Capítulo 14

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O almoço ia atrasar por minha causa. Eu, aparentemente, tinha desmaiado ou algo parecido. Eu tinha era entrado em choque, minha cabeça tinha viajado e eu tinha certeza que dessa vez estava louca. Em algum lugar no mundo, eu ouvi a médica falando sobre os bebês, mas eu parei na informação principal. Ela tinha mesmo falado trigêmeos? Três? Gêmeos? Três crianças? Na minha barriga? Sessenta dedos? Doze membros inferiores? Três cabeças para parir? Só podia ser brincadeira, uma piada e das piores! Em que barriga essas crianças vão ficar? Porque na minha não cabe. Mal cabia uma, duas já seria um sacrifício, três não tem chances. E aquela história de que o meu corpo sabia o limite? Porque eu tenho certeza que não vai dar certo. Eu não vou conseguir gerar essas crianças e muito menos parir.

— Você tem certeza que está se sentindo bem? – A médica me perguntou quando voltou para me ver na enfermaria. Eles tinham me colocado deitada em uma maca mais confortável, tinha algum tipo de bip me monitorando e uma agulha no meu braço com soro fisiológico depois do meu mal estar. A notícia ruim e o calor tinham me derrubado. Por causa do que aconteceu – o desmaio e os trigêmeos –, eu não estava mais tão autorizada a entrar na piscina durante o almoço. O que aumentava a minha tristeza.

— Eu... Não sei. – Suspirei e me acomodei de uma forma melhor. Não parecia mais ser tão real assim. Eu teria assimilado melhor se ela dissesse que era um só ou gêmeos, mas três era demais. — Fisicamente, eu estou bem, mas eu estou apavorada em ter os trigêmeos. – Eu disse. Aproveitando que agora estava apenas a médica e eu. — Eu... Eu não queria ter esse monte.

— Rose. – A médica segurou minha mão para me confortar ou interromper o início do meu surto. Ela tinha acabado de me examinar de novo. Se continuássemos por esse caminho, eu não duvido que ela vá pedir para eu passar a noite por ali hoje. — Você lembra que eu disse que seu corpo conhece seus limites? – A mulher me esperou responder. Agora, eu não acho que ele saiba mais. Trigêmeos? Sério?

— Eu não vou conseguir gerar essas crianças, doutora. Eles... Eles não cabem aqui. – Apontei para a minha barriga. Agora fazia sentido que eu tivesse uma protuberância maior do que esperava para tão pouco tempo. Não era remédio, não era inchaço, muito menos comida, era falta de espaço e gente demais.

— Você consegue, Rose. – A médica apertou a minha mão de novo na tentativa de me passar alguma confiança que eu não sentia. — E estamos aqui para te ajudar a passar por isso. Vamos nos organizar, criar um plano de parto que seja bom para você e para as crianças. Agora não é hora de sofrer. Você tem se alimentado direito?

— Eu tento, mas agora com três... – Suspirei de novo. Não acho que seria o suficiente.

— Vamos seguir o plano que eu já tinha te passado, você se lembra? Ainda tem o papel que te dei? – O tal plano que ela e os Belikov criaram até poder começar o pré-natal com um obstetra. Também da escolha do casal. Eu ganhei pais com esse procedimento todo.

— Sim, eu tenho. – Meu Deus, eu estava ferrada.

— Você vai continuar com o remédio até a nossa próxima consulta, ok? – A mulher disse e me olhou cautelosamente. Ela provavelmente deveria pensar que com o meu choque, eu ainda não estava entendendo nada. Eu queria mesmo que fosse um sonho, mas não era. — Como múltiplos é uma gravidez de risco, eu espero te ver em duas semanas, mas, Rose, se acontecer qualquer coisa durante esse tempo, não hesite em ir ao hospital e me ligar.

— Tá bom. – Eu seria uma péssima pessoa agora em dizer que eu não estava feliz com três pessoas crescendo na minha barriga? O tempo de desistir tinha passado. Agora eu só tinha arrependimento. Trigêmeos devem nascer com umas trinta e duas semanas, apenas oito meses. Acho que eu daria conta. Precisava dar conta.

Per te, mi amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora