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É muito difícil ir embora - até você ir embora de fato. E então ir embora se torna simplesmente a coisa mais fácil do mundo.
-Cidades de papel
O dia estava nublado o que parecia deixar tudo triste, S/n que sempre amou os dias de sol, achou o clima apropriado para o que estava prestes a fazer.
── Aqui está, boa viagem ── o homem robusto do caixa falou lhe tirando de seu torpor.
── Obrigada.
A garota deu um sorriso sem mostrar os dentes pegando o troco e sua passagem e os colocando no bolso de trás de sua calça jeans surrada. Andou até um banco ali perto afastado das outras pessoas e se sentou, colocando sua mochila entre seus pés.
Olhava para os trens passarem do outro lado da estação enquanto pensava em tudo que estava deixando para trás, pensou em suas irmãs que ficariam á mercê de sua mãe, em seu gato Romeu e quase desistiu, estava lutando contra si mesma entre ir embora e sair correndo dali e ir para sua casa onde encontraria sempre a mesma gritaria, os mesmos abusos psicológicos, mas ainda sim continuaria sendo sua casa e seria como se ela nunca havia saído. Pensou em Timmy, o garoto magricela que a seguia em sua bicicleta pra onde a garota ia desde pequena, de longe seu melhor amigo e seu primeiro amor e desejou do fundo de seu coração que pudesse ficar.
Suspirou e encostou a cabeça na parede olhando para os céus, rezava baixinho implorando por um intervenção divina caso fosse para ela desistir, mas não recebeu nada e por isso continhou ali, esperando em uma angústia quase palpável o horário de sua partida.
Algumas gotas de chuva começaram a cair e com elas algumas lágrimas escorriam pelas bochechas da garota que as secou rapidamente e continuou olhando para frente, para o outro lado da estação onde pessoas aleatórias seguiam suas vidas. Viu uma figura se aproximar por sua visão periférica e a ignorou.
── Eu não acredito que você iria embora sem se despedir ── Timothée falou, sua voz carregava um tom de aborrecimento o que fez o coração da garota doer.
── Teria sido mais fácil.
Ela deu de ombros e olhou para ele tentando não focar nos olhos do garoto que a encarava, ele sentou ao seu lado, suas pernas se tocavam.
── Pensei que iríamos juntos. Era esse o plano.
── É eu sei, mas você nunca poderia fazer isso Timmy.
── Eu faria caso você pedisse ── sua voz saiu embargada, parecia estar fazendo um esforço enorme para não chorar ── eu faria isso S/n.
── Eu nunca poderia pedir isso Timmy e você sabe.
A menina agora olhava nos olhos do garoto, podia sentir o quanto estavam tristes, estendeu sua mão segurando a dele entrelaçando seus dedos, sentindo o toque macio que a pele do outro tinha pela última vez.
── Eu trouxe isso ── ele falou depois de um tempo, quebrando o silêncio que pairava sobre eles tirando seu chaveiro de coelho do bolso e entregando nas mãos da garota ── Para te dar sorte na viagem.
Ela segurou entre os dedos e apertou sentindo a pelúcia minúscula. Agora chorava sem cerimônia.
── Pensei que eram pés de coelho que davam sorte.
──O Sr. Bigodes também ── ele falou fazendo a garota rir daquele nome ridículo ── aliás ele é um coelho e tem pés. Sorte em dobro.
── Talvez você tenha razão.
── Pode acreditar que sim.
Era possível ouvir o trem se aproximando da plataforma em que estavam, ambos sentiram seus peitos apertarem e os sorrisos trocados durante o presente morreram em seus rostos. Se levantaram. S/n colocou a mochila em seus ombros e se virou para Timothée.
── Você promete que não vai se esquecer de mim? ── ela quase sussurrou a frase, seus olhos arregalados parecendo meio assustados.
── Só se você prometer não se esquecer de mim também.
── Eu prometo ── ela levantou o dedo mindinho para entrelaçar no do garoto que também estava levantado, tornando a promessa real.
O trem parou e abriu as portas, lançando um vento quente em direção a eles, o maquinista desceu gritando para que todos os passageiros subissem. A garota se atirou nos braços de seu amado o envolvendo em um abraço apertado e o beijou, seus lábios se encaixando nos dela de um jeito intenso, quase desesperado, mas ela não se importou. Era possível sentir a paixão que aquele último beijo carregava, as mãos grandes dele envolvendo sua cintura e naquele momento a garota decidiu que poderia ter quantas moradias fosse, aquele sempre seria o seu lar, aquele beijo, aquele abraço, o garoto que só andava de bicicleta. Aquele era o seu lar.
── Eu vou te amar para sempre Timmy.
── Eu vou te amar para sempre também S/n.
Tiveram que se soltar quando o maquinista anunciou a última chamada. O trem estava para partir. A menina começou a andar a passos decididos determinada a não olhar para trás e entrou no vagão tomando um assento perto da janela, quando olhou para fora Timothée estava com lágrimas nos olhos, parecia quebrado. A garota abriu a janela colocando a cabeça para fora e falou em voz alta e quase não reconheceu o som própria voz quando a mesma saiu de sua garganta embargada, sua visão estava embaçada de tantas lágrimas.