01. Motivos Pra Ser Folgado

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Para Taehyung, a pior época para trabalhar com aquela fantasia — a qual julgava ridícula —, era no verão coreano. Nessa estação, suava debaixo daquele trambolho que cobria sua cabeça e derretia seu cérebro, somado ao desconforto que era estar vestido com um tecido pinicante daqueles. A coluna doía e a pressão abaixava. Era um horror e parecia que aquela fantasia de tigre tinha pulgas. Estava convicto de que o freelancer anterior, cujo foi cortado do serviço, havia jogado algumas pulgas dentro da fantasia só de raiva pelo pé na bunda.

Faria o mesmo.

Por incrível que pareça, o mais irritante não era o coça-coça aqui e ali que sentia, e sim a necessidade de uma extrema animação, suficiente para chamar atenção no calçadão do Centro em meio a tantas outras lojas e chamarizes de atenção. Animação, Taehyung não tinha de sobra, mas por dinheiro ele dava um jeito. Em sua defesa, era difícil ter animação, pular e dançar durante todo o expediente quando se chega tarde em casa após ter aulas teóricas e massivas na faculdade. Quando em semana de provas, piorava tudo. Mas, em um contraponto à defesa, não era a pessoa ideal para aquele trabalho, não era contagiado pela muvuca, era na verdade engolido por ela e saía estressado. E por isso, quando lhe viam fora do personagem mascote da loja, qualquer um já sabia que estava esgotado só de ver suas olheiras tenebrosas e face de quem estava prestes a jogar tudo pelos ares.

Perto do horário de almoço, lá estava Taehyung, trajado de tigre e pegando a garrafa d'água na geladeira de vendas de produtos já gelados. A cabeça de tigre, parte da fantasia, estava meio torta e tombada em sua cabeça porque uma criança no colo da mãe bateu naquela parte de seu traje. Terrível. E quando crianças interagiam, tinha que dar corda, porque o mascote da loja servia como atrativo para fisgar seus pais, mães ou responsáveis para dentro do estabelecimento.

Tirou aquela parte superior da fantasia com o rosto pingando de suor e notou seu chefe próximo, aparentemente saindo. Olhou-o torto, de cima a baixo.

Com muito abuso, Taehyung questionou o superior.

— O que foi?

— Fiquei sabendo que lá te aceitam — seu chefe expressou fazendo um sinal com a cabeça à direção exata do Imperdível, a mega rede de supermercados do outro lado do calçadão, a qual o senhor Byun era acionista majoritário. — Já começa com o salário no topo com os favores.

Desde a aproximação de Taehyung e o senhor Byun, estava sendo alvo de piadinhas recorrentes. Era óbvio que essa era mais uma delas. Taehyung entreabriu os lábios para esboçar uma pergunta, mas desistiu. Iria perguntar para seu patrão "que favores?", mas bem, era claro e todo mundo sabia o que significaria se começasse o trabalho já no topo daquele negócio do idoso — que era até muito legal consigo.

Escolheu dar mais um gole na garrafa d'água, rosquear aquele plástico, entregar para o patrão e entrar em silêncio para a loja, fingindo que iria para o banheiro, quando na verdade, iria sentar na tampa do vaso e apenas procrastinar após lavar o rosto na pia, chateado pela vida de merda.

— Eu odeio esse trabalho — o Kim resmungou sozinho, andando com aquela cabeça de tigre segurada debaixo do braço como um piloto de moto faz com seu capacete. Foi indo pelo corredor composto por mostruários nas extremidades, que condicionavam estrategicamente os clientes a adentrarem cada vez mais e mais ao interior da loja, até chegarem ao caixa e se depararem com o caixa.

Assim funcionava o visual merchandising.

Diferente de clientes, Taehyung adentrou à copa com a porta de acesso lateral à bancada de pagamentos, a fim de ir ao reservado.

Seokjin, seu irmão — e um dos responsáveis pela caixa registradora —, viu-o passar pela bancada e riu de sua desgraça seguindo-o com o olhar, porque Taehyung estava com aquele andar estranho pelo calçado grande e em formato de patas de tigre. Era a mesmíssima sensação de ver alguém andando com pés de pato.

Ofertão 1,99 [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora