Capítulo 11

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   Não faço ideia de quem seja este livro, mas ele pertence a alguém que mora ou morou aqui. Não tem sinais de ter sido comprado em algum tipo de sebo, por não ter cola da etiqueta do preço. Por mais que eu queira descobrir de quem é esse livro, não tenho informações suficientes para isso. Assim que dei meu primeiro passo para sair das prateleiras que estavam do lado direito da estufa e ir para o lado esquerdo dela, ouvi alguém entrar no recinto. Por sorte a pessoa que entrou aqui, se dirigiu para as prateleiras à esquerda da porta de entrada. Com isso, fui sorrateiramente em direção à saída. Tirei minha bota para ela parar de bater nos ladrilhos do chão, cheguei ao fim do corredor em que estava, passei pelo corredor de rosas e saí pela porta, despercebida. Assim que comecei a descer as escadas, minha adrenalina aumentou ainda mais. Por mais que eu soubesse que era impossível de se ouvir os meus passos ali, o medo começou a me dominar quando me dei conta de que caso a porta no topo das escadas fosse aberta, eu seria pega. Não fiz nada de errado, mas mesmo assim, eu deveria estar na festa no meio daquele bando de mesquinhos.

   Chegando ao corredor, fechei a porta da escada e fui em direção a festa, de novo. Garçons passavam por entre as pessoas para oferecer-lhes bebidas e aperitivos. Assim que um garçom passou por mim, peguei da bandeja dele um copo de água com gás. Continuei caminhando por entre os convidados. Assim que vi Liesl andando na minha direção, fingi que não a vi e fugi para outro canto. Como eu tenho muita sorte nesta vida, ela deu um jeito de me alcançar. Ao sentir a mão dela encostando no meu ombro, eu não tive outra opção, se não, virar.

   - Cassie, minha linda, quero que conheça uns amigos muito próximos meus e de Jace. – Disse com um sorriso que por mais perfeito que fosse, eu conseguia saber que escondia seus sentimentos em relação à mim.

   Ainda com a mão no meu ombro, que deslizou para o meio das minhas costas, meio que me empurrando, caminhamos até onde a senhorita Liesl desejava que eu fosse. Quando chegamos ao grupinho, que percebi que era o mesmo da mulher que me empurrou corredor adentro, esbocei um sorriso falso e os cumprimentei. Todas as mulheres daqui pareciam socialites, não muito diferente física e socialmente de Liesl. Assim como todos os homens aqui pareciam modelos da Calvin Klein ou da Abercrombie&Fitch. Pessoas perfeitas era a definição que melhor se encaixava na situação, com exceção da mulher que não sabe dar risada com polidez. Mais tarde descobri que o nome dela é Kim.

   Enquanto o papo fútil se prolongava, meu copo com água com gás estava vazio. Minha garganta estava seca, provavelmente por causa do tanto de doces que eu comi antes de entrar na estufa. Assim que um outro garçom se aproximou de nós, peguei o primeiro copo que vi na bandeja dele e engoli metade da água com limão que ele continha de uma vez. Senti uma queimação na garganta que me fez me engasgar. Cheirei o líquido do copo e senti um cheiro extremamente forte de álcool. 

   Vodka com limão. 

   Por mais que se parecesse com uma limonada, eu acabei de tomar meio copo de vodka com limão sem querer.

   Ops...

   Quando o pessoal da roda em que eu estava inserida percebeu que eu tossi muito mais que o normal, eles pararam de conversar e olharam para mim. Assim que viram o copo na minha mão, um dos homens ali apenas me deu um sorriso e o tirou do meu alcance.

   - Sugiro que não tome muito mais disso. Não sei se vai te fazer muito bem. – Ele me falou isso como se estivesse falando com alguma criancinha de dois anos de idade. O tom dele era sério e um tanto bravo. Isso não poderia me deixar mais irritada.

   - Como eu posso adivinhar que isso era vodka? – Falei. – Que tipo de pessoa pede um copo inteiro de vodka? Pensei que fosse limonada. É claro que eu sei que isso não vai me fazer muito bem. Agora com licença, vou pegar alguma comida antes que eu comece a passar mal.

