SÓ DESSA VEZ

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— Itachi... — Sakura murmurou e o Uchiha fechou os olhos momentaneamente, absorvendo aquele momento entre os dois com afinco. Sentia-se uma criança agarrada a um brinquedo antes de devolvê-la ao dono original. Mas Sakura não era um objeto, muito menos tinha um dono. Voltou a encará-la apenas para pertencer novamente aos olhos expectantes dela.

A garota se inclinou novamente e não parecia ciente de seu movimento. Itachi admirou tudo, a beleza absurdamente natural do momento, a inclinação dos lábios semiabertos dela, da curva do seu queixo, da linha do seu pescoço e dos círculos dos seus seios. Eram raras as vezes que Itachi via-se forçado a esquecer que era um homem e, como tal, tinha desejos.

O Uchiha mais velho já havia desejado antes e, naturalmente, já tinha tido experiências. Porém, honestamente, não se lembrava de ter sentindo-se tão aflito antes, ou mesmo se deleitado com tão pouco. O que estava acontecendo entre eles fugia da sua compreensão.

Mas era muito bom se sentir assim.

— Sakura. — ele retrucou, suavemente. Segurou a garota pelos ombros e a impediu de continuar. A frustração brilhou nas pupilas verdes dela, mas não era a única. O sangue de Itachi ferveu, odioso contra ele e seu desejo era dolorido. Pense, Itachi, você é bom nisso, pense no que está fazendo.

Itachi não queria pensar, raciocinar era um esforço hercúleo quando a silhueta de Sakura contratava contra os raios lá fora. Porém ele precisava ser racional. Suas decisões, se tomadas como seu corpo ansiava, trariam resultados catastróficos na sua casa. Pensar no seu clã clareou sua razão por um momento. Pensou no seu irmão, mais precioso para Itachi que sua própria vida. Antes, se perguntassem, o Uchiha responderia que renunciaria a sua própria felicidade com um largo sorriso se isso significasse a felicidade de Sasuke. Mas isso foi antes de Sakura, antes de ela aparecer, meses atrás, na porta dele para pedir um conselho.

O Uchiha sentia-se injusto recordando-se daquele momento. Não houve malicia ou segundas intenções além dos próprios pensamentos dele. Ainda assim, era como se algo houvesse se rompido ali.

Fora uma tarde chuvosa e Sakura havia aparecido na sua casa depois que Sasuke faltara na aula. Naquele dia seu irmão estivera febril e sua mãe o levara ao hospital, preocupada que pudesse ser um rotavírus. A garota tivera os fios loiros molhados juntamente com as bordas do seu uniforme quando Itachi abrira a porta. Ele se lembrava de ter ponderado que ela poderia ter poupado aquela viagem se tivesse ligado para a casa antes.

— Itachi, — ela abrira um largo sorriso e o Uchiha observou, pela primeira vez, que era um sorriso bonito. Nada de extraordinário, entretanto revelava uma felicidade verdadeira e, às vezes, como um Uchiha, Itachi apreciava demonstração mais explicitas de alegria. — Sasuke está?

O Uchiha mais velho explicara, em poucas palavras, o que havia acontecido e viu o brilho da empolgação se desfazer nos olhos dela. Uma garota bastante expressiva, não?

— Ah, — respondera desanimada e colocara uma mecha para trás da orelha. — eu não sabia, ele não me disse.

Itachi não estava muito familiarizado com questões de relacionamento amoroso, porém já observara o leve descaso do irmão com a namorada.
Não achava que fosse proposital, entretanto, chegou a questionar-se se falhara com Sasuke nesse quesito. As interações sociais fora do clã Uchiha costumavam ser mais intensas e passionais e talvez Itachi pudesse ter ajudado Sasuke com isso, foi descuido seu achar que a amizade do irmão com Naruto supriria essa lacuna.

— Tenho certeza de que não foi intenção dele deixá-la preocupada.

Dessa vez o sorriso de Sakura fora amarelo e inseguro. Mas Itachi ainda conseguiu perceber a forma com que a moça lhe olhava.

Pássaros FeridosOnde histórias criam vida. Descubra agora