Capítulo 5

21 3 0
                                    

Lutei com todas as minhas forças para não vir, mas cá estou eu trancafiada no jatinho que meu pai enviou para me buscar e destinada a aguentar uma viagem de doze horas para visitar o Fofo-Do-Meu-Pai e sua Namorada-Suga-Dinheiro.

Não vou mentir... A melhor parte da viagem para mim, sempre foi estar dentro do avião, nunca me interessou a ideia de precisar me acomodar em um quarto de hotel, onde minhas roupas são obrigadas a ficar dentro de malas, porque o hotel nunca tem cabides o suficiente para comportar as roupas que eu trouxe de casa e as que eu comprei na cidade que estou visitando. Isso sempre me irritou muito. Além do fato de que eu não tenho a privacidade que eu tenho em casa, como, por exemplo, colocar a música o mais alto possível e gritar cada palavra dela durante o banho ou durante qualquer atividade cotidiana minha. Não gosto de hotéis. Mas, como tenho uma sorte infinita, vou acabar ficando com o meu pai e Liesl no apartamento deles.

Amo a minha vida.

O jatinho é extremamente confortável e gigante. Tem um quarto, sala de jantar, sala de estar, três banheiros, cozinha e uma "sala de recepção" como chamam, que consiste, basicamente em uma salinha com um sofá e uma mesa de canto para receber os convidados que estão entrando no avião e se acomodando ainda. Sou apaixonada por jatinhos. Às vezes o meu passatempo é entrar no site do fabricante deles e ficar olhando os modelos de jato e suas especificações. Sempre quis comprar um, por mais que eu não tenha idade ainda nem para dirigir, mas pretendo um dia comprar o meu. Esse em particular é o modelo pelo qual eu espero comprar - um Lineage 1000E. Que raiva que meu pai o comprou. Um avião tão bonito arruinado pelo simples fato de ter o nome do meu pai nos documentos de posse desse jato.

Resolvi não trazer a Linda comigo porque seria menos cansativo para ela. Sortuda que pode ficar em casa. Minha mãe também ficou em casa, apesar da ideia de me reconciliar com o meu pai ter sido dela. Ninguém precisa passar pela humilhação de ver o ex-marido com a ex-amante, atual namorada. Eu parcialmente entendo isso, mas não muda o fato de eu estar muito brava por ter sido obrigada a vir. Que raiva.

Acabei de decolar do aeroporto de Nassau e vou ter uma conexão em Paris para reabastecer o avião. Não deve durar mais que meia-hora, mas mesmo assim, não aguento mais essa viagem. O jatinho é enorme e isso está me dando uma sensação de solidão. Só estou eu, dois comandantes e a aeromoça aqui. Ela sempre esteve nos voos da minha família desde que eu era pequena, mas nunca falei muito com ela, apesar de parecer ser uma pessoa muito legal. Trouxe os meus livros favoritos junto para poder ler nesse voo. "A Culpa é das Estrelas", "Mil Beijos de Garoto" e "Os Catadores de Conchas" são, de longe, as histórias mais lindas que já li. Nunca me canso de lê-los.

Joguei todas as minhas malas no compartimento de bagagens e fiquei apenas com a bolsa na qual estavam os meus livros. Resolvi começar a ler "Mil Beijos de Garoto" primeiro, porque dos três que eu trouxe, ele é o meu preferido. Acabo me distraindo durante as próximas seis horas de voo, que é quando chego ao final do livro com o rosto vermelho e inchado, o nariz trancado e lágrimas que não param mais de escorrer dos meus olhos. Cada palavra que leio desse livro dói, consigo sentir em cada membro meu o que a autora quis dizer. Sinceramente acho que quem viver uma história de amor igual a deles, é uma pessoa que soube amar e ser amada sem limites. Um amor verdadeiro e infinito. A forma mais pura e linda que existe de amor.

Estou tão absorta no livro que comecei a ler em seguida, "A Culpa é das Estrelas" que nem percebo quando a comissária Sierra, me pergunta se eu gostaria de algo para comer. Olho para a garrafa de Coca-Cola na minha frente que eu havia pedido no começo do voo e percebo que ela já está vazia há muito tempo. Estou com tanta sede que minha garganta está roçando para respirar, além do meu estômago não parar mais de doer e fazer barulhos de fome. Peço uma salada e um suco verde para ela. Assim que a vejo sumir de vista, me dou conta que meu rosto ainda deve estar vermelho e corro para o banheiro para dar um trato no meu visual. Não tem muita coisa que possa ser feita, mas ao menos me sinto um pouco melhor do que antes de ter entrado aqui e me deparado com meu rosto no espelho.

Quando chego à sala de jantar, vejo um prato de salada e o suco que parece estar uma delícia. Sierra está ao lado da mesa, terminando de arrumá-la quando me sento para comer.

- Gostaria de mais alguma coisa, senhorita Cassie?

- Isso está ótimo, obrigada, Sierra. - Agradeço. Assim que ela se vira para se retirar, percebo que irei ficar vulnerável à minha solidão e amargura. - Posso te pedir um favor, Sierra? - Recebo um aceno de cabeça e prossigo: - Poderia me fazer companhia enquanto janto, por favor?

Seu rosto exibe uma expressão de surpresa e confusão ao ouvir minha pergunta. Ela se senta um tanto hesitante na poltrona em frente à minha e fica um tanto desconfortável nos primeiros instantes.

Para evitar o momento desconfortável que eu havia criado, propus um jogo para jogarmos enquanto eu comia. É um jogo bem simples de perguntas e respostas, que eu nunca joguei muito, mas é muito legal para se conhecer e se aproximar de alguém.

- Posso começar? É bem simples, consiste basicamente em perguntas básicas sobre os interesses e gostos de uma pessoa. Se você não gostar, é só me falar que podemos jogar outro jogo. - Falei. Quando vi que ela tinha entendido o jogo, mas não sabia com qual pergunta começar, resolvi perguntar por primeiro. - Qual sua cor é a sua favorita?

- Verde escuro, meio musgo. E a sua?

- Tenho três: rosa, roxo e verde piscina, meio turquesa. Jogo favorito?

- Paciência. Minha vez. Banda favorita?

- One direction, sem dúvida. Saia ou vestido?

- Saia, sempre. Peça de roupa favorita?

- Um short branco feito de renda que meu primo me deu de amigo secreto no Natal.

Nessa hora, o comandante acendeu a luz para colocar os cintos, anunciando que iríamos pousar em Paris para uma parada técnica para reabastecimento.

Quando começamos o processo de pouso, Sierra foi para perto do cockpit, se sentar na poltrona dos comissários e eu fui até uma poltrona ao lado da janela na sala de estar observando tudo ao meu redor. Quando saí de Nassau, era mais ou menos uma da tarde. Era sete da noite na França e a noite estava sem nenhuma nuvem. Se eu tivesse saído do avião, com certeza conseguiria observar algumas estrelas no céu. A preguiça não me permitiu mover um músculo para ir olhar lá fora. Resolvi ficar dentro do avião, lendo "A Culpa é das Estrelas".

Vinte minutos depois, estamos partindo em direção a Dubai. Será uma longa viagem...

A História de uma VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora