Capítulo 22

2.7K 155 32
                                    

-Você vai passar mal! - Serkan a advertiu com um sorriso divertido nos lábios.

-Nós estamos com fome. - Eda reclamou, manhosa. Seu prato estava cheio pela segunda vez e Serkan a observava do outro lado da mesa com os olhos atentos. - Ne?

-Nada. - Ele sorriu encabulado, uma pequena rusga surgindo entre suas sobrancelhas.

-É sério, Serkan... - Eda soltou o garfo e o encarou. - O que foi?

Ele meneou a cabeça e desviou os olhos dela, encarando a noite escura através da janela.

-Eu não sei como eu fui perder isso... - A voz de Serkan falhou e Eda o encarou, confusa. - Você e nossa filha.

-Serkan, nós já conversamos sobre isso. Está na hora de parar de se culpar. - Ela acariciou sua mão por cima da mesa. - O que você fez foi ruim e nos machucou, mas já passamos disso, certo?

Ele não respondeu nada, sua mente divagou para o dia em que estragou tudo.

-Olha para mim! - A voz de Eda o trouxe de volta para a realidade e ele pensou que seu peito se rasgaria de amor ao vê-la sorrir para ele, as covinhas perfeitas se formando em suas bochechas. - Nós vamos criar uma filha juntos, não quero que a culpa tome de você o que você tem de melhor.

-E o que seria? - Ele perguntou.

-Seu amor essa criança. - Eda soltou sua mão, mas antes que pudesse se afastar, Serkan a segurou novamente. Seus dedos se entrelaçaram inconscientemente. - Você é uma boa pessoa, seus momentos ruins não podem definir quem você é. Todos nós carregamos um pouco de escuridão dentro de nós.

-Não você! - Ele devolveu sem pestanejar. - Você é a pessoa mais pura que já conheci.

-Não, eu não sou.

Os olhos de Serkan a atravessaram como se conseguissem ler todos os seus segredos, como se pudessem curar cada uma das suas feridas mais profundas.

-Eu te odiei profundamente quando me deixou. - Ela confessou com a voz baixa, como se odiar o motivo da sua dor a transformasse em uma pessoa ruim. - Eu desejei coisas horríveis para você e quando te vi...

O rosto dela se contorceu um uma máscara de dor.

-Quando eu te vi daquele jeito... Eu nunca me senti tão mal por querer que você também sentisse tanta dor quanto eu.

-E eu senti, Eda. - A aflição da voz dele fez com que ela se levantasse rapidamente. - Eda!

-Eu preciso ir.

-Não quis te chatear, me desculpe! - As mãos quentes dele a tocaram na cintura e uma pequena faísca se espalhou pelo seu corpo.

-Você não me chateou, eu só... - Ela hesitou por um segundo antes de o encarar com seus lindos olhos castanhos. - Eu só não gostei de como me senti quando você se foi. Não quero me sentir assim nunca mais. Você entende?

Ele concordou sem tirar os olhos dela.

-É por que você me odiou ou por que não soube como lidar com a dor?

-Você soube? - Ela indagou, suas mãos descansando preguiçosamente em cima das mãos dele, que permaneciam em sua cintura.

-Hayir. - Serkan sufocou um grunhido aflito quando se lembrou da dor. - Eu me perdi, Eda. Eu só tinha me sentindo assim quando perdi Alp, mas com você foi mil vezes pior porque eu sabia que você estava aqui e eu não podia voltar. As lutas me ajudavam a manter a cabeça limpa.

-Ergin me falou que você não estava lutando, Serkan. Você estava deixando eles te acertarem sem tentar se defender. Você estava se punindo?

-Eu só queria esquecer. Você, nossa filha, Alp, Pembe... - Dessa vez ela não se afastou quando Serkan encostou os lábios em sua testa e respirou fundo. - E quando eu conseguia dormir, eu sonhava com você!

A Melhor Parte de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora