Capítulo onze

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Nestha aproveitou o tempo livre na faculdade para ler. Finalmente o livro de Clotho estava com ela, depois de ter passado por Emerie e Gwyn. Agora estava em uma parte muito interessante da leitura e não gostaria de parar. Sentou-se no banco do campus, sentindo o clima ameno da manhã, onde o calor do sol e o vento fresco se uniam ritmicamente.

Com o livro aberto diante do rosto, ela devorou as páginas e imergiu na história sem prestar atenção no mundo externo. Mesmo com o barulho de conversas, continuou envolvida na cena, escutando apenas o diálogo dos personagens criando vida dentro da própria mente. Rika e Grant se casaram por conveniência. Um acordo tático e sem emoções, mas que deveria seguir as leis do povo vinking onde a protagonista vivia. Agora eles estavam tendo sua primeira noite juntos.

Movida pelas palavras que lia, sentiu um calor muito intenso e vivo sobre seu corpo, enrubescendo lugares que o vento não poderia tocar. Cruzou as pernas involuntariamente, compenetrada demais na cena e nas sensações da própria imaginação.

"Ela sentiu-se úmida, quente e palpitante de desejo."

Uma voz recitou o trecho do livro, arrancando-a bruscamente da leitura. Colocando a mão no peito, ela olhou para trás e viu Cassian inclinado, tendo uma ótima visão das páginas.

— Agora entendo por que você é tão dedicada à leitura — o sorrisinho no canto dos seus lábios era de puro cinismo, fazendo as bochechas de Nestha arderem.

Primeira regra das leituras picantes: não deixe ninguém ver o que você está lendo.

Ele deu a volta no banco e se posicionou diante dela. Nestha rapidamente fechou o livro e se levantou. Tentou trancafiar bem fundo o fio de constrangimento, mas a face avermelhada denunciava suas emoções conflitantes: a vergonha de ser flagrada e a sensibilidade que aquela leitura deixou.

— Isso aqui não é uma leitura coletiva. Não te convidei pra participar também.

Cassian não respondeu ao comentário, apenas a encarou com muita diligência e percorreu as pupilas pelo seu rosto afogueado. Ele a encarava como um banquete em meio à escassez, como água depois da seca. Nestha constatou que não impediria nenhum movimento dele. Ela cederia, saciaria a sua vontade sem protestar. 

Ele deu um passo à frente, contaminando toda a atmosfera de tensão. Inclinou a cabeça para mais perto dela e conferiu a capa do livro nas suas mãos.

— A Deus do Gelo*... Por acaso fizeram um livro sobre você?

Nestha fez o possível para se mostrar indiferente ao dizer:

— Eu seria facilmente a inspiração de alguém. Ao contrário de você.

— Ah, não. Com certeza tem um cara bonitão, musculoso e com cabelos longos que a protagonista é apaixonada.

Nestha nem tentou prender a risada, deixou que Cassian ouvisse perfeitamente o som do sarcasmo. Ela fingiu que aquilo era uma ideia absurda, pois no fundo estava sendo completamente falsa. Grant, o personagem do livro, e Cassian possuíam características parecidas, na aparência física e na personalidade. Como isso seria possível? Poderia facilmente imaginar o homem à sua frente na cena que lia antes de ser interrompida: despindo-se das roupas, cobrindo-a sobre a cama e distribuindo beijos calorosos por todo o seu corpo...

Não! Isso é só o efeito da leitura.

— Sempre me espanto com seu ego — ela disse, afugentando os pensamentos inconvenientes.

Os braços dele se cruzaram e uma curvinha tomou o canto da sua boca.

— Não tente disfarçar. Você sabe que estou certo — vendo o vinco inquisitivo entre as sobrancelhas dela, ele girou o livro nas mãos de Nestha e apontou para o homem desenhado na capa. Uma figura menor e mais distante que a protagonista, mas visível e igual a descrição que ele havia feito.

O laço que nos une | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora