As risadas de Emerie e Gwyn se sobressaíram nos ouvidos de Nestha mesmo com o barulho de vozes ao redor. Ela tentou se manter indiferente à zombaria das amigas, mas uma birra meio infantil já havia tomado conta dela.
Emerie tombou a cabeça para trás, a fim de intensificar o próprio riso. Esse gesto quase a fez cair de costas da cadeira, mas rapidamente se segurou na extremidade da mesa e manteve o equilíbrio, sem abandonar a diversão no rosto.
— Já terminaram? — Nestha disse carrancuda, se controlando para não cruzar os braços. No momento as três estavam no refeitório do campus.
— Calma, a imagem de você escondida na cama está em looping na minha cabeça — respondeu Emerie.
Nestha quebrou a própria promessa de manter os acontecimentos da noite anterior em segredo. Assim que viu as amigas sentiu necessidade de desabafar, contando tudo a elas, embora já soubesse bem a reação que receberia.
— Tudo bem, Nestha — Gwyn se pronunciou, escondendo os lábios dentro da boca para impedir o sorriso. — No fim tudo deu certo, ainda bem que Cassian te ajudou.
— Me ajudou como, Gwyn? — ela endireitou a postura na cadeira. — Presenciando minha vergonha?
— Poderia ter sido muito pior.
— Ela tem razão — Emerie disse. — Se Cassian não tivesse te encontrado você teria escutado os dois transando.
— Ainda não acredito que entrei logo naquele quarto! Acho que Cassian fez algum tipo de feitiçaria para estar presente em todas as minhas situações constrangedoras.
— Eu chamo isso de destino — a voz de Gwyn era sonhadora e ao mesmo instante divertida.
— Então o destino adora me ver sofrer.
Emerie não escondeu a risada mais uma vez, mesmo a graça daquilo sendo inexistente na percepção de Nestha. Depois de conferir a hora no celular, Emerie disse:
— Preciso ir, tenho aula agora.
As três reuniram os próprios pertences e se levantaram. Despediram-se nos corredores da faculdade, tomando cada uma suas próprias atividades do dia.
Durante a caminhada, Nestha parou em um quadro de avisos. Já fazia algum tempo que ela observava o panfleto amarelo do clube de voluntários, anunciando uma ação em um orfanato na cidade. Via a doação como algo muito importante e ajudava algumas instituições de caridade com o que podia. Seria impossível agir de forma contrária, pois ela e as irmãs já sofreram as consequências da fome um dia.
Mesmo contra sua vontade, lembrou do período terrível após a morte da mãe. Nesse tempo, o pai gastou a fortuna que tinha com jogos e bebidas, até não restar quase nada. Não comer a quantidade que queria, que seu estômago exigia, foi uma realidade dura e cruel. Gostaria de carregar essas lembranças com algum vestígio de superação, mas reviver aquilo ainda doía.
Ao seu lado, alguém escreveria em outro papel suspenso no quadro, mas ela apenas se permitiu analisar melhor o convite impresso do voluntariado, convocando alunos para se tornarem participantes do projeto. Decidiu procurar Viviane, uma das coordenadoras responsáveis pelas atividades extracurriculares.
— Tenho um fraco por garotas que se interessam por causas sociais — a voz masculina chamou a atenção de Nestha. Ela virou parcialmente a cabeça para encontrar o cara que estava ali desde que ela havia chegado.
— Já posso adivinhar a quantidade de estudantes voluntárias que você abordou por aí.
— Na verdade você foi a única, acredite.
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O laço que nos une | Nessian
RomanceTodos sabem que Nestha Archeron não suporta Cassian e que ele adora provocá-la. Desde o momento em que ela o conheceu durante uma festa da faculdade, tendo uma péssima primeira impressão dele, embarcou nessa relação cheia de conflitos com o irmão do...