Capítulo quatro

442 58 121
                                    

Assim que Nestha saiu da biblioteca toda concentração de Cassian nos estudos foi embora. As palavras se tornaram apenas letras embaralhadas e a imagem dela ficou impregnada na sua cabeça, principalmente a visão daqueles olhos cristalizados aparentemente frios, mas que escondiam muitas peculiaridades sobre si mesma.

Reuniu os livros espalhados na mesa e andou até o balcão.

— Saindo mais cedo, Cassian — Clotho comentou.

— Chega de estudos por hoje.

— Você merece descansar. Tem se dedicado muito, eu vejo isso — a bibliotecária pegou os livros empilhados.

— Obrigado, Clotho — emitiu um sorriso agradecido. Ela sempre foi cordial e simpática com ele.

Saindo da biblioteca, decidiu voltar à fraternidade e caminhou pelos corredores do campus até a saída. Tinha passado a maior parte do dia na faculdade e ansiou pelo merecido descanso que Clotho propôs.

— Era você mesmo quem eu estava procurando — alguém se aproximou de repente e ele precisou deter os passos.

— Eris — havia pouca simpatia na sua voz. — O que você quer?

— Soube que você está à frente do projeto do orfanato.

Ele mostrou abertamente uma expressão desconfiada.

— Sim...

— Tô dentro.

— Você quer participar? — precisava entender bem o que ele queria.

— Isso mesmo.

Cassian não confiava nas intenções dele. É certo que ambos não tinham uma relação amigável, não apenas pelo vínculo de Eris com o ex-namorado canalha de Feyre, mas pelo tempo que foram colegas de time. Algum tempo atrás, Cassian fez parte do time de hóquei da UP e os dois se desentendiam com frequência.

— Por quê? — teve que perguntar.

— Para ajudar o próximo, claro. Fazer algo importante pelos mais necessitados.

Contendo a vontade absurda de revirar os olhos, Cassian quis muito dizer não. Mas estava longe de ser esse tipo de pessoa, que coloca suas desavenças pessoais acima de uma causa importante. Nesse projeto em específico, poucos voluntários haviam se candidatado e, por isso, toda ajuda era bem-vinda. Mesmo vindo de alguém como Eris e de uma forma tão suspeita.

— Tudo bem. Mas saiba que isso não é uma brincadeira. Levamos a sério cada compromisso com o voluntariado e esperamos a mesma responsabilidade de você.

— Ok, pode ficar tranquilo. Tenho muito interesse nesse projeto — no sorrisinho de Eris havia coisas encobertas que Cassian ainda não sabia, mas descobriria em breve.

Eris deu batidinhas no seu ombro em despedida.

— Qualquer novidade me avise — o homem disse, antes de se distanciar.

Pela primeira vez se esforçou para acreditar nas palavras de Eris. Estava empenhado em fazer a ação na Corte dos Sonhos dar certo. Desde o momento em que conheceu o orfanato, prometeu a si mesmo que mudaria a realidade deles, ao menos o máximo que poderia.

Os irmãos também vinham o auxiliando nessa tarefa. Compartilhavam juntos uma história de abandono, recebendo um senso de justiça e consciência muito forte sobre adoção. Foram adotados quando ainda eram pequenos, e embora o orfanato que viveram por tantos anos não existisse mais, sempre encontravam formas de ajudar outras instituições.

— Ei, Cassian — ficou tão absorto nos próprios pensamentos que só percebeu a presença de Vassa quando ela se postou diante dele. — Distraído?

O laço que nos une | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora