CACHORRO NO CIO

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Shisui ainda tentava controlar a respiração quando Itachi e Izumi começaram a servir a janta. Ele percebeu a mudança de postura da irmã, tão clara como água. Shisui certamente sabia do interesse dela em Itachi, embora já tivessem ficado algumas vezes sem compromisso, Izumi sempre se manteve numa distância segura. Ela mudara desde que eles haviam voltado da pequena aventura na galeria. Ela não ia parar, ele sabia. Não havia nada que ele pudesse fazer. O jovem havia percebido a um tempo uma constante que permeava os Uchihas. Quando eles estavam interessados em algo isso se tornava quase uma obsessão. Izumi não iria descansar enquanto Itachi não colocasse em claras palavras que não estava interessado nela. E se os olhos de Shisui estivessem certos, se o que ele via era real — e o Uchiha raramente se enganava – então Izumi não tinha chance alguma. E Itachi estava muito ferrado.

Não que ele fosse a melhor pessoa para dar conselhos. Deslizou os olhos para Deidara por um mísero segundo e depois voltou para a fogueira. Naruto dizia qualquer coisa para Ino ao seu lado, pareciam montar algum plano diabólico sobre o que pediriam para Sasuke fazer ao longo da semana. Shisui riu internamente. Ele sabia que Itachi não havia gostado de ver Sasuke perdendo, mas o gêmeo de Izumi achava que faria um bem danado para o primo engolir um pouco do seu ego.

Izumi se aproximou com uma vasilha para ele, mas o irmão fez careta.

— Não, — ele a afastou e olhou para a trilha que levava para a cachoeira. — Vou fumar, depois eu volto.

Izumi fez uma careta. Ela começara a detestar o fumo depois que Itachi dera um sermão em Shisui sobre a ingestão de tabaco e mais um punhado de baboseiras. Ele sabia que estava gastando saliva com ele, mas Itachi sempre se sentia melhor quando achava que tinha as coisas sob controle, então Shisui o deixara falar. E depois devolveu o favor fazendo várias piadas sobre imponência sexual.

— Você devia largar essa merda. Vai ficar sem os dentes. — Izumi disse e ergueu a sobrancelha direita. Jogou os cabelos para trás e Shisui se perguntou se sua irmã tinha alguma noção de como seus movimentos eram naturalmente atraentes. Não era de se admirar que recebesse elogios e cantadas de Deidara a cada cinco minutos. O pensamento quase o fez morder a língua. Sem deslizes, Shisui.

— Estou tentando diminuir a diferença entre nós, irmã. — Ele respondeu e os dois se levantaram. — Eu não posso ser para sempre o gêmeo incrivelmente bonito. — Fingiu ponderar. — Mas se eu ficar sem os dentes eu posso ser só o gêmeo bonito. Você, é claro, nunca vai chegar aos meus pés, mas pelo menos estou me esforçando.

Izumi rolou os olhos.

— Some da minha frente. — Ela resmungou e moveu as mãos no ar enxotando-o.

— Izumi. — Shisui a chamou quando a garota fez menção de dar as costas a ele. Ela parou. Não insista em Itachi, quis dizer. Não faça isso. Não seja como eu. Mas ele não conseguiu. Não podia. Ela perceberia na hora que ele estava escondendo algo, que havia uma coisa de pessoal nas suas palavras. E Izumi não podia saber. Ela não. Shisui se pegava pensando a todo o momento. E já bastava Itachi supervisionando-o como se ele fosse um criminoso em liberdade condicional. — Essa cor não te favorece. — ele apontou para sua blusa.

— Sai daqui. — ela riu e o empurrou.

O Uchiha piscou para Izumi e andou até sua barraca, revirou suas coisas até achar o maço de cigarro da marca dolorosamente familiar. Ele já tentara mudar algumas vezes, mas nenhuma delas tinha aquele gosto. Shisui abaixou a cabeça e respirou fundo, apertou o maço na palma. O sentimento de miséria se apossou dele. Era familiar. Como o gosto do cigarro. Shisui guardou o que fora buscar nos bolsos e respirou fundo. Forçou um sorriso descontraído e saiu da barraca, acenou para Izumi ao longe, mas ninguém estava realmente prestando atenção nele. Observou as costas eretas e tensas de Itachi por um momento e saiu em direção a trilha. Conversaria com ele na volta.

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