Capítulo 23

274 31 162
                                    

Eu acho que estou enlouquecendo, mas para a minha defesa, tenho uma desculpa.

Hoje era o décimo dia em que eu dormira abraçada com o delicioso, fofo, quente e perfumado pullover do Dimitri. Não tinha mais o cheiro dele, mas com certeza, eu conseguia senti-lo mais perto de mim. Digo, do bebê. Seria bom para o bebê quando ele nascer ter memórias do cheiro do seu pai. Ao menos, de um dos pais ele teria que encontrar algum conforto e reconhecimento e acho que o cheiro dele pode ser uma ajuda. Eu tinha colocado áudios que a Tasha e o Dimitri me mandaram para o bebê ouvir.

Eu até tinha considerado enfiar o fone de ouvido no meu umbigo. Sei lá... Vai que... Eu não tenho muita certeza se ele poderia ouvir com a escola de samba no meu peito e o borboletário agitado na minha barriga com a voz rouca do Dimitri. Era o mesmo áudio dele dizendo um "oi, filho, como foi o seu dia? Você está bem? Fez a Rose passar por algum sufoco hoje? Estou ansioso para te ver." Não devia ter nem quinze segundos, mas que me deixava abalada por horas. Eu já não sabia dizer se eu colocava para tocar por ele ou por mim mesma.

Eu estava definitivamente enlouquecendo. Tudo o que envolvia o cara me deixava angustiada. Era errado, muito errado, mas eu não estava conseguindo evitar. Eu tocava aquele áudio dia e noite para o bebê – tocava o da Tasha também, mas ele era tão longo e cansativo que eu não me dei o trabalho de decorar, acho que ela tinha lido o capítulo de um livro ou ele inteiro de uma vez só – quando me preparava para dormir e passava um hidratante na minha barriga crescente. Depois que esse bebê nascer, eu não queria que a minha barriga remanescente tivesse muita história para contar.

Eu não podia dizer que estava feliz em estar grávida, na verdade, eu ainda enjoava e vomitava mais do que eu desejava, mas eu também não estava desesperada para aquilo acabar. Eu me sentia... Bem com a companhia do bebê. Com os mimos de chocolate que a Vika me trazia aos sábados, com as mensagens esporádicas do Dimitri. Estava longe de ser o pesadelo que eu tinha certeza que seria. Tinham seus momentos, aspectos ruins e péssimos, mas eu estava conseguindo lidar aos poucos.

Falando em pesadelos, eu vinha dormindo muito mal. Não acordava mais de hora em hora para ir ao banheiro e não estava ainda sem posição para dormir, mas, mesmo que eu estivesse muito cansada, eu simplesmente não conseguia parar de pensar o suficiente para dormir. Eu estava preocupada e essa semana, eu estava mal o suficiente para ter pedido à doutora Olendzki para adiar a consulta. O bebê estava bem no último ultrassom, então ela me deixou voltar na semana seguinte. Se eu sentisse algo de diferente, era para correr para o hospital mais próximo.

A minha sorte era que das duas últimas vezes que a Vika viera, ela esquecera de levar o casaco do Dimitri embora. Eu odiava pensar que eu só vinha dormindo melhor porque eu dormia agarrada ao tecido delicado e gostoso. Não que eu estivesse desejando dormir com o Dimitri, mas eu dormira tão bem aquela noite em seus braços que eu me perguntei se dormir com uma "parte" dele em meus braços além da minha barriga, se teria o mesmo efeito. Não chegava nem perto, mas era bom. Eu até comecei a pensar em o que eu poderia fazer para conseguir um novo pullover com o seu cheiro recarregado nele.

Era exatamente o que eu estava fazendo agora. O casaco estava deitado sobre o meu peito, cobrindo desde o meu pescoço até a minha barriga. Era como me sentir sendo abraçada e eu assumo que eu precisava disso hoje. Tínhamos atingido as quinze semanas de gravidez. Um pensamento que me deixou sem fôlego e eu me abracei à blusa, imaginando um abraço apertado. Isso era realmente algo que eu queria e precisava hoje. Eu tinha esperado esse abraço acontecer há alguns dias atrás, mas eu entendia que a esposa dele ficaria enciumada e acharia inapropriado, mas tinha uma parte de mim, a que eu culpava as vontades do bebê, que estava quase pintando um cartaz de "abraços gratis" para a próxima visita aos Belikov.

Per te, mi amoreOnde histórias criam vida. Descubra agora