A festa começou e todos da família estavam lá, mas eu não me sentia confortável. Em primeiro lugar, eu não era da família deles e, em segundo lugar, Lizzie não tirava os olhos de mim. Nesse caso me sentia desconfortável, afinal tive relações sexuais com um homem admirado e certamente ela o amava.
Vê-los bebendo a todo momento, sorrindo e brincando era raríssimo. Arthur era o mais empolgado, até estava cantando. Sentada mais longe e com uma taça de vinho na mão, eu os observei. Eles estavam longe de ser normais, mas não eram tão ruins. Quando meu olhar encontrou o de Thomas, tentei desviar, afinal não queria brigar com a mulher grávida ao lado dele.
John se aproximou de mim com a garrafa de vinho e serviu mais na minha taça, enchendo-a.
— Não está gostando da celebração? — indagou certamente notando minha feição e sentou-se ao meu lado no sofá de dois lugares.
— Estou, mas não sou da família, então prefiro ficar só observando — sorri amigavelmente.
John me olhou alguns segundos e logo se levantou subindo no sofá com os pés ainda calçados. Ele assobiou chamando a atenção de todos e senti meu rosto corar com o ato dele.
— Podemos fazer um brinde à mais nova integrante da família Shelby? — ele perguntou.
— Não sou da família, John — o belisquei na perna e sorri sem graça.
Arthur levantou sua taça.
— Você nos ajudou bastante e a partir do momento que nos ajuda já é da família. Um brinde à Gale! — Arthur disse.
Observei os outros levantarem as taças, Ada o fez em segundo lugar e depois encorajou os outros a fazê-lo. Desta vez, olhei para Thomas e o vi acenar com a cabeça.
— Que ela nos ajude muito mais! — Michael gritou e logo todos sorriram, fazendo-me sorrir também.
Em seguida, John me chamou para dançar e nos divertimos muito dançando como loucos no salão de festas da casa. Ada dançava com o Arthur e Michael enchia a cara como se não houvesse o amanhã.
Era tão bom estar com eles que cada vez eu sentia menos vontade de voltar para minha verdadeira casa.
Quando toda a comemoração acabou, já era uma da manhã e não sei como todos conseguiram ir embora, de tão bêbados que estavam. Eu também ia, mas Thomas não me deixou pegar carona com seu irmão mais velho.
— Lizzie deveria ficar também, afinal deixar uma mulher grávida ir embora com eles é totalmente arriscado. Eu não estou grávida e nem com meu ombro ruim mais e estou aqui.
— Temos alguns assuntos a tratar — Thomas disse. — Venha comigo.
Andar ao lado dele me deixou cautelosa, mas ainda me senti bem. No corredor do térreo ele abriu uma armário embutido onde haviam diversas armas e me assustei com todo o arsenal, mas eu entendia que eles precisavam de máxima proteção. Do gancho, ele puxou uma arma muito boa e carregou-a com munição.
— Essa é a sua arma. Cuide bem dela.
Ele estendeu a mão e eu peguei a arma, vendo-a até com uma bandoleira. Eu o deixei no chão quando vi Thomas pegando outro acessório.
— Isso é um coldre. Estica os braços para os lados.
Fiz como ele pediu e logo ele colocou o coldre em mim, fazendo com que a espécie de cinto ficasse perto das minhas axilas. Eu já tinha visto-o andar com um desse e era bom para esconder armas quando estivesse de sobretudo.
— Você vai usar essa pistola guardada nele — entregou-me uma outra arma — Se vai voltar para sua casa, não pode ficar sem armas.
— Preciso mesmo desse cuidado todo? Changretta está morto, não temos mais preocupações — indaguei.
— Nunca estaremos sem inimigos, não sabemos o que vai acontecer amanhã, portanto use sempre o coldre.
— Obrigada, Thomas — falei finalmente. — Posso voltar para a minha casa então?
Ele assentiu.
— Johnny Dogs vai te levar embora.
— Tudo bem. Vou pegar minhas coisas no quarto e estarei de saída.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coração Negro | Thomas Shelby
Historical FictionEm 2021, Gale Brown durante uma reportagem é misteriosamente transportada para o ano de 1922, em Birmingham. Lá ela acaba conhecendo os Peaky Blinders, uma organização criminosa. Enquanto Gale tenta conciliar o mistério da sua viagem no tempo com o...