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Acordei um pouco tarde,  voltei de madrugada para casa e estava bem cansada, acho que foi o dia mais longo da minha vida. Tomei um banho gelado para espantar a preguiça, pretendia tomar café da manhã no quintal e depois ir à praia caminhar. Vesti um biquíni confortável e pus uma camisa bem grande por cima, eu sou do tipo de garota que compra camisas masculinas para fazer de pijama e algumas acho tão bonitas que uso normalmente. Fritei alguns ovos e salsichas enquanto a torradeira tostava meus pães, fiz um café bem forte e suco de laranja. Sei que estou sozinha, mas eu como muito de manhã e sempre gostei de fazer mesas bonitas, mesmo que depois eu guarde tudo na geladeira e coma como lanche da tarde. Tirei as torradas, peguei o pote de geleia, organizei tudo nos pratos e fui abrir a porta e as janelas.

- Você devia pôr grades. - Ouvi ele dizer e tomei o maior susto da minha vida.

- Porra JJ, que susto do caralho. - Derrubei as chaves no chão.

- Desculpa, princesa. - Ele se levantou da cadeira e se aproximou enquanto eu pegava as chaves. - Você acorda tarde, tô esperando aqui há quase uma hora.

- E veio aqui fazer o quê? - O olhei com um certo desprezo.

- Me desculpar. - Ele baixou a cabeça e levantou o olhar, parecia um cachorrinho sem dono.

- A bebida entra e a verdade sai. - Larguei a chave na mesinha e entrei pra buscar meu café da manhã.

- Eu estive completamente equivocado sobre você, sinto muito. - Ele continuou parado na soleira da porta, como sempre.

- Tomou café da manhã? - Passei por ele com a jarra de suco. Ele ficou calado, com uma cara de dúvida. - Eu não vou conseguir te desculpar enquanto não comer. - Ele riu. - Toma café comigo.

- Quer ajuda com as coisas?

- Não precisa, senta aí. - Apontei para a mesa e fui buscar o resto das coisas.

- Você come isso tudo de manhã? - Ele se assustou com a quantidade de comida.

- Quer mesmo falar sobre o quanto uma mulher come? - Ele riu e levantou as mãos como sinal de paz.

- Me desculpa mesmo, Gaia. Fui um completo idiota. - JJ suspirou.

- Pensa mesmo tudo aquilo sobre mim?

- Eu pensava. - Ele admitiu. - Mas nem sei de onde tirei tudo aquilo, eu nem te conheço.

- Foi exatamente o que eu pensei. - Suspirei.

- Eu tenho muitas experiências com abandono, fiquei com medo de que você se cansasse daqui e fosse embora, como todos fazem e deixasse meus amigos tristes. - Confesso que achei extremamente fofo.

- Tudo que te falei sobre meus pais é verdade. - Ele me encarou. - Eu nunca tive um pai ou mãe presente, mesmo que ambos estejam vivos e bem.

- Eu sinto muito.

- Não tem problema, eu já me acostumei.

- Não só sobre isso. Muito mais sobre o que falei pra você, fui totalmente injusto.

- Eu aceito as suas desculpas. - Servi suco e torradas pra ele. - Acho que você deve ser um cara legal, já que é amigo da Kiara.

- Obrigada. - Ele deu um gole no suco. - Minha consciência estava me matando.

- Que bom. - Sorri satisfeita.

- Então você é vingativa? - Ele riu.

- Ah, sou. - Assenti freneticamente. - Eu poderia facilmente ter envenenado esse seu suco.

- O quê? - Ele arregalou os olhos.

- Brincadeira. - Comecei a rir. - Aí só tem laranja.

- Gosto da sua risada. - Ele pareceu ter dito automaticamente, por que logo depois pareceu se bater mentalmente.

- Não sei o que dizer da sua, você nunca sorriu pra mim.

- Touché.

- É bom que as coisas corram bem entre nós, pra não atrapalhar nossos amigos.

- Você parece ser alguém impressionante. - Fiquei até surpresa com o que ele disse. - Pelo menos é o que todo mundo diz.

- Cabe a você me conhecer. - Pisquei pra ele.

- É verdade, acho que eu adoraria.

- Acho que eu também.

- Então, quais os planos para o segundo dia no novo lar? - O clima entre nós já estava mais leve.

- Vou caminhar na praia e dar um mergulho daqui a pouco, depois vou para a casa da Kiara.

- Clube das meninas. - Ele riu.

- Pois é. - Concordei.

- Tem planos pra noite? - Por um momento achei que ele ia me chamar pra sair. - Acho que as meninas vão te falar sobre isso, mas, Jhon B vai acender uma fogueira na casa dele. É tipo uma coisa que fazemos quando não temos mais o que fazer.

- Eu me lembro disso. - Sorri. - Essas fogueiras começaram no verão.

- As vezes esqueço que você os conheceu antes de mim. - JJ sorriu. Um rosto lindo e um sorriso encantador.

- Em breve você se acostuma comigo.

- Espero que você fique tempo o bastante pra isso. - Ele me olhou bem sério.

- Eu não vou a lugar algum, JJ. - Por impulso, segurei a mão dele por cima da mesa e ele ficou um tempo encarando nossas mãos em cima da mesa.

- Que bom então. - Ele recolheu a mão. - Preciso ir, tenho que trabalhar.

- Te vejo a noite? - Me levantei ao mesmo tempo que ele.

- Claro. - Ele assentiu. - Posso passar aqui pra te buscar, se você não for com as meninas.

- Seria ótimo.

- Te pego as oito. - Ele piscou e subiu em sua moto. Todo mundo aqui anda de moto? - Até mais.

- Até. - Sorri e ele ligou a moto. - Ei, leva umas torradas pra comer no trabalho. Ele achou a minha reação estranha, mas ficou parado observando o que eu fazia. Pus torradas, ovos e salsichas em uma vasilha e entreguei pra ele.

- Obrigado. - Ele me olhou um pouco aéreo e depois me deu um sorriso.

- Te vejo mais tarde. - Dei um beijo em sua bochecha e não esperei para ver sua reação.

Meu dia não poderia ter começado melhor, sempre fui muito a favor de resolver conflitos o mais rápido possível, embora as vezes esse não seja o melhor caminho, sempre tento tirar essas coisas do meu caminho. Guardei as poucas coisas que haviam sobrado do café da manhã e saí correndo para a praia, precisava desse contato de pés na areia e sal na pele. Caminhei por um bom tempo até me sentir cansada, depois mergulhei e nadei até parar de sentir meus braços, estava com tantas saudades do mar que se morresse afogada ia ficar feliz. Voltei correndo pra casa e me arrumei apressada, logo Kiara iria ligar fula da vida por eu não estar na casa dela ainda.

AYO - JJ MaybankOnde histórias criam vida. Descubra agora