   Com isso, saí dali e fui pegar mais comidas. Não tinha muita coisa além de uns docinhos e outros petiscos estranhos. Resolvi ir com o que eu já conhecia, que eram os doces e comecei a andar em direção ao meu quarto. Para mim já chega. Esta noite é só a primeira em que estou oficialmente nesse maldito apartamento e não pude aproveitar muito. Só fiz umas compras e mais nada. Essa festa foi uma droga e ainda não conheci nada da cidade. Apesar de que o passeio de carro na Bugatti, foi mais do que incrível. Não tem preço que pague a diversão daquele momento.

   Nossa, nunca percebi o quão difícil que é subir uma escada. Minhas pernas estão um tanto fracas e eu nem cheguei ainda na metade dos degraus. Com mais um pouco de esforço eu consigo chegar ao andar de cima, onde o piso já é reto. Parece um esforço descomunal para que eu consiga chegar ao último degrau, mas eu consegui. Me sinto uma vitoriosa. Minhas pernas estão mais fracas do que antes. A cada passo que eu dou, parece que elas irão me trair e eu vou cair no chão. Eu só preciso agora andar em linha reta até o meu quarto. O que parece ser uma tarefa mais difícil do que a de subir a escada. Minha cabeça parece que está tendo pensamentos próprios, porque eu não consigo controlar para que direção eu me dirijo. A cada curva que eu tento fazer para acompanhar o projeto de arquitetura desse corredor, meus pés me levam para o sentido contrário da curva que eu deveria fazer. Não acho que exista coisa mais engraçada neste mundo. Minhas bochechas estão doendo de tanto eu rir. A cada vez que penso em parar, só aumenta minha vontade. Eu pareço uma pessoa drogada ou viciada em bebidas alcoólicas quando eu falo assim. Meu riso só aumentou depois desse pensamento. Estou quase chegando ao meu quarto. Minha bexiga está explodindo com vontade de fazer xixi. Pego na maçaneta da porta e a giro. Minhas mãos estão moles. Minha bochecha dolorida. Começo a dar mais risada ainda por não conseguir abrir a porta. Com um pouco mais de esforço, a maçaneta girou e a porta se abriu.

   Dei um chute na porta com o meu pé já que eu não conseguiria fechar a porta de um jeito educado e civilizado. Assim que o fiz – e quase caí por causa disso – corri para o banheiro para urinar. Quem é que fala urinar nesses dias?

   Mais risadas.

   Assim que me acalmei e consegui fazer xixi, lavei minha mão e me olhei no espelho. Meu rosto está muito vermelho. Meu rímel borrado por causa das lágrimas que escorreram por causa da minha risada e meus olhos um tanto estranhos. Não estão nem muito fechados nem muito abertos. Eu bem que poderia tirar essa maquiagem, mas não estou a fim.

   Não quero que a maquiagem que eu estou usando determine o que eu devo fazer. Se eu começar a removê-la, ela vai estar mandando na minha vida por me dizer que eu devo pegar o demaquilante e tirá-la. Isso não é justo. Só por teimosia contra a ação imperativa da maquiagem, eu não vou tirar agora.

   O que eu estou falando? Não entendo nada dos meus pensamentos, mas só sei que são engraçados.

   Ainda dando risada, saio do banheiro com minhas pernas mais bambas que nunca e me jogo na cama. Não me dou o trabalho de entrar para baixo das cobertas pelo mesmo motivo que não tirei a maquiagem: o frio não vai determinar minhas ações.

   Meus olhos estão cada vez mais pesados e por mais que eu tenha comido uns doces, meu estômago não para mais de queimar. Nunca mais vou tomar um gole de nada de bebida.

   Não antes de dormir.

   Enquanto ainda tento me concentrar nos meus pensamentos, meus olhos por estarem pesados demais para se manterem abertos, se fecham. Meus pensamentos embriagados cessaram.

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