Capítulo 22

273 32 209
                                    

Aviso de conteúdo sensível

Trigger warning


Dimitri Belikov

A foto de ontem parecia muito com a foto da semana anterior. Rose estava fazendo uma atualização semanal da gestação, especificamente do desenvolvimento da sua barriga. Sexta-feira tinha se tornado o melhor dia da semana para mim, porque era nesse dia que ela enviava uma nova foto. Era sempre por volta da meia noite. Então eu nunca conseguia dormir antes disso e nem meia hora depois. Primeiro, porque eu passava a metade do tempo admirando a foto e a outra metade, perguntando como ela estava, se precisava de alguma coisa, se tinha algo que eu pudesse fazer por ela e para ajudar.

Essa era a segunda sexta-feira desde que eu estivera com ela e assumo que estava ansioso para encontrá-la novamente. Eu tinha assistido a minha irmã tocar a barriga dela e também assumo que eu tive um pouco de inveja. Era o meu filho e o maior contato que tivemos juntos foi quando ela dormiu nos meus braços. Aquele dia... É parte dos meus sonhos e pesadelos. Sonho porque eu passei a noite toda acariciando seus cabelos, torcendo para que ela pudesse dormir em paz. Desejei a todo segundo tocar sua barriga, mas seria invasivo demais fazê-lo com ela dormindo. Eu acho que eu precisava de uma autorização para algo além daquele escovar suave nos cabelos dela.

Pesadelo, era óbvio... Quando Ivan me ligara dizendo que tinha algo de errado com a Rose, eu nem sabia direito o que pensar, mas um medo comum surgiu de: ela desistiu e vai levar o meu filho embora. Eu não sabia por que ela tinha ido até o escritório do meu advogado, esse seria o pensamento mais óbvio que eu poderia ter. Então eu corri até o escritório do Ivan e ele me mostrara o CD que Rose deixara. Eu tinha ficado preso em uma maldita reunião que devia ter acabado quase uma hora antes da consulta e não consegui acompanhá-la. Quando assistimos o DVD, eu tinha entendido e também me arrependi de não ter, simplesmente, levantado quando chegou a hora e ido encontrá-la na clínica. Achei que seria mais um exame padrão, mas então a doutora Olendzki confirmou o que eu já entendera.

— Nós perdemos mais um bebê. – Eu dissera ao Ivan depois de desligar o telefone. Eu estava em choque. Como tínhamos passado de trigêmeos para um só?

— Puta que pariu! Eu devia ter desconfiado! – Ivan esfregou o rosto, também surpreso. — Sério, Dimka, ela não estava no normal dela. Sei que a Rose pode ser séria, irritada e tudo mais. Hoje... Sei lá. Ela estava ofendida por eu ter pesquisado mais sobre a dívida dela e muito distraída.

— O que você descobriu sobre a dívida dela? – Perguntei. Lissa e a minha irmã tinham falado que a mulher trabalhava muito por causa dessa tal dívida, mas nunca me falaram sobre o que e nem quanto era.

— Tudo o que eu consegui descobrir é que ela tem uma dívida hospitalar altíssima. Não consegui ter acesso ao prontuário dela ou ao que pode ter acontecido. Mas não acho que seja tão grave ou a clínica não permitiria que ela seguisse sendo a barriga de aluguel de vocês.

— Altíssima quanto? – Talvez fosse por isso que Rose me perguntara sobre o seguro saúde na primeira vez que conversáramos. Ela também perguntou sobre ter que pagar pelos exames. Talvez ela estivesse tentando não aumentar essa dívida.

— Se ela não conseguir se organizar para pagar logo, eu acho que até o ano que vem, vai estar quase em cem mil dólares. – Ivan vasculhou algumas folhas que ele já tinha guardado. — Aqui... Como o seguro saúde cobriu as últimas despesas médicas dela, ela está devendo oitenta e nove mil, setecentos e mais uns quebrados...

Per te, mi amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora