AVISOS: É importante relembrar que isso é uma história de ficção, portanto o suicídio aka romeu e julieta, não tenho intenção de romantiza-lo de forma alguma e caso você tenha pensamentos suicidas procure ajuda!!!
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Mas a morte é agradável demais e eu não quero falar sobre o que é agradável. Eu quero falar sobre a grande tragédia que é a vida.
-Charlie Barkley
Querido Timothée,
Me lembro do ano novo passado quando você me pegou pelas mãos naquela praia deserta quando deu meia noite e me fez juras de amor, as palavras mais belas saiam de seus lábios e entravam pelos meus ouvidos me deixando embreagada por tudo que nós éramos.
Você me disse e eu ainda me lembro claramente de cada palavra, como se elas tivessem sido gravadas a ferro em minha memória.
── Esse é o primeiro de muitos momentos que gostaríamos que durassem para sempre, esses momentos são raros e só acontecem algumas vezes por ano. Até agora só tive cinco e todos eles foram com você ── Você olhou para mim e ali na calada da noite foi como se seus olhos fossem duas das mais belas estrelas orbitando ao redor da terra ── Não quero parecer meloso demais, mas S/n você é a pessoa pela qual cada batida do meu coração é destinada, você é o motivo dos meus sorrisos mais sinceros e quando nós brigamos é como se o mundo inteiro estivesse ao seu lado e os ventos mais raivosos fizessem parte de ti. Eu te amo tanto que daqui a milhões de anos quando tudo que conhecemos tiver desaparecido e não passarmos de partículas minúsculas de poeira desaparecendo e ficando menor a cada dia que passa, quando isso acontecer meu amor por você ainda existirá, mesmo que em cada pequeno canto de cada pedacinho desse universo. Porque um amor como esse é incapaz de ser apagado e nem o universo ou o tempo, os mais cruéis de todos os vilões seriam capazes de apagá-lo.
Me lembro de ficar sem palavras, é que me parecia bom demais para acontecer, ninguém nunca havia falado coisas tão bonitas para mim. Fiquei um tempo em silêncio sentindo o nó de emoção que havia se formado em minha garganta, nada que eu pensava em dizer parecia ser grande o bastante perto de tudo que éramos. Sua mão era fria contra a minha. Seu sorriso era triste apesar de tudo.
── Eu sei o quanto esse ano foi difícil, sei o quanto as vezes é fácil esquecer as coisas boas quando estamos diante de algo grandioso, sei o quanto é difícil de seguir em frente quando cada parte de você já desistiu ── falei olhando para o mar, eu não ousaria olhar em seus olhos naquela hora nem que me dessem um bilhão de reais ── Mas quero que saiba o quanto estou orgulhosa por ter você aqui comigo. Você conseguiu Timmy. Um dia de cada vez e você conseguiu.
Esticamos um casaco velho que você carregava para todo canto no chão e nos deitamos embaixo das estrelas sentindo o peso do céu nos esmagando. Deitei em seu peito sentindo cada batida do seu coração que estava tão acelerado que achei graça, nossos dedos se entrelaçam juntos como cada passo daquela dança lenta que você amava.
── Como você se vê daqui um ano? ── eu perguntei quase sussurrando.
── Espero que aqui, com você. Para mais um ano novo com você, espero que tenha vários e quando tivermos filhos iremos trazê-los aqui e contar essa história.
── Jogaremos as expectativas de história de amor lá em cima.
── É, nossos genros e noras terão que se superar.
── Talvez nunca supere. Mas nossos filhos não merecem migalhas, eles merecem algo grande, mais que nós ── seu tom de voz era baixo e eu conseguia senti-lo sorrir mesmo sem estar olhando para você.
Olhei para você e naquela luz você parecia tão bonito que fazia meu estômago doer, sua pele reluzia e cada detalhe seu o fazia parecer uma das estátuas de Michelangelo. Aproximei meus lábios dos seus te beijando e foi como se fogos de artifício explodissem dentro de mim, foi um beijo calmo, tão apaixonado, como se anos de paixão estivessem guardados ali, como se todos nossos sentimentos estivessem depositados em uma troca de saliva superestimada, mas que quando com você se tornava mágico demais. Nos beijamos por alguns minutos, a praia estava tão vazia que dava para ouvir nossos lábios se chocando, sua mão viajou da minha cintura até minha nuca como se quisesse tocar cada pedacinho meu, como se eu pudesse desaparecer entre seus dedos.
── Feliz ano novo, S/n.
── Feliz ano novo, Timmy.
Não me lembro como aquela noite acabou, não lembro se ficamos ali ou fomos para casa, mas me lembro de pegar no sono e entre meus sonhos ouvir sua voz sussurrando um pedido de desculpas no meu ouvido. Eu daria tudo para poder voltar no tempo e no meio de todos aqueles sonhos acordar só para segurar suas mãos e te impedir de fazer o que seria a maior burrada de nossas vidas. Foi como se para me punir por aquelas poucas horas de sono mal dormido em algum lugar que eu nem sei direito onde era a vida tivesse me guardado um vislumbre do próprio inferno, embrulhado para presente e deixado a porta da minha casa como a caixa de pandora. Só esperando ser aberta para poder se revelar.
Acordei na manhã seguinte dentro do seu carro na beira daquela maldita estrada que nunca consegui passar novamente. Havia sirenes em todo lugar e luzes vermelhas piscavam distorcendo uma paisagem que antes era tão linda. Vi seu corpo jogado em uma maca sendo tirado da areia, sua mão para fora da lona estava em um tom de roxo que seria preocupante caso preocupações com sua saúde ainda estivesse no topo da lista aquela altura do campeonato.
Chegaram perto de mim dizendo palavras apressadas, milhões de perguntas que demoraram para serem raciocinadas pelo meu cérebro lento e recém acordado e que até onde eu sei poderia estar saindo de algum tipo de choque.
── Como?
── Sinto muito senhorita, seu namorado foi encontrado tarde demais para podermos ressuscitar.
── Não, ele ainda está vivo. Tenho certeza.
── Sinto muito.
A ficha demorou a cair e quando caiu foi como se todos meus órgãos tentassem se revirar em agonia. Hoje alguns anos depois estou aqui em um cemitério qualquer, ao lado do seu túmulo escrevendo para você mesmo que você não esteja mais aqui a anos. Duas taças do seu champanhe favorito estão servidas como se de repente você fosse levantar e tomar comigo, brindado e falando coisas sem sentidos como era antes.
Pego a minha e viro todo o líquido sentindo o gosto adocicado como veneno antes de engolir de uma vez só. Levanto a taça para brindar com o vento e digo pela última vez.
── Até que a morte nos separe.
A última coisa que ouço antes de cair é o som do vidro quebrando, mas já estou longe e qualquer vestígio de vida que restava em mim já escapou entre meus dedos. E somos um só novamente flutuando no espaço contínuo com nossos planos frustrados e nosso romance que ficou longe de dar certo.
Além dessa vida e com amor, S/n.
Notas: Quero agradecer a todos vocês por terem me acompanhado durante esse ano, vocês foram muito importantes para a realização de cada capítulo aqui! Eu não seria metade da escritora que sou hoje sem o apoio de vocês.
Esse é o último capítulo do ano por razões óbvias kkk e não pude fugir de um final trágico, desculpa mas a depressão de fim de ano ta paga KKKK É isso. Feliz ano novo e que 2022 seja um ano de muita luz para todos nós.
