● gatilhos: uso de drogas.
não vi,
não,
senti.
E quando nossa música parou
eu continuei dançando
sem ritmo
e
sem você.-Cartas queimadas do
meu barQuerido Timothée,
Ainda me lembro daquele dia em que você desapareceu alguns meses atrás, foram apenas quatro dias, mas para mim pareceram anos. Lembro de como eu e seu pai procuramos por cada maldito canto dessa cidade, me lembro bem da sensação de desespero por não te encontrar e da sensação de insuficiência que tomou conta de mim quando mesmo depois de tanta procura e tanto esforço nós aceitamos a derrota e voltamos para casa sem você. Algumas horas depois você me ligou chorando desesperado me pedindo para ir te encontrar, para te ajudar. Eu sai correndo. Ainda tenho as multas que tomei por excesso de velocidade quando sai pelas ruas a 160km a sua procura, quando te encontrei exatamente no ponto onde você tinha falado notei que naquele tempo todo você sempre esteve embaixo dos nossos narizes.
Você estava jogado em um beco, suas roupas estavam rasgadas, estava coberto de seu próprio vômito, lágrimas que pareciam brilhar na luz da lua saiam de seus olhos, estava frio e por isso você tremia um pouco, ainda havia uma agulha injetada em seu braço que você sequer teve forças para tirar. Naquela hora jurei que iria desmaiar, senti como se algo em meu interior houvesse se partido ao ver o amor da minha vida jogado na rua naquele estado e eu pude ouvir algo sendo rompido naquele mesmo instante.
── Você veio mesmo ── pude te ouvir sussurrar, sua voz soava cheia de mágoa, tristeza e dor.
E naquela hora eu me odiei por deixar você pensar em algum momento que eu te deixaria daquele jeito, me senti culpada pela briga que tivemos antes de você resolver fugir e deixar tudo para trás, como se pelo simples fato de querer te ajudar e exigir que você parasse de se drogar, quando você saiu pela batendo a porta dizendo que eu não te aceitava e não gostava de você como você era, eu pudesse ter me tornado cúmplice do seu vício. Só fui entender depois que eu não tinha culpa, nem você tinha culpa para ser sincera, só estavamos lidando com uma doença que destrói até o último resquício de humanidade de alguém, tira a dignidade, os parentes, os companheiros, vai tirando a vida aos poucos, até sobrar só a mínima consciência de alguém em um beco coberto de seu próprio vômito. Naquela época nós ainda não tinhamos consciência disso.
Me lembro de reunir todas as minhas forças e me forçar a mexer meus músculos que pareciam estar paralizados para te tirar dali, te coloquei no carro o mais rápido que consegui e mais tarde quando você já estava internado na UTI por overdose o médico disse que se eu tivesse demorado mais alguns minutos e eu levaria para casa um cadáver.
Quando ainda estava na estrada liguei para o seu pai que atendeu no segundo toque do telefone, o imaginei sentado em seu escritório esperando por qualquer notícia que o levasse ao paradeiro de seu filho mais velho, seu primogênito. O avisei onde estavamos e em questão de dez minutos ele entrou desesperado na recepção, ansiando para te ver. Ficamos ali a noite toda, tomamos sei lá quantos copos de café para nos mantermos acordados enquanto esperávamos, no fim estávamos nós dois na sala de espera quase vazia dormindo nas cadeiras, tive dores nas costas por uma semana.Quando você acordou no dia seguinte deixei seu pai entrar primeiro e fiquei ali me preparando mentalmente para o que eu estava prestes a ver. Entrei no quarto e me lembro que só podiamos ficar por pouco tempo e ao te ver ali cheio de fios, conectados a máquinas que naquele momento o ajudavam a se manter vivo, foi ali que me permiti chorar. Chorei desesperadamente segurando sua mão que mesmo depois de tudo aquilo ainda se mantinha aquecida do jeito que sempre foi, a mesma mão que fizera carinho nos meus cabelos incontáveis vezes, que segurou a minha e dissera que iria ficar tudo bem mesmo quando o mundo parecia acabar.
── Eu sinto muito ── sua voz saiu abafada e quase inaudível por baixo do inalador conectado ao seu rosto ── eu sinto muito S/n.
── Eu pensei que você fosse morrer, fiquei tão assustada Timmy.
── Eu também pensei.
── Nunca mais faça isso.
── Posso te garantir que ser internado não estava nos meus planos.
E eu dei risada, acho que foi mais um riso de alívio do que de qualquer outra coisa.
Dias depois você foi liberado do hospital e começou a fazer um dos programas de reabilitação que seu pai havia visto na internet e pareceu que você havia revivido no meio de tantos cabos daquele quarto frio e terrivelmente branco da ala hospitalar, eu nunca havia te visto com tanta vontade de viver antes e eu não poderia estar mais feliz com isso por mais que para recomeçar você tivesse que deixar para trás alguns aspectos de sua antiga vida. Depois de conversar com seu psiquiatra ficou decidido que o melhor para nós seria nos afastarmos até você estar estável o suficiente para ter um relacionamento e eu entendi Timothée, eu juro que entendi, mas isso não me impediu de sentir sua falta em cada maldito dia. Foi por isso que tenho te enviado cartas durante todo esse tempo, para você saber que sempre terá um lugar aqui, que sempre será amado e aceito, que eu te esperarei por quanto tempo for até que você fique bem o suficiente e eu quero estar presente quando você chegar lá, porque eu te amo e vou te amar pelo resto de nossas vidas. Se bem que uns 70% do motivo das cartas é para lidar com a falta que você faz, ainda ouço o disco daquela banda que gostávamos e me imagino ouvindo ao seu lado e cantando alto como faziamos nos velhos tempos.
Com amor, S/n.
Notas: Ooi, esse cap foi algo bem diferente, eu nunca havia escrito nesse estilo, mas eu adorei escrever. Espero que tenham gostado e estejam gostando tanto quanto eu de acompanhar as histórias! Obrigada.
PEDIDO DE deliadeliabot
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𝑰𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒆𝒔/𝑻𝒊𝒎𝒐𝒕𝒉𝒆𝒆 𝑪𝒉𝒂𝒍𝒂𝒎𝒆𝒕
Fanfiction↝históriɑs de ɑmor com finɑis felizes (ok, ɑs vezes nem tα̃o feliz ɑssim) ⚠️𝑒𝑠𝑠𝑎 𝑒 𝑢𝑚𝑎 ℎ𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑓𝑖𝑐𝑡𝑖𝑐𝑖𝑎 𝑒 𝑛𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑟𝑖𝑡𝑜 𝑎𝑞𝑢𝑖 𝑝𝑜𝑑𝑒 𝑜𝑢 𝑑𝑒𝑣𝑒 𝑠𝑒𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑖𝑑𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙⚠️