SURPRESA

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Shisui lembrava-se daquele parque com perfeição, apesar de as coisas não parecerem tão grandiosas assim agora. Mas ali tinha o mesmo cheiro de grama molhada de antes e a água mantinha seu verde cristalino. O Uchiha quase podia ver os rastros no chão de quando corria na tentativa de fazer Itachi persegui-lo. Mas Itachi nunca corria, não se não houvesse necessidade disso. Bufou. Tão perfeito desde criança. Suspirou. Entretanto, houve uma vez que Shisui provocava Itachi e, rápido como um trovão, o Uchiha mais velho o ultrapassou. Por Sasuke, é claro. O pirralho tinha machucado o joelho pulando de um banco e mordia os lábios para não chorar escandalosamente, mas não estava tendo muito sucesso nisso. Eram vezes como aquela que Shisui quase podia sentir o amor de Itachi pelo irmão no ar, uma barreira de proteção palpável que era pesada, abafava e era o melhor do mundo. Não era de se admirar que Sasuke tenha crescido carregando essa admiração do irmão, o que era de se admirar era como aquela admiração cega.

Sentado na sombra da árvore, Shisui olhou por cima do ombro visualizando Itachi jogar pedras na lagoa. Eles estavam evitando conversar. Ele estava evitando conversar. Mas não por muito tempo, se Shisui julgava corretamente.

A verdade era que embora Itachi fosse racional como uma máquina de algum romance científico, às vezes até ele encontrava-se num beco sem saída. Principalmente quando o assunto envolvia sentimento. O que parecia ser o caso.

Itachi andou na direção do primo enquanto este se espreguiçava. Onde isso vai dar, eu me pergunto, pensou.

— Já terminou de aterrar o lago?

Itachi não achou aquilo muito engraçado, o que geralmente não incomodava Shisui. Mas agora ele via uma nuvem nos olhos do primo, e parecia intransponível. Como se Itachi houvesse se fechado com seus pensamentos dentro da sua cabeça e não permitisse que mais ninguém entrasse. Essa vai ser difícil, concluiu.

Shisui suspirou e corrigiu a postura.

— Vamos fazer isso da maneira fácil ou difícil? — arqueou a sobrancelha direita.

— Sobre o que você está falando?

— Então vai ser da difícil.

Itachi desviou os olhos novamente para as águas. O movimento da sua cabeça confirmou o que Shisui já imaginava, mas não sabia se queria que fosse verdade ou não. Uma marca no seu pescoço. Ele não sabia exatamente por que, porém um arrepio desceu por sua espinha. Shisui tinha uma teoria. Se Itachi, a pessoa mais centrada que já pisou na terra, podia cometer burrices daquele tamanho, o que alguém como Shisui poderia fazer? A involuntária imagem de Deidara cruzou sua mente. Uma burrice maior ainda, respondeu.

— Como foi a noite, Itachi? — questionou chamando a atenção do primo para si. Itachi virou-se para ele como se tivesse sido açoitado. Shisui quase podia vê-lo levantando suas defesas. — E não me venha com meias respostas eu consigo ver esse chupão daqui, e até onde eu sei não dá para fazer isso sozinho. Nem você é tão incrível assim, Itachi.

Itachi levantou a mão reflexivamente em direção ao pescoço, mas logo parou.

— Um erro. — respondeu por fim, a expressão pétrea tomando um formato frio, arrogante. Ele não quer sentir o que está sentindo. — Que não vai se repetir.

Shisui deu de ombros.

— E você já disse isso para a Sakura?

Até o nome dela fazia Itachi reagir diferente, o olhar tornando-se mais gentil. E isso era assustador.

— Saku... Ela sabe tanto quanto eu.

— Sabe? Ela tem um relacionamento decadente com seu irmão, sem ofensas, e agora você mostrou para a garota que ela não deveria se contentar com pouco. — riu. — Você acha mesmo que ela vai aceitar isso? Sakura não é burra, apesar de ter um gosto questionável.

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