PERDOE-ME, SASUKE

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— Já vai! — Ino gritou irritada vindo da cozinha de casa, finalmente um dia em que ela poderia ficar em casa ao invés de ir à floricultura e alguém havia tirado a garota do seu café da manhã para abrir a porta. — Se for algum religioso eu juro por Deus... — resmungou girando a maçaneta e quase segurou seu queixo quando viu o mais egocêntrico dos seres humanos parado na sua frente. A careta que ela fez foi inevitável. Deus, como Sasuke Uchiha transbordava soberba. — Eu espero que alguém tenha morrido. Eu estava comendo meu biscoito de amêndoas.
O mimado desgraçado teve a audácia de rolar os olhos e manter a expressão superior com as mãos nos bolsos. Ele tinha muita sorte que ela era contra o porte de armas de fogo.
Ino suspirou internamente e cruzou os braços. Se ele queria brincar ela ia mostrar que era a dona do parquinho.
— Onde está a Sakura?
Ah, então era isso.
A loira franziu o cenho e revirou seus bolsos teatralmente. Podia ver a irritação dele querendo transparecer.
— Não tá comigo. — ainda respondeu.
— Tsc. Vamos, não desperdice meu tempo.
Realmente. Inacreditável.
— Oh! — fingiu surpresa. — Você finalmente descobriu o meu plano. Estava certo o tempo todo, o mundo gira mesmo ao seu redor. Como é a sensação?
— Minha conversa não é com você, Ino.
— Engraçado, — encostou-se no batente. — é na minha porta que você está.
Ele franziu o cenho e trocou o balanço da perna, parecendo já estar com a paciência se esgotando. Que bom. Ino estava se sentindo particularmente paciente naquele dia.
— Chame a Sakura que então eu vou embora.
Ele acha que ela está aqui, mas ela me disse que dormiu na casa da Hinata, por que ele não sabe disso?
— E eu faria isso por quê?
Ino podia jurar que ele estava rezando internamente.
— Você mesma não disse que eu deveria prestar mais atenção na Sakura? Ser um namorado melhor?
A loira soltou um palavrão.
— E isso é você tentando? — riu. Ele era uma piada ambulante mesmo. — Sabe que às vezes você é até mais engraçado que o Naruto. Acho que é a convivência. — murmurou pensativa.
Ele soltou uma lufada de ar. Ino sentia um prazer sádico sabendo que conseguia irritar um Uchiha, ela passou a vida toda ouvindo sobre como eram nobres e superiores os Uchihas e Hyuugas. Ela tinha um hábito secreto que era saber se conseguiria tirar algum deles do sério. Hinata não valia, ela ficava muda ou à beira de lágrimas antes mesmo de Ino começar! Neji era tão insuportavelmente bom em tudo e distante que as poucas vezes que Ino tentara irritaram se mostraram completamente infrutíferas. Ainda que ela soubesse que ele tinha alguma questão sobre sua família e a sucessão, ela não estava completamente ciente do que era. Uma pena. Um Hyuuga furioso parecia bem mais interessante que um Uchiha do mesmo jeito. Já Shisui tinha a língua mais afiada que Ino e no meio do embate deles ela já acabava gostando do garoto mais ainda. Traída pela simpatia dele. Itachi era assustador demais para que ela ao menos tentasse, mesmo as pequenas alfinetadas que ela ousara dar algumas vezes pareciam perigosas demais. Itachi parecia estar pronto para uma tortura de algum serviço secreto a qualquer momento. E talvez ele estivesse mesmo. E com isso sobra Sasuke, o mais facilmente irritável, mas também o menos interessante de todos eles. Aquilo desmotivava a garota. Ah, os ossos do ofício.
— Não é de se admirar que você está solteira. — o Uchiha soltou no meio dos devaneios da garota.
Ah, e ainda tinha isso. Essas famílias insuportavelmente conservadoras. Ino tacaria fogo na linhagem Uchiha toda se tivesse a oportunidade.
— Não é de se admirar que sua namorada tenha fugido de você.
Ele deu um passo para frente, a mandíbula trincada e os olhos ferozes. Como se Ino tivesse tirado a chupeta dele.
— Você precisa ser desagradável o tempo todo?
Ela se inclinou, desejando que o Uchiha visse o quanto ela não dava a mínima para o que ele achava.
— Você vem na minha casa cedo num fim de semana para encher a porra do meu saco e eu estou sendo desagradável? — voltou a cruzar os braços. — Sorte sua que eu não bati a porta na sua cara, ainda fui muito educada.
— Não chegaríamos a tanto se você não estivesse desesperada por atenção.
O insulto foi sentido em todos os poros da loira. O problema não era ele achar que ela queria atenção – as vezes ela queria mesmo, o que dizer, Ino era uma estrela, o holofote sempre a seguia –, mas a real questão era ele cogitar que ela queria a atenção dele. Ino o olhou horrorizada. O quão lobotomizado alguém tinha que ser para chegar nesse nível de arrogância?
— Perdão? — ela quase gaguejou, o riso nervoso subindo pela garganta. — Acho que eu não ouvi direito.
— Não se faça de desentendida, eu sei bem o que você está fazendo.
Ah, mas ela duvidava que ele entendesse a complexidade do assassinato premeditado de terceiro grau que passava na mente dela. Descendo a rua havia um terreno baldio, era tentador demais.
— Sasuke, — retrucou quando se recuperou mais ou menos da audácia dele. — antes que eu me esqueça. Vai à merda. Eu tenho mais o que fazer. — e deu as costas a ele.
— Eu sei que ela está aí. — ele disse e colocou um pé na porta, impedindo que a loira a fechasse. Ela sinceramente cogitou quebrar o pé dele. — Se ela saiu com Itachi ontem a noite e não foi para casa ela só pode estar aqui.
A mente de Ino ficou em branco. Ou melhor, parou completamente de funcionar. Ela girou o corpo lentamente enquanto tentava absorver a nova informação, a cabeça trabalhando mais rápido do que ela achava ser possível raciocinar. Seria um mal-entendido? Voltou os olhos para o olhar negro do Uchiha, mas ele não parecia ter qualquer tipo de elaboração complexa na cabeça, apenas uma genuína irritação com a loira. Itachi levou Sakura... mas a rosada não estava na casa de Ino, nem chegara perto, e ela achava o Uchiha minimamente inteligente o suficiente para ter ligado para a casa de Sakura antes de vir bater na porta da loira. Então o que aconteceu? A mãe de Sakura disse que ela estava com uma amiga? Ela pode ter se confundido. Mas ela também sabia o nome da loira. Sakura estava em casa e havia mentido para Sasuke?
Um sabor amargo subiu para a língua de Ino.
Mentiu para Sasuke... e para ela também?
— Deixe-me vê-la. — ele pediu.
— Ela não está aqui. — respondeu no automático, não sabia bem por onde seus pensamentos estavam andando e não gostava disso. Não parecia a certa e previsível Sakura... como isso era possível?
— Eu não acredito em você.
— Problema seu. — retrucou e deu tempo para que ele retirasse o pé antes de bater a porta tão forte que tremeluziu as vidraças das janelas.
A loira parou no meio da sala e encarou uma foto antiga dela e da amiga crianças ainda do tempo que ambas disputavam a atenção de Sasuke. Voltou-se para o retrato como se este pudesse sanar suas dúvidas.
— Onde diabos você passou a noite, Sakura?

Pássaros FeridosOnde histórias criam vida. Descubra agora