Capítulo 19

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   Assim que acordei, havia uma roda das pessoas que trabalham aqui em casa ao meu redor. Meus olhos se ajustam lentamente à claridade em que me encontro. Estou na sala de televisão, deitada no sofá. Eu não me lembro de ter vindo para cá.

   - O que aconteceu? – Pergunto à Maria, uma pessoa que ajuda a limpar minha casa.

   - Você desmaiou, Cassie. Estava ligando para sua mãe e carregando um papel na mão. A tela do seu celular quebrou um pouco quando você apagou, mas não se preocupe com ela. Já avisamos a sua mãe do incidente e ela já está vindo para cá ver como você está.

   Assim que terminei de ouvi-la, me lembrei do porquê que eu me estressei a ponto de desmaiar. Minha vida está um tanto confusa. A Linda, sendo minha única fonte de conforto, se intrometeu no pequeno bolo de pessoas ao meu redor, reunidas, e veio me dar uma lambida no rosto. Um sorriso encontrou um lugar no meu rosto mesmo após ele estar cheio de baba de cachorro. A Linda é meu porto seguro.

   Aaron que cuida do jardim, surgiu com um copo quase transbordando de água. Eu o peguei da mão dele e engoli até a última gota. Além disso, ele tirou do bolso do avental de tecido dele, o saleiro aqui de casa.

   - Coloque um pouco de sal embaixo de sua língua. Isso vai aumentar sua pressão. – Com isso, Aaron pegou minha mão e a estendeu até a altura do seu estômago. Enquanto abria o pote de sal para despejar um pouco na minha palma, percebi que seu aventar verde estava todo manchado de terra. Não sei se colocar um saleiro dentro do bolso daquele avental dele foi uma solução muito higiênica, porém caso tenha um pouco de terra junto ao sal, isso não vai me fazer mal.

   Trouxe o pequeníssimo monte de sal da minha boca e tentei mirar para joga-lo debaixo da minha língua. O gosto não era dos melhores, só que sei que vai me ajudar.

   Passados mais ou menos quinze minutos, minha mãe entrou pela porta da frente de casa, um tanto esbaforida, com a bolsa de ombro quase caindo. Ela tentou correr com o salto que estava calçando nos pés quando me viu, apesar de sua tentativa não ter dado muito certo, tanto que quase escorregou.

   - Cassie, o que aconteceu? Venha, acho melhor te levar para o hospital. Só vou pegar seus documentos e já vamos sair.

   - Não se preocupe com isso, mãe. Eu estou bem agora. Não desmaiei por causa de nenhuma doença, disso eu tenho certeza. Aliás quer saber? Eu desmaiei por um motivo desconhecido por mim, no entanto nada desconhecido por você. – Minha raiva tinha voltado com toda a força desde que a vi. Eu havia me acalmado desde o momento que acordei e fiquei sentada esperando Karen voltar para casa. Todas as pessoas que trabalham aqui em casa já voltaram a seus respectivos cargos, por insistência minha, apesar de terem falado para ao menos uma pessoa me fazer companhia. – Eu não quis te falar isso ontem para não te preocupar com nada, só que ao longo de quinze anos você parece ter feito a mesma coisa comigo e por causas nada óbvias. Não te custava nada me contar a verdade. – O olhar dela era de extrema preocupação e muita confusão por trás daqueles olhos verdes que me diziam que ela sabia que algo estava muito errado.

   - Eu perdi minha identidade no aeroporto de Dubai e como não queria que você se desesperasse ontem assim que soubesse para pedir uma nova, resolvi guardar esse meu problema para mim mesma e iria te contar hoje. Pesquisei do que precisaria para pedir a segunda via da minha identidade e quando achei minha certidão de nascimento, vi que o nome do meu pai não é Jace. O que está acontecendo? Que porcaria é essa que está escrita ali?

   Ela ficou me olhando com um olhar de desespero e pânico ao mesmo tempo. Seu rosto se tornou pálido. Mais branco que papel. Com os olhos arregalados e a boca entreaberta, se sentou no sofá em uma posição que me indicou o desconforto que sentia naquele momento. Após hesitar mais do que deveria, finalmente abriu a boca para falar.

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