Capítulo 20

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   Acabei ligando para a minha amiga Rubi. Ela atendeu no terceiro toque.

   - Rubi. Preciso falar com você. Agora. Posso ir na sua casa?

   - Cassie. O que foi? Está tudo bem?

   - Não está nada bem. Preciso sair daqui por uma noite ao menos.

   - Claro. Quer que eu vá te buscar?

   - Não, obrigada. Eu pego um táxi. Chego em vinte minutos.

   Assim que desliguei, peguei uma bolsa de ombro minha e joguei meu pijama e escova de dente lá dentro. Desci até chegar do lado de fora da casa e o Sol estava me queimando. Deveria ter passado um protetor solar, ao menos. Peguei meu celular e chamei um táxi pelo aplicativo. Em dois minutos, o motorista chegou na frente da minha casa.

   Ao entrar no carro, apenas dei "bom dia" e não falei com o homem que estava me dando carona o resto da viagem. Eu me sinto mal por não falar com as pessoas que estão ao meu redor. Porém, eu não estava conseguido nem falar direito no telefone com a Rubi, por causa dos soluços, quanto mais com um estranho.

   Treze minutos depois, cheguei à casa da minha melhor amiga. Ela já estava me esperando na porta. Fui correndo até ela para um abraço e comecei a chorar muito assim que meus braços envolveram as costas dela. Rubi apenas me abraçou mais forte e depois de um minuto, fomos até dentro da casa dela. Os pais dela não estavam em casa, o que é bom, já que eu não gostaria de precisar explicar o porquê do meu rosto estar parecendo um pimentão.

   Quando chegamos ao quarto, eu joguei minha mala em cima da cama e me sentei na beirada.

   - Então, Cassie. Me conte o que aconteceu. Não aguento ficar te vendo assim e não saber como ajudar.

    - Rubi, eu não sei se tem como você me ajudar. É só que o meu dia estava tão bom até eu resolver ir buscar minha certidão de nascimento para pedir uma segunda via da minha identidade. Meu pai não é o meu pai. Ele é o meu pai adotivo. O biológico se chama Sebastian, e não me viu até hoje, por causa de um trato ridículo que meus avós fizeram antes que eu nascesse com os pais de Jace.

   A partir daí, eu contei tudo o que a minha mãe me disse sobre meus avós e meus dois pais, o verdadeiro e o outro. Ela escutou tudo com a maior atenção e por mais que tentasse esconder a surpresa e a pena de mim, seu olhar me entregou tudo o que sentia.

   - Cassie, eu sinto muito. Nem sei o que dizer. É chocante saber disso. Você quer encontrar Sebastian?

   - Sim, é claro que eu quero. Só que eu precisaria da ajuda da minha mãe para isso, provavelmente. É ela quem o conhece e conhece, provavelmente, a família dele. O que mais me revolta é o fato de eu ter sofrido tanto desde que eu tinha oito anos e eu não precisaria ter passado por isso caso meus avós não se interessassem tanto assim por aquele dinheiro idiota do acordo financeiro que fizeram.

   "Lembra quando eu te contei sobre todas as viagens que fazíamos em família para visitar as casas que temos? Eu sempre me diverti tanto com Jace e com minha mãe. Agora tudo o que me resta são as memórias de algo que nunca deveria ter existido. Tudo o que eu senti ao longo de minha infância, foram, na maioria, memórias criadas pelo meu pai, quando passeávamos juntos. Eu sinto muita raiva por ele ter me dado essas memórias e ao mesmo tempo mentir a minha vida inteira a respeito de algo que é um direito meu saber."

   - Algumas memórias são as piores formas de tortura, Cassie.

   - Já aprendi isso faz tempo.

   Enquanto o silêncio pairava sobre nós, percebi que Rubi iria falar algo mais, mas decidiu deixar para lá.

   - Venha, vamos fazer alguma coisa para esquecer por enquanto disso. Você já comeu hoje?

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