Segui Thomas em silêncio pela estrada de terra que dava para um casarão de dois andares. Nunca fui ali antes, mas não ousei falar nada quando o vi desviar o caminho ainda dentro do carro. Minha cabeça não havia assimilado o que tinha acontecido e eu estava no automático.
Quando ele abriu a porta da frente, examinei todo o foyer. Um lugar enorme com pinturas nas paredes pintadas de verde escuro e uma escada de madeira. Logo uma mulher com cabelos na altura dos ombros e um vestido preto logo abaixo dos joelhos saiu do corredor.
— Frances, leva essa moça até o banheiro. Estarei no meu escritório.
Lembrei-me de dizer vagamente ao longo do caminho que estava me sentindo mal, mas não achei que ele se lembraria disso ainda.
A mulher assentiu.
— Sim, senhor Shelby. Por aqui, senhorita.
Sem olhar para trás, segui a senhora pelo corredor e entrei no banheiro pela penúltima porta. Encostei-me na pia e me olhei no espelho. Eu não me reconheci. Lavei minhas mãos e rosto freneticamente como se pudesse limpar o que tinha feito.
Sentei na tampa do vaso sanitário e tentei me controlar. Não havia mais nada a fazer para mudar.
Alguns minutos se passaram antes de eu decidir que precisava seguir em frente. A senhora ainda estava parada junto à porta quando a abri, como se fosse um fantasma ou um robô aguardando ordens.
O escritório ficava no segundo andar e olhei mais de perto quando entrei. Perto da grande janela havia uma mesa, as paredes eram feitas de estantes com vários livros, no canto esquerdo um sofá e no lado direito um pequeno bar com garrafas de bebidas diferentes.
— Pegue-nos uma bebida antes de se sentar.
Em silêncio, caminhei até o bar e peguei uma taça e um copo de uísque vazio. Passei os dedos pelas garrafas e peguei um vinho para mim e para ele um rum. Segurei os copos com as mãos trêmulas sentindo seu olhar em mim e isso me deixou nervosa.
Quando deixei sua bebida sobre a mesa e me sentei, relaxei um pouco.
— A primeira vez pode ser difícil para algumas pessoas — Thomas tirou um cigarro do maço. — Você fuma?
— Ainda não — sorri.
Ele deu de ombros e acendeu seu cigarro. Tomei um gole do vinho.
— As mulheres da minha família não mexem com o trabalho sujo, achei que você também não mexia.
— Você mandou eu atirar.
— É bom saber que você sempre faz o que eu peço — ele intercalou o cigarro com a bebida. — Procurei sobre você, mas ninguém te conhece, não tem registros seus em lugar nenhum. É melhor me dizer quem você realmente é ou vamos ter problemas.
— Eu já falei que não sou daqui, mas não estou mentindo sobre quem eu sou.
Thomas se levantou e caminhou lentamente ao redor da mesa para ficar ao meu lado.
— Primeiro você espiona os meus irmãos, então deixo você trabalhar para mim para ver se comete algum deslize, então é dopada e depois mata o cara. Se tem uma coisa que eu sei é que você não é nenhum pouco ingênua como achei que fosse.
— Só faço o que você ordena porque preciso do dinheiro para sobreviver nesse lugar.
Sua mão segurou meu queixo e me forçou a olhar para ele.
— Não acredito mais em você.
— Então por que me colocou para trabalhar com você? — gritei, exaltando-me. — Para uma pessoa como você, não foi nada inteligente colocar uma desconhecida para trabalhar como contadora, não é? Polly disse isso e ela estava certa.
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Coração Negro | Thomas Shelby
Historical FictionEm 2021, Gale Brown durante uma reportagem é misteriosamente transportada para o ano de 1922, em Birmingham. Lá ela acaba conhecendo os Peaky Blinders, uma organização criminosa. Enquanto Gale tenta conciliar o mistério da sua viagem no tempo com o...