Je te veux.

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Os empregados diziam ter ficado mais felizes durante meus dias na casa. Em uma conversa com um cozinheiro, ele me contou como tudo era escuro e estranho, mas comigo ali andando toda hora ele se sentia mais alegre. Frances também me disse a mesma coisa, ela até falava comigo informalmente às vezes.

Na verdade eu não tinha muitas coisas para fazer, afinal viver sem internet era horrível. Procurei manter minha mente ativa cozinhando, arrumando meu quarto sem a ajuda de empregadas e lendo livros do escritório.

Meu ombro estava muito melhor, mas ainda sentia dor ao levantá-lo. O dono da casa dificilmente ficava lá e quando ia não estava bêbado como me disseram que ele voltava na maioria das vezes.

Recebi a visita de Ada um dia, ela me levou flores e juntas colocamos em um vaso com água bem ao lado da cama. Lizzie também foi lá convidar Thomas para irem juntos escutar o coração do bebê, mas ele não estava em casa, ela não gostou nada de minha presença.

Entediada, encontrei uma vitrola guardada no fundo de um armário da sala de estar e a tirei de lá. Quando a arrumei sobre a mesa e botei um disco de vinil, me senti mais feliz. Eu amava música, viver sem ela era como a morte.

Girava em toda a sala me sentindo em um filme e a saia de meu vestido rodava junto. Era uma linda melodia e dançar era melhor ainda. As grandes janelas, os móveis e o som deram-me mais a sensação de ter entrado num mundo só meu, onde fui a protagonista do meu filme.

Balancei-me mais uma vez sentindo que a música estava no final e girei os calcanhares dando de cara com Thomas me olhando encostado no batente. Parei bruscamente e corri até a vitrola.

— Tem uma música boa no outro lado do disco. Dança comigo? — indagou estendendo a mão.

Virei o disco e deixei a agulha nele, começando uma música lenta.

Receosa, andei até ele e ficamos a alguns metros de distância antes dele pegar minha mão e colocar sua mão vazia em minha cintura. Nos movemos lentamente, como se pela primeira vez em toda sua vida Thomas não tivesse pressa de fazer algo. Seus olhos permaneceram fixos nos meus, embora eu desviasse o olhar envergonhada.

— Não costumo dançar — assumiu ele baixinho.

— Você não costuma fazer muitas coisas consideradas normais.

— Não sou normal há alguns anos.

Giramos mais uma vez, chegando perto de uma das janelas.

— Quero você, Gale.

Sua outra mão deslizou até meu rosto, colocando meu cabelo atrás da orelha, seus dedos acariciando levemente a pele. Desci meu olhar até sua boca, tentando ignorar meu desejo de selar seus lábios.

— E você também me quer — disse Thomas roucamente, de encontro à minha boca.

Havia chances grandes de ser mentira, mas meu coração se iluminava tanto ao ficar ao lado dele, talvez devesse somente ignorar o lado racional e me deixar levar.

Seus lábios roçaram os meus e finalmente decidi curtir tudo ali, já que não sabia quando voltaria para a minha vida normal. Sua boca se abriu sobre a minha, iniciando um beijo. Meus sentidos foram agredidos pela mistura de fumaça de tabaco grudada em sua pele e o cheiro de bom perfume. O beijo calmo me deixou com a sensação de estar nas nuvens.

Sua mão encontrou a minha e ele me levou pelo saguão, escada acima e, finalmente, para o seu quarto.

Na cama, ele se sentou e uma mão no meu quadril me colocou bem em cima dele, em seguida, moveu-se para moldar a parte inferior de um dos meus seios. Seus dedos deslizaram as alças finas do meu vestido até os braços, tendo cuidado com o ombro ferido.

Eu o quis desde o primeiro momento em que meus olhos encontraram os dele no galpão.

E a tarde estava apenas começando para nós dois, sem armas ou assassinatos, somente dois adultos buscando prazer um no outro.

[...]

Foi o fim do pôr do sol, refletindo em minha pele nua, que me arrancou da paz dos braços de Thomas. Eu estava ciente de seu olhar observando-me eu me vestir, mas não me sentia tímida.

— Posso te fazer uma pergunta? — indaguei com coragem extrema.

Ele assentiu levantando-se e começando a se vestir.

— Onde está o seu filho?

Um silêncio se instalou no ar. Ele terminou de fechar a calça e sentou-se novamente na beirada da cama, tirando um cigarro e acendendo o mesmo.

— Em Londres. Como soube disso?

— Me disseram.

— Porcaria de cidade pequena — murmurou e eu sorri.

Escutei um barulho de carro e fui até a janela, dele saiu Arthur.

— Seu irmão chegou.

— Diga a ele que já estou indo.

Ele sabia o quão próximos Arthur e eu nos tornamos e eu o adorava. Desci as escadas e o encontrei entrando em casa com a boina nas mãos.

— Ei, Arthur. Como vai? — perguntei sorridente.

— Como está o ombro?

— Melhorando.

Ele olhou para cima e eu acompanhei seu olhar vendo Thomas descendo ajeitando as mangas da camisa social branca.

— Estou vendo como está melhorando — deu uma risada de deboche. — Trago boas notícias. Luca Changretta está morto!

— Bom trabalho, irmão.

— Então eu estava pensando, podemos comemorar? Nossa família vai ter paz agora.

Desde que cheguei, não tinha ido a nenhuma festa oficial da família Shelby e achei que realmente poderia ser um grande motivo para comemorar. Olhei para Thomas, esperando mentalmente que ele concordasse com o pedido de seu irmão.

— É, vamos comemorar. 

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora