Capítulo dois

517 71 81
                                    

Desde o momento em que Cassian viu Nestha Archeron pela primeira vez, ele soube que ela seria o seu tormento.

Encarando a imagem dela de bruços no chão, escondida debaixo da cama, o insulto baixo que exprimiu não foi o suficiente para conter sua surpresa. Mesmo estando nessa situação constrangedora, Nestha não deixou de lançar sobre ele um olhar pétreo e furioso, como se tudo isso fosse culpa dele.

Um único pensamento se chocou com as emoções de Cassian: ele iria matá-la.

— O que foi? — a voz feminina vindo da cama perguntou.

Ele precisou levantar a cabeça, apenas o suficiente para enxergar a garota de cabelos vermelhos que sustentava o próprio corpo com os cotovelos.

— Foi o meu celular que caiu do bolso.

Para provar a desculpa esfarrapada, Cassian abaixou a vista novamente e esticou os braços a fim de alcançar o aparelho bem seguro nas mãos de Nestha. Mas ele foi ingênuo ao acreditar que ela cederia fácil e o que conseguiu apenas foi segurar a ponta do celular que Nestha se agarrava com força. Tentou puxar algumas vezes, recebendo dela o mesmo movimento do outro lado. Contudo, um puxão firme foi o bastante para que ele finalmente arrancasse o celular dela.

Soltando um suspiro de quem vence uma batalha árdua, Cassian se levantou.

— Vassa — ele disse para a garota. — Preciso de um favor seu.

— Hum, qual?

Cassian não fazia a mínima ideia e teve que improvisar:

— Você poderia pegar um pouco de gelo?

De início, as sobrancelhas de Vassa se arquearam em sinal de incompreensão, mas rapidamente ela se sentou na cama e seus lábios se curvaram para cima tendenciosos.

— Não sabia que você gostava desse tipo de brincadeira.

As engrenagens de Cassian demoraram para entender onde os pensamentos de Vassa foram levados. Mas assim que notou o significado oculto das próprias exigências, decidiu continuar o assunto que ela parecia aprovar, a julgar pelo seu sorriso.

— Ah, claro. Eu adoro... — ele acreditou estar sendo convincente.

Ela se ergueu na mesma hora.

— Tudo bem, vou buscar — a animação de Vassa fez Cassian praguejar internamente. Já sofria as consequências por ser obrigado a deixá-la na vontade.

No instante em que ela saiu do quarto e a porta foi fechada, Cassian se virou em direção à raiz do seu problema.

— Já pode sair daí — vendo que não obteve respostas ou qualquer movimento da parte dela, ele insistiu com mais firmeza: — Nestha.

Poucos segundos depois a garota se esgueirou para fora da cama e ficou de pé. Ele notou a luta travada em seu rosto para manter a dignidade e teve ainda mais necessidade em saber as circunstâncias insanas que a levaram até ali.

Os olhos de Nestha se fixaram em Cassian agora sem indícios de insegurança, mas por um fiapo de tempo ela quase cedeu ao desconforto quando esbarrou a vista no torso nu à sua frente. Durante a tarefa de tirar Vassa do quarto, ele se esqueceu que estava sem camisa.

Mas teria que seguir dessa forma até tirar Nestha do quarto antes que a dona dele voltasse.

Nestha abriu a boca, provavelmente para despejar algum comentário raivoso. No entanto Cassian cortou suas intenções quando a segurou pelo pulso e arrastou pelo cômodo com toda a delicadeza que conseguiu. Mesmo em meio aos próprios golpes de aborrecimento, ela se deixou ser conduzida para fora.

O laço que nos une | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora