Capítulo treze

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Eles receberam ajuda de outros voluntários para terminar a pintura na sala de recreação. Durante à tarde, Nestha se ocupou com outras atividades, encontrando Cassian ocasionalmente, mas sem ter a chance de conversar com ele. Só notou que o céu escureceu quando as tarefas foram finalizadas e todos descansaram, aproveitando a comida que a dona do orfanato trouxera.

Conseguiu limpar as partes do corpo que estavam sujas de tinta e, depois de comer, decidiu sair e respirar a brisa fresca lá fora. A estrutura do orfanato era tão grande quanto a área externa, agora com a grama bem aparada e um espaço largo para as crianças brincarem.

De longe, avistou um campo de futebol e pôde ver uma figura sentada nas pequenas arquibancadas de cimento. Não precisava se aproximar muito para saber que era Cassian. Seus pés tomaram vida própria e se dirigiram até ele.

Hesitando por alguns instantes, ela pensou se realmente seria uma boa ideia acabar com seu momento sozinho. Mas uma força desconhecida a impeliu a seguir adiante e se sentou ao lado dele ainda receosa.

Nestha repetiu o que havia dito para Eris:

— Eu não acredito nele.

Jurou ter visto uma leve tensão abandonar seus ombros. Então ele finalmente olhou para ela.

— Eris me processou, depois que o processei. Estamos nessa briga judicial exaustiva — ele soltou de uma vez, esclarecendo muitas coisas, mas trazendo novas dúvidas.

Ainda assim, Nestha não fez perguntas. Mesmo com o silêncio que se seguiu, ela sabia que ele continuaria a explicação. Ficou atenta a cada palavra e gesto, tentando amenizar o desconforto evidente que aquele assunto causou nele.

— Eu jogava no time de hóquei da UP. Desde que conheci o esporte, sempre foi meu objetivo de vida me tornar um jogador profissional. Eris também fazia parte do time e nunca nos demos bem. Dentro e fora da pista, tínhamos nossas desavenças, mas aprendi a lidar com elas para não prejudicar nosso desempenho nos jogos. Mas ele é difícil e egoísta.

"Eris queria a posição de Centro que eu ocupava, não teve vergonha de confessar isso pra mim. Mas as coisas ficaram mais complicadas com o tempo e nossas brigas se tocaram constantes. Até que um dia, no treino... Nestha, ele me empurrou na porra do gelo. Sofri uma fratura na perna. Na hora, mesmo com a dor absurda, não imaginava que seria algo tão grave."

Ele parou por um instante, agora focando num ponto distante à sua frente. Mas Nestha não ousou dizer nada, esperando que ele continuasse.

— Passei por um longo processo de fisioterapia. No início, os médicos não me deram uma resposta definitiva quando perguntei se poderia voltar a jogar um dia. Mas no fundo eu sabia que não. Mesmo assim, foi difícil ouvir a resposta. Eu estava tão triste e com raiva... Então meus irmãos me convenceram a processar Eris pelo que aconteceu, a maioria dos meus colegas de time presenciaram a verdade. O próprio treinador me aconselhou a fazer isso e prometeu que seria testemunha — a última frase veio acompanhada de um sorriso seco, sem qualquer vestígio de graça. — Mas fui ingênuo em acreditar nele. Quando abri o processo, Eris comprou o silêncio de Devlon e de alguns outros jogadores com uma boa grana, que também o permitiu continuar no time e receber apenas uma suspensão. O filho da puta me processou de volta, por calúnia e difamação, e no fim conseguiu o que queria: ser o Centro do time.

Nestha sentiu o sangue ferver em suas veias, de raiva e indignação. Ele tinha um futuro nas mãos e o viu sendo destruído pela ganância de outra pessoa.

— Eu... sinto muito, Cassian. Você não merecia passar por isso — ela gostaria de ter palavras melhores de consolo, mas não tinha. Só conseguiu demonstrar sua empatia e revolta. — Eris é um grande imbecil... Asqueroso. Detestável.

O laço que nos une | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora