A História de uma Vida

Capítulo 31

   A sala de jantar ficou muda. A minha avó olhando ainda para o meu pai. Parecia que eles estavam se comunicando com o olhar. Por mais que eu me sentisse culpada por não trancar a porta, não conseguia entender como alguém entrou aqui com o mundo de seguranças da casa. Meu pai e meu avós não exibiam uma expressão de medo ou preocupação, apenas uma surpresa muito não esperada.

Uns dez segundos de tensão se passaram e o barulho de um solado pesado com um passo determinado se aproximava cada vez mais durante esse tempo. Minha preocupação não parava de crescer e eu não sabia o que fazer.

Virei-me para a porta de entrada do ambiente em que estávamos e vi um jovem de cabelo castanho e uma pele um pouco bronzeada entrar pela porta.

- Austin? O que você está fazendo aqui? Pensei que fosse se encontrar com os seus amigos. – Meu pai disse.

- Eu estava lá. Resolvi dar uma passada aqui e conhecer a sua outra filha.

Como assim outra filha?

- Ouvi dizer que você é a favorita entre nós dois. – O garoto falou dirigindo seu olhar para mim.

- Como assim entre nós dois? Você também é filho dele?

- Deixe-me apresentar-me formalmente. – Chegando mais perto de mim, ele estendeu sua mão para me cumprimentar. Não havia um espaço em seus braços e em suas mãos que não fossem cobertos por tatuagens. Todas elas pretas. – Sou Austin Woomnli Limollsi, seu irmão. Nosso querido pai ou queridos avós não te contaram que Sebastian teve um outro filho antes de você?

Havia uma ironia implícita em sua voz.

- Não. Ninguém me falou nada. – Virei-me para minha mãe. – Você sabia disso?

- Não, Cassie.

- Ahh, seu nome é Cassie.

- Desculpa se eu não me apresentei do jeito que você gostaria. – Falei com o mesmo tom de sarcasmo que ele usou. – Cassie Lavoirose Smith. Prazer em conhecê-lo. – Apertei sua mão, que estava morna.

O garoto era cheio de tatuagens que iam desde as mãos, entrando pela manga de sua camiseta, com dois brincos redondos pretos em cada uma de suas orelhas, além de um piercing no lado esquerdo lábio e outro em sua sobrancelha direita. Não fui muito com a cara do meu irmão. Ele me parece ser grosso demais.

Ele não comentou nada em relação à minha atitude, apenas me deu um sorriso pretensioso, depois de me examinar de cima a baixo.

- Austin, mude esse seu comportamento. Ah, por favor, eu não preciso ficar aguentando seu mau-humor usual quando o dia é tão importante assim. Finalmente você está conhecendo a sua irmã e eu, finalmente, consigo ver os meus dois filhos juntos. Caso não tenha percebido, estamos no meio do almoço, caso queira se juntar a nós, fique à vontade.

- Sempre muito amável comigo. – Ele cochichou, com sarcasmo, em meu ouvido. Em seguida, virando-se de um jeito lento para ir até onde eu acho que fica a cozinha.

- Me desculpem por isso. – Sebastian falou quando Austin desapareceu. – Não sabia que ele iria vir. Tinha o convidado e ele nem quis me ouvir. Pelo jeito, mudou de opinião. Ele é tão imprevisível.

Todos nós estávamos desconfortáveis, remexendo-nos na cadeira de modo sutil para não piorar o clima tenso do ambiente.

- Já que o convite me foi feito de forma muito calorosa, vou me juntar à vocês.

Austin falou, assim que voltou com um prato, um garfo e uma faca da cozinha. Sentou-se na minha frente e começou a se servir.

- Austin, faz tempo que eu não te vejo. Me conte as novidades. – Minha avó falou tentando melhorar o clima, o que não ajudou muito já que meu irmão não estava em um modo muito festivo.