JJ Maybank
Passei em casa para tomar um banho e poder chegar apresentável no trabalho. Meu pai estava bêbado e largado no sofá, entrei e sai como um gato, sem fazer barulho algum. Era deprimente olhar a casa abandonada, comida estragada e móveis quebrados, mas eu nem morava lá, passava a maior parte do tempo na casa de Jhon B, só ia em casa tomar banho ou comer, as vezes pra ver se meu pai estava vivo.
- Jacob! - Meu patrão me recebeu. Ele era muito legal e embora tivesse uma casa enorme e muito dinheiro, me tratava como um filho. Eu gostava dele.
- Só JJ. - Sorri de volta pra ele.
- Jacob é um nome forte, como você.
- JJ é mais descolado.
- Tudo bem. - Ele se rendeu. - Tem limonada e sanduíches na varanda, como sempre.
- Eu trouxe lanche dessa vez. - Mostrei o vasilha com torradas que Gaia me deu.
- Arranjou uma namorada, filho? - Ele sorriu.
- Não senhor, apenas uma amiga que retornou para a cidade.
- Parece uma garota legal.
- Ela é sim. - Me lembrei da manhã de hoje.
Ele se despediu de mim e eu fui fazer meu trabalho, cortar a grama e consertar o motor da bomba do poço. Nada que eu não fizesse em menos de duas horas, comecei com a grama, a propriedade era grande e isso me tomaria muito tempo. Ouvi um assobio vindo de cima e voltei meu olhar para lá, Rafe Cameron me observava da janela de seu quarto de rico. Esqueci que a casa dele era do lado.
- Ei, Pogue! - Ele sorriu.
- O que quer, Cameron?
- Corta direitinho, ta bom? - Ele piscou.
- Pelo menos eu faço as coisas direito. - Pisquei de volta.
- Eu só vou te dar um aviso, palhaço. - Ele me olhou sério. - Fique longe da Gaia, ela não combina com você.
- Está com ciúmes, Rafe? - Brinquei. - São só torradas.
- Se afasta, ou eu mato você. - Ele sorriu.
- Ela anda com os meus amigos e é minha amiga também, vou conviver com ela muito mais vezes do que você. - Ri da cara de idiota dele.
- Não por muito tempo. - Ele me deu um sorriso e eu me assustei. Sempre tive um pé atrás com Rafe, ele me parecia completamente louco e imoral, do tipo de pessoa que faz tudo para conseguir o que quer, tive medo ao perceber que agora o que ele quer é a Gaia, infelizmente meu instinto de proteção idiota não me deixaria esquecer isso, agora era uma ideia na minha cabeça e jamais sairia.
Continuei fazendo meu trabalho quando ouvi um grito vindo da janela dele, uma voz feminina que eu reconheci, Gaia. Quase escalei o muro e pulei na janela dele antes de ver os dois se beijando com ela sentada em cima da escrivaninha, eu sabia que eles tinham uma história prévia, só não sabia que era tanta. Tirei minha atenção da cena e continuei com meu trabalho, não era da minha conta que ela namorasse com ele, mas eu sabia que havia algo de muito errado com Rafe Cameron e eu não tiraria os olhos de cima dele.
Terminei o que precisava fazer o mais rápido que pude e voltei para a casa do Jhon B, eu não havia percebido antes, mas ver aquele cara beijando ela me incomodou. Talvez tenha sido apenas o meu instinto, nunca gostei dele, mas o ver tão perto de alguém importante pra mim me deu um frio na barriga.
- Então, ela tava no quarto do Rafe? - Jhon B perguntou quando voltou da cozinha com meu almoço.
- Sim. - Assenti. - Eu sabia que eles dois eram próximos, mas não imaginei que fosse tanto.
- Nem eu. - Ele riu e se sentou. - Isso parece te incomodar.
- Não sei cara. - Suspirei. - Ver ele tão perto dela me embrulhou o estômago.
- Você ta gostando dela? - Ele falou isso um pouco alto.
- Claro que não seu idiota. - Arregalei os olhos. - Você sabe que sempre achei o Rafe muito estranho.
- Sim, mas se a Gaia quiser ficar com ele, não temos nada a ver com isso.
- Eu sei. - Deixei meus ombros cairem. - Mas parece que ele fez de propósito.
- Como assim? - Ele me olhou com mais atenção.
- Ele havia me provocado pouco tempo antes, quando me viu trabalhando.
- E daí?
- Logo depois ele apareceu beijando a Gaia bem em frente a janela onde sabia que eu estava.
- Ele quer te afastar, acha que você representa um risco.
- Ele é um idiota. - Me recostei na cadeira. - Mandou bem na comida. - Dei mais uma garfada no macarrão.
- To aprendendo. - Ele se gabou.
- Eu trouxe algumas coisas pra abastecer os armários.
- Porque não se muda logo pra cá?
- Tenho medo de deixar de aparecer e encontrar meu pai morto.
- Entendo.
- Tem umas bebidas também, pode colocar na geladeira? - Eu comia a maior parte dos dias na casa do Jhon B, dormia lá, era o primeiro destino que eu tinha em mente quando pensava em casa.
- Beleza. - Ele levantou e entrou na casa. Eu continuei na varanda comendo e tentando tirar a cena daquele cara com as mãos nela. - JJ. - Jhon B gritou.
- O quê? - Olhei para trás e ele vinha andando com a vasilha que pertencia a Gaia nas mãos.
- De onde veio isso? - Ele ria da tampa de ursinhos.
- É da Gaia. - Sorri também e ele ficou confuso. - Eu fui me desculpar com ela de manhã e acabamos tomando café juntos.
- Sério?
- Ela mandou algumas torradas como lanche, pra o trabalho.
- Ela é incrível, não é?
- É sim. - Sorri me lembrando da manhã divertida que tivemos.
- Cara, tem certeza que você não representa um risco ao Rafe? - Ele se sentou novamente e começou a comer as ultimas torradas que sobraram na vasilha.
- Nós nos resolvemos, foi só isso.
- Acredito em você. - Ele me olhou um pouco desconfiado, mas não tocou mais no assunto.
O resto da tarde eu passei fugindo do Jhon B, o olhar dele me fazia pensar sobre as coisas que senti quando tomei café da manhã com ela e sobre o que senti quando a vi beijando Rafe naquela tarde. Me incomodou pra caramba, mas eu não estava entendendo o motivo, até ontem a noite eu não gostava dela, na verdade eu gostava, mas não queria gostar. Então a tratei mal e me arrependi, pedi desculpas e quinze minutos depois eu já olhava para ela como meus amigos olhavam, talvez até um pouco mais. Isso não importava, ela claramente gostava do Rafe e estava tudo bem. Vamos ser amigos, o que é muito mais do que eu esperava.
- Aí cara, preciso ir. - Eu disse a Jhon B depois que o ajudei com a fogueira.
- Ir pra onde, não vai ficar? - Ele estranhou.
- Claro que vou, mas combinei de ir buscar a Gaia.
- Então, não é um risco? - Ele riu.
- Não enche, Jhon B. - Montei na moto e saí em direção a casa dela.
Eu não sou um risco, não é mesmo?