PRÓLOGO

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Havia um sentimento. A verdade era inegável, transpirava por seus poros, nublava sua cabeça, inundava seu coração. Não era nada que ela já tivesse sentido antes. Sakura tentava compreender como isso pôde acontecer, como ela pôde se apaixonar já estando apaixonada? Ela amava seu namorado, o sorriso de Sasuke era o mais caloroso de todos, ele era gentil, a apoiava, a conhecia e a entendia. Era tudo o que ela sempre quis e Sakura era muito grata por ter o amor dele. Amar Sasuke era como brincar na areia, seguro e confortável. Tinha gosto de casa. Mas Itachi... ele era uma tempestade no oceano. E sem ao menos se esforçar. Seus olhos escuros a perfuravam, deixava a garota nua de roupas, despida de farsas, ele arrancava as verdades dela como arrancava seus suspiros descuidados. Ela estava perdida. Tinha seus pés na praia e a cabeça virada para o mar. Um dia alguém havia feito uma pergunta a ela. Ela não se lembrava quem tinha sido, talvez numa roda de conversa entre amigas. Lhe perguntaram se um ela teria coragem de trair o Sasuke. Uma pergunta estúpida e sem sentido na hora, e foi verdade quando a resposta veio do fundo do seu coração: não. Ela não faria aquilo. Nunca. Jamais. Trair Sasuke a faria não somente perder seu namorado, mas também um amigo inestimável. E a troco de quê? Uma aventura fugaz? Não, definitivamente não. Porém agora a garota escondia uma outra pergunta no seu coração. Uma tão maliciosa que precisava ser guardada a sete chaves. E Sakura não tinha medo daquela pergunta, mas tinha pavor da resposta. A questão não era mais se ela trairia Sasuke, mas por que ainda ela não o traiu? Ficar com Itachi no mesmo espaço era sufocante. Quando dividiam o corredor ou a sala de estar era como se o ar estivesse eletrizado. Uma parte racional dela dizia que a garota estava exagerando, que era tudo fruto da sua imaginação. Mas outra questionava o que era aquele brilho tempestuoso nos olhos dele quando Sasuke passava os braços ao redor da cintura da garota, e o que era aquele tom de voz quando chamava o nome dela, como se quisesse dizer muito mais do que se permitia. Sozinha no seu quarto, na penumbra da madrugada ela observava a janela, esperando o sol nascer. Mordeu o lábio inferior e sua garganta doeu. Sentia-se tão injusta. Itachi nunca fizera nada para deliberadamente despertar sua atenção, ele respeitava e amava o irmão mais do que qualquer coisa no mundo. Foram coisas simples. Um raro sorriso que ele deu a ela, o jeito que o Uchiha mais velho a olhava quando achava que ela não estava vendo, e uma noite que ficaram presos em uma galeria subterrânea durante um acampamento, foi o bastante. E pensar que ela chegou a cogitar que sua maior dificuldade naquele ano seria terminar o ensino médio. Sakura zombou de si mesma, mas logo parou. O que ela estava fazendo? Consigo e, principalmente, com Sasuke? Ela precisava voltar a ter só ele em seus pensamentos. Porém uma vozinha sussurrou no seu ouvido: e alguma vez ele foi o único? Ela se levantou de supetão e andou até o banheiro, se virou para o espelho e decidiu que reforçaria o rosa dos seus cabelos naquela manhã. Precisava pensar em algo mais. Em qualquer outra coisa. Agarrou seu tonalizante.

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