Capítulo 39 - A reunião do Quarteto Fantástico

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Giulia nunca havia dito um eu te amo em toda a sua vida.

É muito difícil reproduzir algo que nunca te ensinaram a fazer. Ela respeita e se importa, os dois pilares mais básicos do amor, mas o conjunto de palavras "Eu te amo" nunca pareceu para algo com significância para ela.

"Eu te amo" para Giulia é uma sentença oca. Falar isso lhe parece muito limitante. Além de não se lembrar ter escutado isso vindo de nenhum membro daqueles que são sua família de sangue, quando encontra pessoas falando isso em filmes ou livros ela não sabe o que significa. Ela se pergunta o que é sentir-se amada. Seu grupo de amigos são, de longe, as pessoas que mais fizeram Giulia se sentir bem pelo que ela é e eles nunca foram do tipo que trocam afetos em palavras. Se ela pudesse chutar o que é amor, diria que é o calor no coração que sente sempre que está com eles. Só que vale falar? Ela não sabe.

Quando a tia Cecília compartilha com ela, com animação, seus objetivos de vida e Giulia se sente orgulhosa dela, é amor? E quando Sérgio disse que amava Patrícia, mas depois eles terminaram, será que era mesmo amor?

Uma incrível invenção humana. É onde Giulia acredita que o amor de encaixa. Bem, era onde ela acreditava até essa semana.

Dentro de muitas situações conflituosas e desamor que já viveu, nenhuma delas havia envolvido alguém semi-morto em uma cama. Ela nunca enfrentou a morte e essa lhe parecia sempre uma situação muito longe de pessoas jovens como Giulia e seus amigos. Ao contrário de Marcela, que entendia bem como era nunca mais ter a chance de dizer um eu te amo a alguém, Giulia tinha para si que tinha tempo o suficiente para aprender o que era esse sentimento. Só que o amor, assim como tudo na vida, não está aqui para ser perfeitamente entendido. Estudiosos passam suas vidas explicando pequeñas nuances da psicologia e biologia humana, mas a filosofia continua sendo a mãe das ciências e respostas concretas continuam sendo a última coisa que se encontra em uma vida tão curta e humana.

Digo tudo isso porque essa semana Giulia disse seu primeiro eu te amo em 17 anos. Ela disse isso porque durante os meses que Lucas mal se moveu e ficou passeando entre a vida e a morte, Giulia notou que a última vez que o viu, antes que Lucas fosse para o Rio de Janeiro, ela não disse. Assumiu, na época, que ele tinha para si o quanto ela o admirava e o quanto sentiria falta dele, mas logo que tudo desandou de forma repentina, pareceu que foi insuficiente. Ela queria que ele soubesse que a amizade dele a salvou incontáveis vezes, o quanto ela se importa com o bem estar dele a ponto de ter seu coração massacrado ao assistir Lucas sofrer, e que ele poderia, sempre e sem precisar pensar duas vezes, contar com a amizade dela para qualquer coisa. Giulia queria que Lucas soubesse que ela escutava seus conselhos mesmo que revirasse os olhos e às vezes quisesse socá-lo por um comentário idiota. Ela sentiu, durante todo o tempo que ele dormiu, sua falta em diversos momentos do  dia.

Giulia soube que faltou a sentença que ela nunca achou que se encaixaria em algum contexto de sua vida e que resumia todas as coisas incríveis que ela sentia em direção a Lucas. E ela soube que já havia passado hora de começar a contar para as pessoas que ela quer manter em sua vida o quanto elas são importantes, úteis e insubstituíveis. Percebeu que, assim como ela, nenhuma dessas pessoas tem uma bola de cristal para adivinhar isso. Não ter escutado isso durante sua vida a fez não valorizar algo que, se deu conta, sempre quis escutar.

A linguagem humana não é um mero enfeite e a capacidade de traduzir sentimentos e colocar significado neles é uma vantagem e tanto. Foi libertador.

Isso aconteceu dois dias atrás.

Foi a única coisa que Giulia foi capaz de falar quando abraçou Lucas acordado pela primeira vez. Lágrimas banharam os olhos dela assim que Giulia abriu a porta e Lucas virou a cabeça em sua direção e a assistiu, meio tímida e sem saber o que fazer, no quarto do hospital. Igor e Lauro estavam no quarto também, do outro lado da cama, e o sorriso dos quatro presentes conversaram entre si em uma alegria que se conectava e se entendia por si só.

⚢ Não Mate Borboletas Por Ela ⚢ [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora