Déjeuner en famille.

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A mercearia ficava ao lado da gráfica e não tinha nem mesmo alguém cuidando do lugar quando entrei para comprar alguns legumes para o almoço de domingo. Com os dias voando diante dos meus olhos, resolvi convidar a família Shelby para nos reunirmos e nos divertimos um pouco a fim de não pensar por um dia em negócios. Distraí-los fazia parte do plano de impedir alguns acontecimentos. Paige me ajudou a organizar o salão e tirar toda a papelada de lá, guardando tudo onde era o escritório da senhora Tomlinson antigamente. Ela estava sendo uma ótima amiga.

Peguei todos os ingredientes faltantes e os levei até o caixa. Ainda não havia ninguém ali, se eu quisesse poderia simplesmente sair sem pagar. Consegui visualizar uma janelinha aberta atrás do balcão e o que me parecia ser um cômodo de uma casa.

— Tem alguém aí? — indaguei alto imaginando que o dono do mercadinho deveria ficar dentro de casa quando não tinha movimento na loja.

O barulho de passos no chão de madeira velha me fizeram crer que sim, tinha uma alma viva ali. O homem barrigudo e barbudo surgiu no local, enxugando as mãos com um pano branco que estava encardido.

— Bom dia, senhorita.

— Bom dia, senhor.

Foi todo o nosso diálogo durante o tempo em que eu permaneci ali o observando fazer as contas na mão para quanto eu deveria pagar. Quando terminamos, saí com a cesta na mão em direção a casa de minha amiga novamente.

Chegando lá, fui até a cozinha onde deixei os ingredientes e encontrei Paige terminando de fazer um dos pratos do almoço na beira do fogão de lenha.

— Para ser sincera, achei que eles não aceitariam o convite — disse ela ao me ver chegar.

— Eu também não.

— Que horas eles vão chegar?

— Falei meio dia, mas Arthur disse onze horas, ele quer beber antes de comer.

Paige deu risada. O irmão mais velho da família era muito engraçado e era incrível como eu havia me dado muito bem com ele, apesar do incidente do começo. Mas agora eu dava razão dele desconfiar de mim, eles tinham inimigos em todos os lugares. Confiar em alguém era como dar um tiro no escuro.

Com as mãos já limpas comecei a fazer o restante da comida. Por sorte ainda eram dez e vinte, daria tempo de fazer antes deles chegarem já que só faltava um prato.

Com tudo pronto às onze e dez, organizei as louças sobre as duas mesas e resolvi tomar um banho para recebê-los melhor.

A água atingiu meu corpo e fechei meus olhos enquanto não escutava o barulho deles chegando. Se ali tivesse um chuveiro bom seria ótimo, mas me contentava em tomar banhos à moda antiga.

Terminando de me vestir comecei a ouvir vozes vindo do andar de baixo e deduzi ser eles. Olhei-me no espelho mais uma vez vendo se eu estava arrumada devidamente e ao deduzir que sim, saí do quarto.

Da escada observei toda a família reunida e minha amiga recebendo-os. Desci e sorri ao vê-los.

— Não eram onze horas, senhor Arthur? — indaguei brincando e ele sorriu sem graça assentindo.

— Passei na casa de Linda antes — disse ele e só então notei estar segurando a mão de uma mulher loira.

Ela era como uma mulher britânica normal, com cabelos loiros curtos, pele clara e olhos meio verdes, mas ela ainda era bonita à sua maneira. Ela tinha um sorriso angelical e tímido no rosto.

— Gale, essa é a Linda, minha futura mulher — o homem mais velho disse timidamente.

Sorri feliz em vê-lo falando dela todo constrangido, mas percebi que ele gostava muito dela. A mulher parecia ser calma e isso poderia melhorar sua personalidade e tirá-lo da lama em que vivia.

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora