ELE SABE

150 26 37
                                    

— Certo. — respondeu apenas e continuou a caminhar. Eles teriam uma conversa depois, Itachi querendo-a ou não.

O Uchiha esperou até que o primo sumisse por entre as árvores para se agachar. Encarou a garota quando seus rostos chegaram na mesma altura. Ela se mantinha em silêncio e com os olhos baixos, os ombros caídos e suas mãos estavam arranhadas por sua atividade recente. Itachi supôs que ela estivesse procurando algo. Mas onde estava Sasuke?

— O que aconteceu aqui? — ele perguntou e sua voz soou dura. Não era sua intenção ser ríspido com Sakura, muito menos perder o controle de sua postura calma, mas algo em vê-la deixada para trás, chorando e com as mãos machucadas jogava combustível numa chama que ele nem sabia que tinha.

Sakura engoliu a seco.

— Eu perdi meu colar. — respondeu baixinho.

O colar de aniversário, que ele ajudara Sasuke a comprar. Ele tinha visto a garota usá-lo mais cedo e achara arriscado levá-lo para o acampamento, mas se tinha um valor sentimental para ela era compreensível que Sakura não quisesse deixá-lo para trás. Talvez achasse que Sasuke poderia se sentir ofendido se ela o tirasse. Conhecendo seu irmão do jeito que conhecia, Itachi duvidava até mesmo que ele reparasse na joia.

— E onde está Sasuke?

Dessa vez ela fungou e voltou a revirar a terra.

— Não sei. — respondeu seca. — Foi procurar aquela porcaria... tsc — balançou a cabeça. — a flor. Foi procurar a flor.

Foi procurar uma flor quando ele tinha outra na frente dos seus olhos, Itachi pensou, mas não disse. Não poderia. Não caberia a ele.

Sakura fungou de novo e levantou a mão para secar uma lágrima solitária, mas Itachi a parou no meio do caminho. A garota estagnou e observou as duas mãos juntas. Se ela sentiu o mesmo que ele, Itachi não poderia dizer. Não sabia se sentia a eletricidade, o ar estático, o calor nas mãos ou o formigamento que tomava conta do seu braço. Mas ela reagiu como se tivesse mordido a língua. Estremeceu levemente e cerrou os lábios.

— Você vai sujar o rosto. — ele murmurou mais baixo do que pretendia. Itachi levou a outra mão à bochecha dela e afastou a lágrima. Não se lembrava se já a havia tocado no rosto, mas quando seus dedos roçaram os lábios entreabertos da garota uma mensagem urgente foi enviada para sua parte de baixo. O ar quente que saia da boca dela parecia um convite irrecusável. Itachi pensou que mataria por ele. A floresta ao redor deles formava um mundo, uma bolha impenetrável. Eram eles, o ar elétrico e um magnetismo que os aproximava. Sakura se aproximou mais e pressionou os lábios nos nós dos dedos de Itachi.

O Uchiha se afastou de supetão. Ela fizera de propósito.

— Vou ajudá-la a procurar. — disse rapidamente. — Olhos no chão.

Ela parecia perdida, envergonhada de suas ações óbvias.

— Itachi, me desculpe, e-eu não quis...

— Olhos no chão. — ele voltou a dizer, dessa vez num rosnado.

Não voltaram a falar.

[...]

O humor de Sasuke estava pior ainda na volta. Tinha perdido para Ino e Naruto e honestamente Sakura não queria vê-lo. Se o visse iriam discutir e ela já estava com a cabeça ocupada demais para pensar nele. Por isso colou em Ino assim que achou a amiga e fingiu ouvir todas as suas trivialidades. Itachi. Era o outro que ocupava seus pensamentos. Sua reação, seus olhos calmos tonando-se quentes. Ela fora estúpida. Por um impulso... e agora ele nem se dignava a olhá-la. Eles haviam achado o colar e voltado para o acampamento num silêncio sepulcral.

Pássaros FeridosOnde histórias criam vida. Descubra agora