atrás.

Sua avó materna pediu que Giulia a fosse visitar depois das provas do vestibular e Sônia estava muito empolgada cozinhando as comidas favoritas da única neta durante essa semana. Giulia pegou o ônibus para encontrar sua avó na última sexta-feira de novembro, no mesmo dia da sua última prova, e já faz 3 dias que está aqui. Marcela mandou mensagem todos os dias dizendo que estava com saudade, como se elas não estivessem coladas 24h por dia nos últimos meses, e Giulia gosta muito disso. Não importa quantas vezes Marcela fale a mesma coisa, ela sempre quer ouvir.

Giulia [10:12]: Eu tô com saudade também. Quer ir no Itaú cultural domingo?

Julieta [10:14]: eu vou estar morta até domingo!!!

Giulia [10:14]: um beijinho e vc vive de novo, tipo a branca de neve.

Julieta [10:16]: necrofilia???

Giulia estava rindo enquanto voltava para a casa da avó. O cheio de bolo de fubá e café se misturava perfeitamente no ar, e ela soltou um gemido de prazer ao encostar na bancada de mármore cinza da cozinha e encarar o bolo laranja, redondo e fofo soltando fumaça.

- Caralho, vó!

- Olha a boca, menina!

Giulia abriu um sorriso forçado.

- Ainda não aprendeu? - A pergunta vem de uma terceira pessoa na cozinha.

Era uma mulher sentada na mesa redonda de quatro lugares que tinha roupa escura a cobrindo da cabeça as pés, e o rosto redondo era enfeitado com bochechas fartas e olhos grandes. Giulia não olhou em direção à sua tia, estava perfeitamente entretida com a ideia de partir aquele bolo Jos próximos segundos.

- Ela fica muito rodeada de más influências em São Paulo, Marina, eu disse pra Márcia que morar lá não era bom pra criar filho.

- Aí, Vó, para!

- Pega aí a faca, Giulia - pediu Sônica, virando-se da pia com três xícaras na mão. - Esqueci que você não toma café - continuou, largando a xícara que antes deveria ser de Marina mais na ponto da bancada.

As visitas de Marina não eram frequentes, ainda mais no fim de ano. Ao longo dos 17 anos vivendo no convento, ela se distanciou mais e mais de sua família graças aos trabalhos em Santos. Apesar da sua família materna ser anos luz melhor que a paterna, isso não significa, nem de longe, que é boa mesmo.

Às vezes Giulia se pergunta como seria se Gabriela não tivesse morrido. Será que sua vida mudaria muito caso tivesse uma irmã? Será que metade da solidão que sente não existiria ou que seria mais fácil suportar os pais se ela não fosse o único foco deles? É, ela acredita que essa realidade seria muito mais interessante. Só que talvez elas mudassem juntas para estudar no Senhorinha e Giulia nunca tivesse sido selecionada por Lucas e Marcela para aquele plano infantil e sem noção de derrotar a Thais. Giulia nunca se apaixonaria por Marcela e elas nunca namorariam. É, parece que sua fantasia encontrou um ponto no qual ela não gosta de convergência.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora