Meu olhar correu dentre os homens entrando na cozinha afobados como se fosse caso de vida ou morte, mas eles não estavam focados em mim ou na minha amiga. Nos encolhemos no canto deixando-os passar por nós e ir em direção aos fundos. Quando os cinco homens entraram, agarrei a mão de Paige ao meu lado e começamos a andar novamente, saindo dali o mais ligeiramente possível. Eu conhecia os olhares furiosos, os passos calculados e a forma como os braços estavam tensos ao lado dos corpos, e percebi que eles trabalhavam para a gangue. Os gestos eram o que o líder chamava de "aguardando confusão".
O ambiente no salão seria o mesmo, se eu não fosse observadora demais e notar os irmãos começando a se movimentar de um lado para o outro como se algo estivesse errado. Observei Arthur ao longe passar as mãos pelos cabelos e sair da festa pela porta da frente. Seu irmão Thomas não estava diferente do mais velho.
— Vamos embora. Alguma coisa vai acontecer, Paige — falei já puxando minha amiga para fora pela porta dos fundos.
— Você está agindo muito estranho.
Claro. A ansiedade e o medo me causavam isso.
— Não vamos estar no meio da confusão quando ela chegar.
Chegamos no jardim e vi um carro com motorista dentro do lado direito da rua.
— Que confusão? Todos estão se divertindo lá dentro — ela soltou seu braço da minha mão.
Olhei em volta e os homens estavam chegando com grandes armas nas mãos, alguns carregando-as nas costas com bandoleiras. Eles formaram uma fila em frente ao grande portão e fecharam o local, não permitindo que ninguém entrasse ou saísse.
— Sim, mas agora aqui fora o ambiente é outro — falei por fim fazendo Paige se calar de vez.
Droga, sair mais cedo do teatro não foi uma boa ideia. Eu não sabia sobre o casamento e nem mesmo o que iria acontecer ali, se eu tivesse assistido todo o documentário talvez eu soubesse.
Precisava sair dali logo. Olhei em volta em busca de alguma saída, mas o local era todo murado e não conseguiríamos pular por ser alto. O único jeito seria entrar novamente para o salão e ficar onde a maioria estava.
— Vamos entrar de novo — avisei antes de começar a andar.
Eu ouvi um estrondo atrás de mim antes de chegar à grande porta e cobri meus ouvidos de medo, Paige ainda me seguindo.
Como se uma manada de elefantes tivesse passando por nós, mais homens saíram dando trombada em nós duas e em uma dessas acabei levando uma coronhada no maxilar.
Coronhadas eram clássicas quando eu chegava no passado.
— Seu desgraçado! — exclamei.
O homem não me olhou ou abaixou a cabeça como se estivesse se sentindo mal por ter me machucado mesmo que fosse sem querer. Sentindo o meu rosto inchar continuei andando, mas mudei o meu rumo até a cozinha onde com certeza acharia um gelo para colocar ali antes que começasse a ficar roxo e posteriormente amarelo.
Os cozinheiros me olharam mais uma vez quando entrei no cômodo, mas pareciam estar acostumados a ver pessoas entrando ali a todo momento. Paige ainda estava comigo, mas assustada demais para conseguir falar uma palavra.
— Vocês tem gelo? — perguntei para uma das mulheres na beira do balcão cortando alguns legumes. Provavelmente para o jantar.
— Sim, na geladeira do meio, senhorita.
Haviam três geladeiras. Andei até ela e abri o freezer encontrando duas bandejas grandes com cubinhos de gelo, peguei três. Alcancei um pano de prato sobre a bancada e enrolei os cubos nele, colocando no meu rosto em seguida. Deixando o gelo fazer efeito, notei que ficar ali dentro não seria tão ruim. Sentei-me ao lado da minha amiga em um banco e permiti-me respirar mais calma, deixando meu coração voltar as suas batidas lentamente.
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Coração Negro | Thomas Shelby
Historical FictionEm 2021, Gale Brown durante uma reportagem é misteriosamente transportada para o ano de 1922, em Birmingham. Lá ela acaba conhecendo os Peaky Blinders, uma organização criminosa. Enquanto Gale tenta conciliar o mistério da sua viagem no tempo com o...