Capítulo doze

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Os ponteiros do relógio seguiam seu percurso no mesmo compasso, sem nenhuma falha no tempo ou na constância. O som ritmado ecoava na sala vazia sem móveis. Nestha encarou o objeto suspenso na parede, mas sem realmente prestar atenção nele.

Só conseguia pensar no que não devia, nas palavras de Cassian que a perseguiam.

"O que você espera que eu aprenda com o Sr. Darcy? A ser desagradável com a mulher que sou apaixonado?"

Ele estava apaixonado ou a declaração era totalmente hipotética, baseada no debate literário?

Imaginá-lo apaixonado por alguém causou uma fisgada no peito dela, exatamente igual ao que sentiu quando ouviu o comentário pela primeira vez no dia anterior. A dorzinha que a atingiu bem no meio do coração poderia ser um sinal de problemas cardíacos. Deveria procurar um médico.

Ela retirou o relógio da parede, encostando-o no canto da sala.

— Oi, Nestha — escutou uma voz feminina dizer, entrando no cômodo.

— Oi.

— Me chamo Roslin. Topei com Cassian no corredor e ele disse que vocês vão pintar a sala. Por hora, só é preciso passar uma tinta branca. Essa é a sala de recreação e pensei em pintarmos alguns desenhos na parede, mas eu particularmente não sou muito boa nisso.

Nestha já a vira antes, na última reunião com o voluntariado. Dessa vez, assim como naquele dia, ela segurava uma prancheta nas mãos, provavelmente certificando o andamento das coisas.

Eles estavam no orfanato, dando continuidade à reforma. Nestha e Cassian ficaram responsáveis pelas pinturas das salas que faltavam.

— Conheço alguém muito bom com desenhos — ela pensou em Feyre. — Com certeza ela vai ficar feliz em ajudar.

— Verdade? Seria incrível! — Roslin, ainda próxima à porta, percebeu a presença de alguém atrás dela. Abriu passagem para Cassian entrar na sala, carregando dois baldes de tinta como se não pesassem nada. — Ah! Oi, Cassian.

Nestha não deixou de notar a breve ansiedade no corpo de Roslin quando Cassian chegou. Uma checada rápida nos cabelos e na postura foram o suficiente para denunciá-la.

Ele deixou as tintas no chão e se dirigiu a ela:

— Já temos tudo o que precisamos?

— Quase tudo — ela encarou a prancheta, fazendo Cassian se aproximar mais para seguir a linha da sua visão. — O cortador de grama que tínhamos está quebrado, mas não se preocupe, já consegui outro emprestado e foram buscar.

— Já falei que adoro sua eficiência?

— Milhares de vezes! — a mulher revirou os olhos teatralmente, mas o gesto displicente não foi o bastante para esconder a satisfação com o elogio.

Para Nestha estava tudo muito claro. Pela familiaridade entre os dois, eles pareciam ser próximos. Seria ela a pessoa por quem Cassian estava apaixonado? Por alguma razão desconhecida, ela não gostou dessa constatação. Não gostou da forma que ele estava tão perto dela, embora sua atenção estivesse totalmente concentrada na prancheta. Queria segurar seu braço e puxá-lo dali, mas obrigou-se a permanecer onde estava e não agir de forma tão patética.

— Pensei em fazermos algumas pinturas nessa sala e Nestha disse que conhecia alguém muito bom com desenhos.

Então ele encarou a Archeron mais velha e disse:

— Feyre vai ficar feliz em ajudar.

— Foi exatamente o que Nestha disse — Roslin falou.

Cassian não tirou a vista depois do comentário, permaneceu concentrado nela como se fosse uma obra no museu.

O laço que nos une | NessianOnde histórias criam vida. Descubra agora