Rotina. Quando era criança odiava a ideia de ter uma rotina, talvez fosse por ver os pais tão metódicos e sistemáticos nos próprios hábitos. Acordavam sempre às sete, tomavam café da manhã em família, o pai ia trabalhar e a mãe o mandava para escola, durante as tardes tinha que estudar, enquanto acompanhava sentadinho a mãe fazendo os doces que vendia. Aos fins de semana, após o café deveria voltar ao quarto para ler, mas não qualquer livro, eram sempre os pré estabelecidos pelo pai.
Jungkook nunca lia, bom, quase nunca. Mas em geral, colocava o seu velho rádio para tocar baixinho e dançava. Rodopiava feliz pelo quarto, decorando e criando passos para os sons que ouvia, para a batida que sempre parecia sincronizar com seu coração. Seu pequeno momento de paz. Não importava o dia, a hora ou o tempo que tinha livre, se era possível dançar, sempre aproveitava, sempre deixava-se levar.
Sabia que os pais não gostavam, ouviu muitas vezes eles falarem que dança era coisa para garotas, meninas deveriam ser bailarinas, e somente meninas, mas era mais forte que ele. Amava dançar e de forma tão inocente via na dança sua felicidade. Mesmo depois das surras que o pai lhe dava quando descobria sobre suas danças escondidas, mesmo depois de chorar quando teve seu rádio jogado fora pela mãe. Não acreditava que era culpa da dança, e como uma boa criança ingênua que ama os pais acima de tudo, sempre os perdoava.
Quando a adolescência chegou, sentia-se uma bomba relógio. Uma bomba de sentimentos confusos e desconhecidos, inseguranças e medos. Não conseguia confiar nos pais o suficiente, não sabia com quem falar adequadamente sobre toda a nuvem em seus pensamentos.
E foi quando começou em seu emprego de meio período, aos dezesseis anos, que conheceu seu próprio sol, o melhor amigo que poderia ter e que ajudou Jungkook a entender o que eram todas aquelas sensações. Jung Hoseok tinha dezessete anos na época e foi para Jungkook um farol. E o porto seguro quando tudo começou a realmente dar errado.
Quando os pais de Jungkook o flagraram aos beijos com um garoto na rua de trás de casa, foi quando ele viu todos seus sonhos irem ladeira abaixo. Tinha acabado de completar o ensino médio, recém completado seus dezoito anos, e ainda nem sabia como iria explicar para os pais que queria cursar dança na faculdade.
O pai o arrastou para casa, usou palavras pejorativas de todos os tipos. A mãe, do canto da sala, assistia tudo calada. Jungkook estava sentindo seu coração partir, as lágrimas banhando todo seu rosto. As pessoas que ele mais amava no mundo, sendo as mais cruéis. A chave de ouro foi a expulsão, ainda se lembrava das exatas palavras que ouviu do pai naquele dia.
"Eu sempre soube, sempre que via você dançando feito um 'viadinho'. E eu não aceito esse tipo de comportamento imoral aqui dentro, pegue suas roupas e saia da minha casa, imediatamente."
Esse dia doeu como um punhal direto no coração, sentiu tanta aflição e tanto frio. Inverno de dor que ainda leva no coração, e nas noites mais difíceis acorda com o peito apertado e os vestígios de um pesadelo real.
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Implícito || Taekook
FanfictionLevando uma vida extremamente corrida em dois empregos, assistente administrativo durante o dia e stripper à noite, Jungkook faz de tudo para conseguir se manter e realizar seu sonho: abrir sua própria escola de dança. Mas tudo muda quando, ao seu c...