TEMPESTADE

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Os dedos ágeis de Shisui tamborilavam no painel do carro enquanto o céu tornava a ter tons de um azul e cinza escuros. Itachi podia ver alguns raios ao longe, quem diria que o destino poderia ser tão cruel com ele. Agradecia por ter Shisui ao seu lado. Buscariam Sakura, levariam a garota para casa e depois seguiriam seu caminho. Era melhor assim, não estariam a sós.

Itachi imaginou como seria vê-la depois de tanto tempo – desde o acampamento – e um sentimento quente o preencheu, como tomar banho com água aquecida no frio. Era uma sensação que ele deveria enterrar fundo dentro de si e, ainda assim, estava lá, tão resistente quanto o sorriso dela. Quanto suas respostas que faziam borbulhar algo nele, quanto sua pele macia e quente, e seus lábios doces.

Apertou o volante sentindo o couro sob a palma e parou sob um sinal. O céu cada vez mais escuro. Tão irônico que era exatamente assim que o Uchiha se sentia. Sakura era como uma tempestade, ele viu que vinha no horizonte, mas achou que seria uma garoa e nada mais – como várias foram antes dela –, e então foi se aproximando, e seu riso era lindo, seus olhos verde-mar convidativos e sua mente astuta. O que era para ser um chuvisco de repente tornou o céu revoltoso e Itachi só conseguia olhar para cima, ver a tempestade se formandos, sentir o vento no rosto – uma promessa do que está vindo – e, então, desejar que chovesse. Desejar como nunca tinha desejado nada na vida. Sentimentos de egoísmo e possessão tomavam conta dele e testavam seu autocontrole.

– Você está com aquela cara de novo. – Shisui murmurou do seu banco. Itachi deslizou os olhos para o primo e viu seu corpo relaxado, suas mãos ágeis e sua expressão pensativa. Itachi não gostava quando Shisui pensava demais, ele tinha uma tendencia assustadora de estar certo. O outro Uchiha devolveu o olhar. – Devia pelo menos fingir.

– Não quero ouvir isso de você. – Itachi retrucou com a voz seca. O sinal abriu.

Shisiu fingiu estremecer e soltou um riso rouco.

– Outch. – colocou a mão no peito. – Essa doeu, primo, você não tem pena dos meus sentimentos? Eu posso me magoar.

Itachi dobrou a esquina, já estavam chegando no parque.

– Se você se importasse em se magoar nunca chegaria mais perto de Deidara.

Shisui se espreguiçou e bocejou, seus movimento reflexivos estavam duros, rígidos. Uma atuação. Ele queria que Itachi pensasse que suas palavras não tinham efeito sobre ele. Uma mentira muito fácil de ser derrubada. O pior para Shisui não era ouvir as opiniões de Itachi, mas sim concordar com elas. Ele sabia tão bem quanto o primo que não era inteligente alimentar qualquer relacionamento com Deidara, mas agia como se fosse inevitável

– Você só está falando sobre isso porque quer evitar o assunto Sakura.

Itachi reprimiu um suspiro e manteve os olhos fixos na rua. As nuvens agora quase negras.

– Não há nada para falar sobre ela.

Mais uma risada amarga do outro.

– Eu não nasci ontem, Itachi, mentir para mim só vai adiar uma conversa que a gente vai ter mais cedo ou mais tarde. – pontuou e, mais uma vez, a verdade nas palavras dele eram como flechas na carne de Itachi. Shisui não falava apenas, com displicência, mas também com convicção.

Itachi estacionou a alguns metros da entrada do parque e observou a multidão se retirar, muitos apontavam para o céu e faziam observações sobre ele. Havia muitas famílias, e vários casais. Observar terceiros era um hábito que o garoto adquirira desde cedo, gostava de imitar o que as pessoas faziam para deixá-las mais confortáveis com sua presença. Mas nunca tinha parado para invejá-las, nunca tivera tempo para tal. Ele observava os casais e geralmente pensava coisas como a diferença de idade entre eles, ou o uso incorreto das roupas dependendo da estação. O pensamento de "eu também queria" era estranho a ele. Era nisso que Itachi tinha se transformado? Ele desejava ser um casal com Sakura? Rechaçou o pensamento com violência.

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