Uma fila estava se formando na frente da minha casa quando cheguei com Thomas. Saímos do carro e abrimos caminho entre as pessoas, eram homens, mulheres e até crianças. O silêncio pairava no ar cada vez que o homem aparecia e eu achava engraçado.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele ao meu lado enquanto eu destrancava a porta de casa.
— Parece que finalmente as pessoas viram meus cartazes — falei contente — Quer entrar, senhor Shelby?
Ele voltou a olhar para todos e senti vontade de rir da forma como ele não estava entendendo nada.
— Tenho negócios para resolver. Boa sorte com isso, seja lá o que for.
Observei o homem ir embora e logo comecei a analisar as pedras que trouxeram. Alguns achavam que conseguiriam me fazer de boba e foram capazes até de pintar a pedra de branco.
Passei a maior parte do dia sentada em frente à minha casa analisando uma a uma e no final da tarde terminei frustrada por não ter obtido um bom resultado.
[...]
Às sete e meia da noite, Paige bateu na minha porta e, juntas, caminhamos em direção a um pub que não estava muito cheio. Lá a música era tocada por George, um homem atraente de olhos claros e cabelos escuros e encaracolados que cantava muito bem.
Sentei-me com minha colega em uma mesa perto do cantor, porque ela gostava dele e costumava ir ali tentar ganhar a atenção dele. Já haviam conversado algumas vezes, mas ele era casado e não dava muita ideia para ela.
— Você sabe o que aconteceu com Grace? — perguntei sem rodeios.
Paige tirou a caneca de cerveja que pedimos assim que chegamos da boca com ligeireza, atordoada com a pergunta subitânea.
— Grace loira esposa do Thomas Shelby? — perguntou baixo e eu assenti. — Ela levou um tiro que era para ele e morreu nos braços dele — disse com naturalidade, como se fosse a coisa mais normal do mundo. O homem ficou insano.
— Arthur me disse que ele está esquisito desde que voltou da França, que um túnel que ele estava desabou e tudo.
A mulher fez sinal negativo com o dedo.
— Ele realmente mudou muito com a guerra, mas quando a mulher morreu ele endoidou mais ainda. O pior foi o que aconteceu depois, pegaram o filho dele e foi uma confusão.
— E onde está o filho agora? — indaguei atônita com toda a história.
Ela deu de ombros.
— Ninguém além deles sabe, uns dizem que foi morto e outros falam que não mora mais na cidade. Só sabemos que ele nunca mais foi o mesmo, mas também qualquer um ficaria maluco com essas tragédias.
Eu não o via fazendo as coisas tão ruins quanto diziam, muito menos louco como Paige tinha me dito. Realmente, ter sua esposa morta na frente dele e uma criança longe era muito difícil, mas ele parecia ter começado a seguir sua vida novamente.
Eu balancei a cabeça e continuamos bebendo cerveja falando sobre outros assuntos.
— Alguém nesse bar tem algum talento que queira nos mostrar? — George perguntou.
Paige foi a primeira a levantar a mão e eu sorri com sua audácia. O homem estendeu a mão para ela.
— Qual é o seu talento, senhorita?
— Eu canto.
— Ótimo! Cante comigo.
Ela subiu no pequeno palco improvisado e logo começou a cantar. Os clientes assobiavam e batiam palmas. Ela tinha uma voz linda, mas minha mente divagou. Saber um pouco mais sobre a vida de Thomas me deixou curiosa.
A voz angelical parou de cantar e um silêncio absurdo se estabeleceu no local. Com a cabeça, Paige fez sinal para que eu desviasse o olhar e, quando o fiz, vi olhos azuis me encarando.
Enquanto ele caminhava em minha direção, meu coração acelerou. Seu terno azul escuro o deixava bonito, isso eu não podia negar. Ele puxou uma cadeira ao meu lado e se sentou.
— Continuem o que estavam fazendo. — disse em alto e bom som. Logo todos voltaram a agir normalmente e os dois no palco voltaram a cantar.
— O que está fazendo aqui? — perguntei baixo.
— Procurando você.
— E agora que achou o que quer?
Ele olhou para mim, mas não disse nada. Logo um garçom serviu-lhe uma bebida e ficamos lado a lado em silêncio, observando a cantoria.
Passamos o resto da noite bebendo. Paige se juntou a nós e quando saímos, ela voltou para o bordel sozinha.
— Obrigada por vir comigo — falei assim que cheguei em casa.
— Não vai me convidar para entrar dessa vez? — Thomas indagou.
O encarei por alguns segundos até raciocinar.
— Hum, sim, vamos entrar.
Envergonha entrei em casa enquanto ele observava tudo ao redor.
— Sinta-se em casa. — sorri amarelo.
— Venha até mim.
Fechei a porta atrás de mim e dei alguns passos em sua direção.
— Polly me disse que quando deixo meu coração agir, as pessoas se machucam. — disse ele, baixinho, a respiração quente indo de encontro a minha.
Suas mãos puxaram meus ombros para junto de si, poucos centímetros nos distanciavam. Seus olhos me analisaram.
— Você me quer? — indagou e eu assenti.
Seus lábios finalmente encontraram os meus. O beijo se prolongou calmamente até eu me sentir envolta em chamas.
Joguei minha cabeça para trás para deixar sua boca explorar cada linha sensível do meu pescoço.
— Thomas. — sussurrei seu nome, empurrando-o para se afastar. Seus lábios estavam vermelhos. — Acho melhor você ir, está ficando tarde.
— Tem medo que eu de alguma forma te machuque?
Essa era a última coisa que eu tinha medo. Eu só não desejava ser como um passatempo, ao contrário dele eu nunca me casei e tive filhos com alguém, não sabia o que era amor.
Mesmo que meu coração me dissesse para levá-lo para fora, minha mente me dizia que eu deveria deixar o momento de lado e ver as consequências no dia seguinte.
— Não fisicamente — sussurrei. — Só não quero que você transe comigo pensando em outra pessoa.
Ele assentiu e pegou a boina de cima do sofá. Observei ele andar até a porta e agarrar a maçaneta abrindo-a em seguida.
Ele nem olhou para trás, o que me deu certeza de que sim, Thomas ainda amava Grace.
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Coração Negro | Thomas Shelby
Historical FictionEm 2021, Gale Brown durante uma reportagem é misteriosamente transportada para o ano de 1922, em Birmingham. Lá ela acaba conhecendo os Peaky Blinders, uma organização criminosa. Enquanto Gale tenta conciliar o mistério da sua viagem no tempo com o...