Une mauvaise idée.

7.8K 789 133
                                    

Matteo mal saiu do carro e correu em minha direção, me abraçando com força. Como havia sentido falta do meu melhor amigo.

Quando sumi diante dos olhos de Thomas, não demorou muito e acordei no lago, então andei um longo caminho até a cafeteria onde consegui ligar para meu amigo para me pegar e me levar embora.

Suas lágrimas molharam o canto da minha blusa e eu chorei junto com ele, mas não sabia se era de saudade dele ou da família que deixei para trás.

— Onde você estava? — ele perguntou me liberando e segurando meus ombros, olhando-me com os olhos vermelhos. — Você sumiu no lago, eu não soube como reagir, achei estar ficando louco.

Matteo me olhou de cima a baixo em descrença.

— Você está vestida como se tivesse saído de um filme de faroeste.

— Posso te contar uma coisa? Precisa acreditar em mim.

Eu não tinha certeza se ele acreditaria, mas deveria arriscar.

— Viajei até o ano de mil novecentos e vinte e dois, onde vi tudo como costumava ser em Small Heath antigamente.

Ele me olhou sem falar nada, com certeza estava me achando louca.

— Conheci uma gangue, me envolvi no trabalho sujo — continuei dizendo. — Foi uma loucura, tudo causado pela pedra que estourou em minhas mãos quando você estava chegando até mim.

O homem ao meu lado passou o braço em volta de mim e me guiou até o banco do passageiro de seu veículo no estacionamento.

— Vou te levar até sua casa, você não está bem. Descansar será o melhor a fazer — disse ele.

— Eu estou falando a verdade! — insisti colocando o cinto.

— Isso é muito, Gale. Vamos embora.

Durante todo o trajeto não falei mais nada, afinal ele não acreditaria. Meu amigo notou meu silêncio, mas não se atreveu a dizer nenhuma outra coisa.

Chegando ao meu bairro, observei a vida moderna como era diferente da antiga. Ninguém mais andava a cavalo nas ruas, não liam jornais, não consertavam objetos ao ar livre e, mais notavelmente, não havia nenhum homem com os olhos do oceano vindo em minha direção com o olhar autoritário.

— Obrigada Matteo — falei ao descer de seu carro. — Ligo quando eu descansar.

— Eu acredito em você, só é difícil de digerir toda essa informação.

Concordei balançando a cabeça.

— Falarei com mais detalhes em breve — eu sorri e tirei meus cotovelos da janela, deixando-o ir.

Devia ser muito difícil, então decidi dar a ele mais uma chance. Quando eu terminasse de reorganizar minha vida, eu contaria tudo a ele com calma, deixando ele perguntar tudo.

Subi os degraus da minha casa e adentrei na varanda, observando as plantas do murinho mortas. Pobres plantas não tinham nada a ver com isso, algum vizinho deveria ter cuidado delas. Mexi no último vaso onde eu escondia uma chave reserva entre a terra e a achei bem suja, mas bastou uma sacudida nela e logo a terra caiu no chão.

Entrar na sala foi como acordar de um sonho. Eu realmente tinha voltado à minha vida normal, onde tudo era tecnológico, mas a ideia de Thomas e toda a sua família estarem mortos já no ano dois mil e vinte e dois me fez estremecer.

Tentando deixar de lado tudo, recorri à internet do meu vizinho a fim de começar a pagar as contas da minha casa. Por sorte eu tinha um dinheiro reservado no banco o suficiente e conseguiria quitar as dívidas de todos os meses fora, assim conseguiria ter luz, água e internet novamente.

Na verdade, havia muito trabalho a ser feito.

[...]

Na segunda-feira dei notícias sobre estar viva no meu trabalho e todos comemoraram, mas anunciei minha demissão. Trabalhar com jornalismo não era mais o meu foco.

Na terça-feira consegui um celular novo e foi estranho ver todas as homenagens nas redes sociais como se eu tivesse morrido.

Nos dias seguintes continuei organizando minha vida e tentando de fato ignorar todos os acontecimentos.

No sábado, chamei Matteo em minha casa.

— Você está falando sério mesmo? — indagou ele levando a taça de vinho até a boca.

— Sim! Só tenho vinte e sete anos, consigo muito bem começar uma nova faculdade.

— Não estou falando disso, Gale. Você realmente gosta dele?

Meu coração acelerou. Matteo não tinha ouvido nada desde o momento em que admiti gostar de Thomas ao contar toda a história.

— Sim, mas ele deve estar só osso agora — sorri tentando brincar, mas ele estava sério.

— Todos esses anos eu tentei fazer você me notar como outra pessoa, não apenas um amigo, então você some durante cinco meses e volta dizendo que ama um homem mau? Gale desde o momento em que te conheci, nunca vi você gostando de ninguém.

— O amor nos escolhe, não o contrário. Nunca sabemos a hora certa de nada, Mat.

Ele balançou a cabeça em negação.

— E você usou armas, matou homens. Você levou até um tiro! — levantou-se. — Teve coragem de me dizer que esse homem te fez bem?

— Matteo! — levantei-me também, segurando seus ombros. — Esse homem existiu no século vinte! — o sacudi tentando acordá-lo para a vida. — Ele não está entre nós.

Como eu desejava que ele estivesse.

Meu amigo finalmente começou a entender a situação e se acalmou. É verdade, nunca amei ninguém, mas com o gangster era diferente. Lembrei-me da citação de Anabella sobre meu destino ser o século dos Peaky Blinders, às vezes estar no futuro era meu erro.

Talvez voltar não tenha sido uma boa ideia.

Ali eu não tinha emprego, família e nem ambição. Nos cinco meses no passado eu consegui emprego, uma casa, estava realmente começando a me dar bem com todos do escritório e começando a amar um homem.

Então, fui embora no momento mais crucial e decisivo de minha vida. E bem, eu não conseguiria voltar pelos próximos três anos e reencontrar todos sabe-se lá como estivessem.

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora