Le retour.

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Sam era um homem adorável. Nos tornamos bem íntimos em somente algumas semanas, mas ele todas as vezes tentava fazer eu me sentir bem. Eu o admirava, ele era um homem de negócios e tinha um escritório de advocacia em Edgbaston, além de ser um admirador de histórias antigas. Nos finais de semana nós íamos em algum bar onde bebíamos e no fim da noite estávamos juntos na minha casa ou na dele. Estava sendo divertido conviver com Sam, embora não fôssemos algo a mais.

Minha amiga e meu melhor amigo não gostaram muito da ideia, olhavam torto o homem, mas não falaram o motivo.

Eu não estava familiarizada com romances ainda, mas com ele eu com certeza não levaria um tiro ou mataria ninguém. Nos momentos de solidão, quando ele ia embora e me deixava sozinha em minha casa, eu ainda sentia falta de Thomas, mas ele estava se tornando uma memória desbotada em minha mente.

O coração brilhante ainda ficava sobre a minha cômoda dentro de uma caixa de vidro, mas não brilhava. Lembrava de Anabella ter me contado sobre o intervalo de anos, mas não entendia o motivo de não ter o brilho de antes se já havia decorrido os anos das regras.

— Terra chamando Gale — Sam sacudiu a mão na frente do meu rosto e voltei a olhá-lo.

Ele tinha uma garrafa de vinho na mão e sua mochila branca estava nas costas. Seu sorriso satisfeito estava em seus lábios e então grudou nos meus, em um beijo leve antes de entrar em minha casa.

— Eu estava distraída — falei ao fechar a porta atrás de mim e observá-lo deixando as suas coisas sobre o sofá da sala. — Qual é o vinho de hoje?

Deixei de mencionar sobre como ele era amante de vinhos e todas as vezes trazia um novo a fim de degustarmos juntos e dar notas sobre o gosto, o cheiro e coisas relacionadas à bebida alcoólica.

— Esse é um Barbera d'Asti Tabaren 2011 da Itália — disse erguendo e rodando a garrafa mostrando-me o rótulo. — Vamos tomar?

— Claro, vou pegar as taças.

Na cozinha, ergui-me no balcão e consegui pegar as taças de vidro no armário do alto, quando as desci meu celular em meu bolso vibrou. Peguei-o vendo uma mensagem de Matt e logo a abri.

"Está sozinha? Precisamos conversar."

Droga, ele só me chamava em horas erradas. Comecei a digitar e imediatamente enviei uma mensagem de volta.

"Estou com Sam, mas fale. Agora estou curiosa."

A outra mensagem veio em seguida.

"É sobre a sua viagem à Small Heath."

Chamávamos minha ida ao século vinte assim quando outras pessoas estavam perto para elas não desconfiarem.

Mais uma dele.

"Eu e Eleanor estávamos estudando sobre isso juntos e bem, talvez você seja a única que consiga impedir o líder da gangue a não morrer da forma que ele morreu."

— Já pegou as taças? — Sam indagou da sala chamando minha atenção.

— Hum, sim! Estou indo.

Eu digitei para Matt.

"Me conte."

Guardei o celular no bolso novamente e voltei à sala, sentando-me ao lado do homem no sofá. Não estava mais com vontade de beber e muito menos de conversar, só desejava ler as mensagens de Matteo.

Observei o vinho sendo servido e logo brindamos. Fizemos o ritual da bebida cheirando-a, girando-a e finalmente bebendo.

— Esse é dos bons — ele disse sorrindo. — Você gostou?

Senti meu celular vibrar.

— Sim! É muito bom mesmo, dessa vez acertou em cheio. Eu vou ao banheiro, estou morrendo de vontade de fazer xixi.

Ele assentiu, eu até mesmo achava ele muito entendível.

Com medo de demonstrar ansiedade, levantei-me normalmente e fui até o banheiro do andar de cima da suíte, onde girei a maçaneta trancando-a e me sentei no vaso sanitário com o celular em mãos.

"Desde o ano de 1923 Thomas ficou a um pingo de insanidade, ele começou a colocar tudo abaixo. Ele estava se arriscando muito, fez até mesmo contratos com gente difícil de se lidar. Ele ainda viveu bastante, mas se arriscou muito. Mas aí está um dos pontos iniciais da sua morte, ele levou uma coça e isso fez ele ficar mais doido ainda. No futuro isso refletiu em sua cabeça e bom, o resto você já deve saber. Se a linha do tempo lá é como a nossa, eles ainda estão em 1925, então você consegue impedi-lo de fazer todas essas loucuras."

"Mas o portal não se abre, Matt. Todos os dias olho para a pedra e ela não está brilhando."

"Você chegou dia vinte de Novembro de volta, hoje é dia dezenove de Novembro. Se esse portal abrir, vai ser amanhã."

Não entendia todo o motivo dele estar me falando isso, já que quando contei sobre gostar do gângster ele ficou incrédulo.

"Qual o motivo de estar me dizendo isso tudo?"

"Você não consegue desapegar deles mesmo dizendo já ter ignorado, mas eu te conheço há anos e sei quando está mentindo. Então, se ama mesmo ele e não gostaria de saber sobre o fim dele, o ajude antes que seja tarde demais."

Amar Thomas não passou pela minha cabeça, mas a julgar pela maneira como me lembrava dele, deveria tê-lo amado.

"Vamos nos encontrar amanhã em Small Heath, no The Garrison, às nove da manhã."

"Tudo bem, vou levar a Eleanor comigo."

Tudo ainda estava sendo digerido lentamente em minha cabeça. Seria uma noite longa e fatídica, onde eu teria que escolher entre ficar aqui e tentar viver uma vida com Sam ou voltar e aconselhar Thomas a não fazer escolhas erradas.

— Você demorou — Sam disse ao me ver de volta na sala. — Está se sentindo mal?

Peguei suas mãos e entrelacei nossos dedos.

— Me mandaram uma mensagem sobre o estado de saúde da minha vó, ela não está bem, amanhã vou viajar até lá.

Uma mentira descarada, mas nunca fui bom em dizer tchau, costumava dizer até logo ou te vejo mais tarde, mas eu não tinha certeza se o veria novamente.

— Posso ir com você, assim você não pega ônibus.

— Sam eu não devo voltar. Se ela necessitar dos meus cuidados, vou morar com ela.

O semblante dele mudou, de feliz a triste em menos de segundos. Me sentia mal em estar mentindo, mas eu não o amava como amava o homem a muitos anos de distância de mim.

— Certo. Você está certa. Faça o necessário e cuide dela bem, vou ligar para você durante as noites e conversaremos.

Eu sorri amarelo. Se ele conseguisse me ligar seria incrível.

— Tudo bem, vamos fazer isso então — falei finalmente e peguei a taça de vinho bebendo mais.

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora