C'est un au revoir ?

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Observei a gota d'água pingar no pó de café e se transformar no delicioso líquido quente e escuro, tediosamente. Uma mão minha estava segurando meu queixo e meus olhos estavam quase fechando conforme lutavam com o sono.

Desde a minha volta à casa onde eu morava no bairro de Small Heath, não me sentia mais animada com muitas coisas. A calmaria ainda estava no ar e eu não necessitava usar minhas novas armas com nada, embora ainda tivesse receio de sair sozinha e alguém me fazer mal, nessas horas eu usava o meu coldre. Meu ombro latejava algumas vezes e ficou uma mistura de roxo e vermelho. Pelas fotos que tinha visto quando trabalhava como jornalista, sabia que fazia parte da cura, mas ainda era feio de se olhar. Pelo menos não matei mais ninguém durante um mês.

Três batidas no vidro da janela da sala me fizeram virar e ver uma figura feminina com a mão na frente dos olhos como se tentasse ver dentro de casa. Levantei-me e fui até lá, abrindo a janela para ver melhor a mulher. Seu cabelo castanho escuro estava enrolando nas pontas e roçando seus ombros, e seu traje era muito bonito para uma pessoa da cidade.

— Posso ajudar? — indaguei cautelosamente, não a conhecia.

— Você é Gale Brown? — ela me olhou de forma otimista. — Eu vi seu cartaz em Digbeth e tenho algo útil.

Calculei mentalmente em minha cabeça quanto durava uma ida de carro do meu bairro até o da mulher e deduzi no máximo vinte minutos, mas eu não havia colocado cartazes lá. Outro fator estranho era a maneira como ela falava, ela certamente não era inglesa.

— Um minuto — falei e fechei a janela novamente.

Fui para o sofá e me agachei no chão, peguei minha arma e enfiei na cintura da minha calça, escondendo-a completamente com minha camisa.

Abri a porta da sala e a mandei entrar. A desconhecida olhou ao redor e jurei ter visto ela sorrir ladino ao ver a decoração da minha casa, não era das melhores, mas eu estava tentando fazer igual meu lar.

— Muito bem, como você se chama? — perguntei de costas para ela, servindo duas xícaras de café.

— Anabella Lewis, mas aqui as pessoas me conhecem como Alene Hill.

Segurei a xícara com força em minha mão e me virei, assustada. Era ela, a estudante escocesa de intercâmbio. Eu sabia! Desde o primeiro momento eu soube que o que aconteceu comigo no lago poderia ter acontecido com ela.

— Você é a escocesa desaparecida de Birmingham — meu queixo estava caído e eu não sabia nem mesmo o que dizer. — Como nós duas chegamos aqui? Realmente foi uma pedra brilhante?

Ela sorriu e acenou com a cabeça, mas por algum motivo parecia estar muito familiarizada com tudo isso.

— Quando vi o seu cartaz, sabia que você era uma viajante do tempo assim como eu e resolvi te ajudar. Sente-se, vai precisar de muita calma para escutar o que tenho a te dizer.

Com as ordens dela me sentei na outra cadeira ao redor da mesa e lhe entreguei uma xícara.

— Eu não vim até aqui por acaso, sou uma viajante do tempo há alguns anos. Os portais, ou as pedras, como desejar chamar, são abertos há cada três anos no futuro e quem estiver perto pode ser mandado para cá. O lago em que fui no dia do meu suposto desaparecimento é onde eu sabia que o portal iria se abrir novamente, mas por algum motivo ainda desconhecido eu fui mandada para cá e a pedra só explodiu com você. Geralmente eu a pegava e ela estourava logo em seguida. Como estou indo e voltando sempre, intercalando entre passado e futuro, acabei conquistando minhas coisas aqui e hoje tenho casa, um marido e até mesmo filhos que não consigo levar para o futuro comigo.

Coração Negro | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora