Se réveiller.

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Thomas abriu seus olhos lentamente e eu vi os infinitos azuis me encararem confuso. Logo olhou ao redor certamente tentando entender onde estava. Graças a Deus a ideia de trocar ele de local deu certo e agora não corria mais risco de vida, embora eu soubesse que ele "morreria" antes de mim. Era triste imaginar isso, então eu somente fingia que todos nós éramos imortais, acho que todo mundo fingia assim.

Nesses dois meses de coma, Thomas nem imaginava que Lizzie havia fugido com sua menina e que a "sua" filha não era dele e sim de um outro cara. Foi difícil descobrir isso, mas eu já estava bastante desconfiada. Arthur me ajudou a seguir ela em uma das saídas noturnas da mulher e então em um deslize dela, escutamos uma conversa entregando toda a verdade com o seu suposto amante. Foi melhor ela ter fugido, ou Thomas se revoltaria totalmente.

— Onde estamos? — indagou com a voz rouca, sua mão tateou a mesa do lado da maca e eu já sabia o que ele estava procurando.

— Em um hospital em Londres e não é permitido fumar aqui.

— Há quanto tempo estou internado?

— Dois meses.

Ele arregalou os olhos, em seguida tentou se levantar, mas segurei seu ombro.

— Vou chamar a enfermeira para cuidar de você e em breve poderá ir para casa.

[...]


Com a ajuda das empregadas, a casa dele não tinha ficado abandonada e muito menos suja. Descemos do carro de seu irmão mais velho e deixei as malas quadradas no chão de pedregulhos.

— Vocês vão ficar bem? — perguntou Arthur e eu assenti. — Se precisar de alguma coisa me chame que eu venho correndo.

— Obrigada. — sorri amigável e o observei partir com o veículo deixando um rastro de poeira para trás.

Thomas ainda mancava, mas conseguimos chegar ligeiramente no hall de entrada de sua casa. Ele observou a grande foto de Grace na parede, sim, aquilo ainda estava lá mesmo quando era casado com Lizzie.

— Onde estão Lizzie e Ruby? — indagou.

Olhei para os meus pés, sem saber como começar a falar.

— Tommy, sua esposa fugiu com a filha. É uma longa história, mas eu posso resumir. Um dia eu e Arthur começamos a investigar os comportamentos estranhos dela e...

Ele levantou a mão me interrompendo.

— Eu já imaginava que isso algum dia iria acontecer. — disse ele. — Ruby não é minha filha, certo?

Assenti envergonhada. Era um assunto delicado.

— Você pretende ficar aqui cuidando de mim? Eu não preciso de babá.

Arqueei as sobrancelhas. Tudo bem que ele tinha sido abandonado e tudo mais, mas não precisava ser mal educado comigo. Se bem que ele era mal educado com todo mundo. E eu não planejava ficar ali a vida toda com ele, só passaria alguns dias e o ajudaria a se resolver enquanto minha vida não voltava ao normal. Eu também já tinha adiado muito a volta aos palcos para contar minhas histórias.

— Posso ir embora agora mesmo, não vai me fazer diferença alguma. — dei de ombros.

— Não, tudo bem, você pode ficar. 

Balancei e peguei minha mala, começando a subir os degraus em direção ao quarto onde fiquei aquela vez.

— Gale! — Thomas me chamou. — Arthur me contou que a ideia de ter trocado de hospital foi sua. Obrigado.

Ele estava mesmo me agradecendo? Talvez a concussão na cabeça tivesse sido mesmo muito forte.

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora