JJ Maybank
Acordei no sofá da casa de Jhon B, uma dor de cabeça tremenda, como sempre. Me levantei e abri a geladeira a procura de água, enchi um copo e tomei um comprimido para dor de cabeça. Procurei meu amigo pela casa toda e não o encontrei, foi quando o vi voltando do mar com alguns peixes no cesto.
- Foi pescar e não me acordou? - Disse ainda de longe.
- Você tava desmaiado. - Ele me olhou sério.
- Fiz alguma coisa ontem a noite? - É claro que fiz.
- Cara, o que você tem contra a Gaia?
- Não tenho nada contra ela, só receio.
- E precisava tratar ela daquela maneira? - Jhon B entrou carregando o cesto com peixes e eu o segui para levar o esculacho merecido.
- Eu só bebi demais. - Me sentei e baixei a cabeça enquanto ele tratava os peixes.
- Ela nunca te fez nada, tinha acabado de chegar na cidade e estava super feliz em te conhecer, em estar de volta. - Ele disse sem me olhar. - Mas você é o JJ não é? Não pode ficar sem fazer merda.
- Eu só não quero que vocês fiquem cheios de esperança acreditando que ela vai ficar aqui, nenhum Kook fica aqui. Eles tiram férias.
- Você não a conhece, cara. - Ele se virou. - Nem deu essa chance.
- Eu sou culpado por querer defender meus amigos?
- Eu devia ter deixado o Rafe quebrar a sua cara.
- Olha só quem é louco por ela, o Rafe! - Tentei fortalecer meu argumento. - É uma prova.
- Prova de quê, seu idiota? - Ele soltou a faca que estava usando para tratar o peixe e se virou para mim.
- De que ela é igual a ele.
- Você percebe que já tem conclusões tomadas sobre uma menina que você viu pela primeira vez na vida ontem? - Ele me olhava incrédulo. - Nós a amamos, por quê a conhecemos.
Nessa hora eu parei pra pensar e percebi que fui um idiota completo. Eu sempre sou idiota, mas não a esse ponto. Sou acostumado com abandonos, mesmo morando com meu pai, nunca tive nenhum cuidado vindo dele, aprendi a me virar sozinho desde que comecei a pensar. Minha mãe abandonou a ilha por que queria um futuro melhor e deixou aqui seu filho, eu mal tenho lembranças dela, mas dói saber que fui abandonado. Me lembrei do que Gaia me falou ontem quando eu finalmente consegui tirar ela do sério, sobre eu ter uma vida de merda, mas mesmo assim ter meus amigos, uma família que me escolheu e pela qual sou grato até hoje, porque sem eles eu não teria o único fio de sanidade que ainda me resta.
Eu tive medo desde o primeiro momento em que ouvi sobre a chegada dela, vi meus amigos felizes e com os olhos brilhando de ansiedade, até o Pope, que não costuma demonstrar nada, quase pulou em cima da Kiara quando ela deu a notícia. Eu vi o entusiasmo que eu sentia quando meu aniversário chegava e eu, por algum motivo, pensava que as coisas iam ser diferentes e que meu pai iria se lembrar de voltar pra casa nesse dia. Mas ele nunca lembrou e nunca voltou para casa quando deveria. Eu tinha medo que essa expectativa pudesse destruir os meus amigos do mesmo jeito que me destruiu quando percebi minha realidade, não queria que eles ficassem fodidos como eu fiquei depois que ela percebesse que a vida em Outher Banks é um lixo e decidisse voltar para a vida dela.
Mas eu não podia ter agido do jeito que agi, não a conheço, não sei sua história e não posso basear a história de vida das pessoas na minha. Eu vi Rafe Cameron sentar na mesma mesa que nós uma noite inteira somente por causa daquela garota, ele foi sociável na medida do possível e se comportou como um ser humano normal, tudo isso por causa dela. O que me assustou um pouco por que o Rafe que vi ontem a noite não tem nada a ver com a realidade e talvez ela possa estar sendo enganada pela imagem que tem dele na infância, mas isso não é da minha conta. Todos ficaram imensamente felizes com a volta dela e eu devia ter me permitido conhecê-la, mesmo que depois ela quebre o coração de todos nós.
- Vou me desculpar com ela. - Falei pra Jhon B.
- É o mínimo que se espera. - Ele pegou a faca e voltou a tratar os peixes.
- Acha que as meninas vão ficar com raiva de mim?
- Disso eu tenho certeza. - Ele deu uma risada anasalada. - Mas eu vou ganhar a aposta, Rafe ainda é louco pela Gaia.
- Ela é muito bonita. - Falei me lembrando do conjunto perfeito que ela é.
- Eu te falei.
- Por isso Rafe já chegou marcando território.
- Ele sempre foi apaixonado por ela, dava pra ver nas vezes que ficávamos todos juntos. Ele a idolatrava, olhava para ela como se visse o teto da Capela Sistina. - Jhon B sorriu.
- É um pouco assustador ele ter guardado esse sentimento por tanto anos. - Me incomodei com o fato de Jhon B ter descrito um psicopata.
- Talvez ele não tenha guardado, mas quando viu como ela está, quis marcar território pra você e pro Pope.
- Bom, ele não precisa se preocupar comigo. - Eu ri.
- Talvez não agora. - Percebi Jhon B me olhar de lado.
- Como assim?
- Sarah tinha razão no que disse, quando você a conhecer. Cara, ela faz muito o seu tipo, até nas loucuras e nas merdas que fala, vocês são iguais.
- Polos iguais se repelem.
- Ainda bem que não estamos falando de física. - Ele riu. - Mas espero que ela namore o Rafe antes de namorar você, pra eu ganhar dinheiro.
- Muito engraçadinho, Jhon B. - Me levantei e peguei meu boné. - Preciso ir, vou cortar a grama dos Newton hoje.
- Vai vir aqui mais tarde? Vou fazer uma fogueira.
- Claro, eu trago algumas cervejas.
- Beleza. - Ele acenou. - E JJ. - Me virei para ele. - Tenta ser legal com a Gaia, você vai conviver muito com ela.
- Se ela ficar aqui. - Retruquei e saí.
Eu só iria cortar a grama dos Newton a tarde, mas eu precisava me desculpar com a Gaia. Peguei minha moto e segui pelo caminho que dava na casa dela, talvez estivesse dormindo ainda, mas eu não me importo de esperar, não conseguiria seguir meu dia tranquilo sem falar com ela antes. Males da consciência pesada. Estacionei a moto em frente a casa dela e logo notei que a porta ainda estava fechada, previsível já que ela deve ter voltado muito tarde pra casa depois que saiu com o Rafe. Será mesmo que ela vai namorar com aquele maluco?
Me sentei em uma das cadeiras que ficavam no quintal e me contentei em observar a paisagem enquanto esperava pela bela adormecida. Preciso de uma nota mental que me lembre de nunca mais brigar com as pessoas durante a noite, pra não precisar pedir desculpas no outro dia logo cedo. Devo ter esperado uns quarenta e cinco minutos até que ela abriu a porta com uma cara de sono impressionantemente linda e um blusão masculino que lhe caiu muito bem, o cabelo bagunçado deu um toque sexy que nem todo mundo era capaz de ter.
- Você devia pôr grades. - Eu disse e ela finalmente notou minha presença.