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e eu sempre lembrarei do fogo que acendeu quando bati meu olho no teu.
-Inverno em saturno
Na véspera do casamento de S/n as folhas caiam secas lá fora, anunciando a chegada da estação mais deprimente do ano, o Outono se aproximava trazendo consigo a solidão que havia se instalado no peito da garota desde que ficará sabendo da grande notícia. A filha mais velha do rei de Arcadia, S/n iria se casar e para sua tristeza com alguém a quem seu coração jamais pertencera. A menina sentia-se deprimida demais para sequer lutar contra o desejo de seu pai que fazia o que bem entendia para a saúde e bem estar de seu reino.
Arcadia era um lugar distante onde a monarquia ainda se fazia viva, o lugar dos verões mais belos de todos os sete reinos, sua beleza era de fato grandiosa e a garota sabia que deveria ser grata por estar prestes a herdar tudo aquilo sob o que seu olho repousava, mas era difícil quando pensava em tudo que teria que abrir mão para que o sonho de seu pai se tornasse realidade.
No dia anterior ao grande dia teriam uma festa para celebrar o que estaria por vir, o reino estava mais animado que nunca, lâmpadas festejantes estavam sendo penduradas por toda cidade, uma velha tradição que dizia que no dia as luzes guiariam o novo amor para o peito dos apaixonados no dia de seu casamento, S/n amava essa tradição, mas não acharia que funcionaria com ela e seu noivo nem que todos os cantos da cidade estivessem repletos de luzes brilhantes, para o amor ser guiado precisava haver paixão e a garota estava longe de sentir isso pelo outro, no lugar onde era para existir carinho parecia haver uma pedra de gelo impossível de derreter.
A menina terminava seus últimos preparativos em seu quarto, aplicou o blush em suas bochechas e sua pele apesar de pálida se tornou rosada lhe dando um ar falso de felicidade, seus cabelos caiam pelo ombro em uma cascata e seus olhos pareciam tristes, apesar disso ela estava deslumbrante, sua beleza tirando suspiros de todos no salão quando a mesma fez uma aparição recebendo aplausos dos quais ela não se sentia merecedora. Gail, o príncipe que a desposaria pegou em sua mão e ela pode jurar que a mão alheia estava fria como a de um cadáver, um sorriso falto passou por seus lábios.
── Você está atrasada ── foi a única coisa que ele disse sendo disfarçada por um sorriso quando a viu, sua voz saindo como espinhos ── não temos todo o tempo do mundo para te esperar.
── Demorei para me arrumar, alguém aqui precisava parecer minimamente agradável ou as pessoas achariam que somos dois maltrapilhos se casando ── a princesa sorriu de volta proferindo as palavras em uma voz doce que a própria mal reconheceu ── da próxima vez demore mais um pouco para se arrumar e faça jus ao seu status de príncipe, meu querido.
O outro abriu a boca para retrucar, mas a entrada do rei ofuscou qualquer possível resposta, deixando-o com um gosto amargo na boca que durou a noite toda. Pelo resto da festa a princesa andou de um lado para o outro cumprimentando as mais diversas personalidades dos sete reinos, todos eram amáveis com ela o que a deixou com um aperto no coração, como se em seu interior ela já soubesse o que estava prestes a acontecer.
A música na festa era alta, luzes fortes, as pessoas dançavam e pareciam se divertir e foi ai que de longe ela notou que alguém a observava, no meio das árvores era possível vislumbrar a sombra magricela do homem que ela reconheceu na hora. Antes mesmo de chegar perto para comprovar ela sabia que era Timothée Chalamet, aquele por quem seu coração batia mais forte desde que haviam se conhecido anos atrás enquanto ela vagava pelo reino, já haviam passado incontáveis dias deitados sob o céu falando de um futuro tão improvável que se tornava engraçado, aquele a quem seu coração pertencia e as borboletas em seu estômago se excitavam só de ouvir a pronúncia de seu nome.
── Timothée? O que faz aqui? ── sua voz saiu desacreditada quando se aproximou do garoto, o barulho da festa se tornando tão distante que pareciam estar em outro planeta ── Pensei que sairia da cidade esta noite.
── Eu iria, mas não poderia me perdoar se eu partisse sem antes falar com você ── o garoto soava quase desesperado a luz do luar ── S/n por favor, venha comigo.
── O que? Você só pode estar brincando.
── Estou falando sério, querida, você é o motivo pelo qual as estrelas brilham todas as noites e ao contempla-las tenho certeza de que nenhuma jamais chegará ao seus pés, você é a razão dos meus sorrisos e meus sonhos mais malucos e eu não posso me imaginar em outro lugar, fazendo outra coisa que não seja estar com você ── ele pegou as mãos da garota fazendo sua pele se arrepiar e declarou tudo que sentia em meio aquele pedido desesperado ── Eu sei que se casará amanhã e você terá toda razão se recusar meu pedido, mas eu terei que partir esta noite e nunca me perdoaria se não a perguntasse, se não desse uma chance para nós.
O garoto encostou a testa na dela, suas respirações tão próximas que podiam jurar que estavam dividindo o mesmo ar.
── Venha comigo, querida ── ele sussurrou olhando nos olhos de sua amada, um olhar profundo como se estivesse lendo sua alma ── Venha comigo e seremos as pessoas mais felizes de todos os sete reinos, seremos a melhor história de amor já ouvida, você merece muito mais do que esse asno com quem está prestes a se casar.
Lágrimas peroladas escorriam dos olhos da garota, sentimentos confusos se passavam pela cabeça dela e uma única vez na vida ela decidiu que faria algo minimamente egoísta, algo que ela tinha certeza que jamais se arrependeria no futuro e decidiu partir com o garoto.
No dia seguinte o sumiço da herdeira do trono fora motivo de falatório no reino todo, quase todos pareciam ter algo a falar, alguns diziam que ela havia sido sequestrada na véspera de seu casamento, outros que ela havia adoecido e estavam tentando abafar a história, alguns até juraram tê-la visto correndo de mãos dadas com um rapaz qualquer correndo para longe como se estivesse caminhando para a liberdade, só depois de estarem bem longe que S/n mandou uma carta de esclarecimento e foi só ai que a história de amor mais bonita que o reino de Arcadia já viu ficou reconhecida. Séculos depois a história deles ainda eram contadas juntas de declarações dos mais jovens a luz do luar, juntos se tornaram eternos.
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