Capítulo 25

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   Sabe aquelas horas em que o tempo para e seu cérebro, por mais que queira processar o que está acontecendo, não consegue, porque o choque é apenas muito grande?

   Pois é. Eu estou assim agora.

   - Eles são os meus avós biológicos?

   - Sim.

   Estávamos há uns dez metros de distância da entrada da festa. Pessoas iam e voltavam, passando pela nossa frente. Eu e minha mãe, paradas lado a lado, apenas quietas e observando meus avós terem a mesma reação que nós estamos tendo.

   Não acredito que isso está acontecendo. Eles estão tão chocados quanto a gente, isso eu posso perceber. Cada segundo que se passa, é uma memória fotográfica a mais dentro de minha mente.

   Karen começou a dar passos lentos em direção aos pais de Sebastian. Eu a segui. Meu coração quase saía da minha caixa torácica. Juro que conseguia ouvir cada batimento cardíaco meu. O sangue passando pelos meus ouvidos, criou uma pressão que abafou o som ao meu redor. Minhas mãos começaram a ficar vermelhas e inchadas, doloridas até, graças à minha pressão sanguínea. Com minhas pernas fracas faziam meus passos precisar de uma atenção extra para eu não cair de joelhos no chão.

   Aproximando-nos de meus avós, consegui ver que seus olhos não conseguiam se decidir se iriam se fixar em mim ou na minha mãe. Ambos boquiabertos e com olhos arregalados. Minha avó era linda. Tinha um cabelo curto, loiro com uma pele clara e pelo que consegui ver, olhos azuis iguais aos meus. Meu avô tinha um cabelo grisalho, com topete e uma pele bronzeada. Olhos azuis também.

   - Karen? – Minha avó perguntou.

   - Olá, Magritte. Olá, Khomeini. Sim, sou eu, a Karen. Eu nem sei o que dizer. Faz tanto tempo. – Agora não sei se minha mãe era a mais nervosa aqui deste recinto. Parece que eu, ela e meus avós estamos em uma competição de nervosismo.

   - Karen, minha filha. Como você está? – Khomeini perguntou. – Nós tentamos entrar no seu evento, mas o segurança não nos deixou.

   - Não, por favor, entrem. Vocês são mais que convidados. São os pais que eu nunca tive.

   Assim que o segurança tirou uma faixa aveludada vermelha, impedindo a entrada, eles entraram e vi que os olhos de Magritte estava cheio de lágrimas, assim como a voz da minha mãe entregava sua vontade de chorar. Eu permaneci um pouco atrás de minha mãe. Eu não me senti confortável com a situação e eles não me conheciam ainda. Seria estranho tentar ficar na frente de Karen, aparecendo mais que ela e ainda matar meus avós de um ataque cardíaco por saberem que a neta está crescida. Aposto que eles nem sabem se minha mãe me teve ou não.

   Karen, Magritte e Khomeini correram para um abraço. Os três começaram a chorar e eu fiquei parada, sem saber o que fazer. O abraço durou uns belos trinta segundos.

    - Por favor, conheçam a neta de vocês, Cassie. – Minha mãe falou ainda tirando o braço do ombro da minha avó, virando-se para mim.

   - Oi. – Foi o que eu disse, meio sem jeito. O que se fala para os seus avós que depois de dezesseis anos você os vê pela primeira vez?

   - Meu Deus. – Magritte veio com os braços abertos para me acolher em um abraço. Acho que ela também não sabia o que falar.

   Assim que seus braços me envolveram em um abraço apertado, eu olhei por cima do ombro dela para o meu avô, que estava parado, em choque, me olhando. Ele começou a vir em nossa direção e também me deu um abraço, que acabou ficando parecido com o abraço deles na minha mãe. Eu os abracei o mais forte que consegui.

   Karen ficou uns passos atrás de meus avós, que ainda estavam me abraçando, limpando suas lágrimas com as costas de suas mãos. Não percebi que estava chorando até olhar para ela.

   - Esperamos tanto tempo para te conhecer. Mais que um coração partido é capaz de aguentar. – Minha avó cochichou em meu ouvido.

   Ela tinha um cheiro maravilhoso de um perfume cítrico. Ambos tinham o abraço mais acolhedor do mundo inteiro. Eu os amava antes de saber que existiam e nem sabia disso.

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