Four

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O homem de cabelos platinados andava pelo corredor do hospital, os sapatos não ecoavam som algum conforme os passos que ele dava. Ele gostava de usar o seu jaleco mas não tanto quanto gostava de suas trajes ao adentrar o centro cirúrgico, as vestes totalmente negras que o distinguiam dos outros cirurgiões. Draco olhou o relógio e respirou fundo, sempre fazia plantões como clínico às terças e quintas, era o ponto mais chato de sua semana. Não que não gostasse da área, mas na maioria das vezes eram casos bem simples. Durante os estágios na faculdade, havia adorado a emergência, ele e Blaise apanharam muito lá. Todos os dias chegavam os mais diferentes tipos de pessoas com ferimentos graves a gravíssimos.

E se lembrava das falas de Severo "Se você não tem aptidão para atuar em uma emergência, nunca poderá ser um médico", sorriu contido. Não fora pra menos, Blaise e ele passaram tanto tempo lá que Draco acreditava que a morte tinha raiva deles.

Já faziam pelo menos um mês que o Potter pedira desculpas para si, Draco até queria ter elaborado algum plano maléfico para aperrear o garoto, mas não tinha tempo. O clima em sua casa estava infernal, o que acabou fazendo com que Draco pegasse uma quantidade absurda de plantões. O loiro andou até o refeitório do hospital e pediu um expresso, seu relógio marcava duas e meia da madrugada.

- Parece que o meu posto de morcegão está sendo ameaçado – a voz tão conhecida por si disse.

- Logo logo te tirarei até isso – Draco disse e se virou com um sorriso para Snape.

- Precisará viver duas vezes pra conseguir ver um por cento das coisas que já – Snape sorriu sem mostrar os dentes.

- Do jeito que estou vivendo por aqui, falta pouco para te alcançar – Draco pegou o café e foi para uma mesa. Snape que tinha também em mãos um café, o acompanhou.

- Como estão indo as coisas? – Snape o olhou.

- Estão indo bem, cada vez mais cirurgias e essa semana consegui a alta de um paciente em tempo recorde – Draco disse e percebeu que Snape sequer dava atenção.

- Não me olhe com essa cara – Severo respondeu – Quero que seja humano comigo e diga a razão por estar morando no hospital.

- Você acha que tem alguma razão? – Draco o olhou.

- Você não é um velho como eu que encontra paz em abrir cabeças – Severo disse dando um gole de café.

- Meu refúgio tem sido abrir corações – Draco sorriu genuíno – E não é de forma romântica.

Ambos trocaram um olhar.

- Eu te disse que poderia contar comigo, teria evitado tudo isso – Snape disse.

- Você acha mesmo que eu poderia simplesmente ser deserdado? – Draco falou e tomou um gole de café.

- Você já estava formado, Draco. Sua especialidade já bem encaminhada aqui – Severo o olhou e percebeu o rosto cansado de Draco.

- Eu só fui um tolo, sempre fiz as vontades dos meus pais. A única coisa que eu pude escolher foi que faculdade faria e só pude fazer medicina porque é algo bem visto pela sociedade – Draco disse frustrado – No começo, Astoria não parecia tão ruim. Ela não é ruim, é só que...

- Você não a ama – Snape respondeu.

- Amo – Draco rebateu.

- Então porque um rapaz com um casamento em seu auge está se matando em plantões ao invés de estar em casa, ao lado de sua amada esposa? – Severo disse e Draco ficou boquiaberto.

- Não se trata disso, tudo bem? Lucius e Narcisa estão do lado dela, uma pressão para que eu tenha um filho com ela – Draco comentou cabisbaixo.

- Se você a ama, por que não dá o filho que ela quer? – Snape deu mais um gole em seu café.

- Não é assim tão simples – Draco disse.

- De fato é simples – Snape disse se levantando – Para o aluno mais brilhante que já tive, você está me dando dó. Resolva logo isso!

Como se fosse fácil! Draco pensou consigo, observou Snape se afastando. As vezes sentia que o homem se importava mais consigo que Lucius, o seu pai. Deu o último gole de café e levantou da mesa, jogou o copo no lixo e olhou o relógio. Três e quinze da manhã, solicitou o elevador e quando adentrou o mesmo, digitou o número do seu andar. Ficou se olhando no espelho e mal percebeu quando a porta se abriu, Potter passou pela porta.

- Ora ora – Draco dirigiu a ele um olhar.

- Eu sinto que vou desmaiar de tanto cansaço – Potter se apoiou na barra de apoio.

- Cansado de ser um inútil? – Draco falou

Harry se assustou com a provocação de Draco e o olhou.

- Inútil? – Harry o olhou raivoso – Eu estou saindo de um plantão exaustivo e você diz que sou um inútil.

- E não é? Já fiz plantões maiores que esse, isso que você fez sequer pode ser chamado de um real plantão, Potter! – Draco sorriu sagaz.

- Cale-se, Malfoy! – Harry respondeu.

- Onde está seu respeito? Eu sou o seu superior, Potter. – Draco se aproximou do mesmo – Se eu digo que você é um inútil, você deve acatar e se resumir em sua insignificância.

Harry o olhou sentindo a raiva subir e Draco quis rir do rosto ficando vermelho de cólera. O elevador anunciou o andar de Draco e o loiro saiu sendo acompanhado de Potter atrás de si.

- Não sabia que era tão masoquista, Potter. – Draco riu.

- Eu só não te mando à – Harry foi cortado por Draco.

- Porque se você não abaixar a cabeça para mim, sabe o que estará no seu relatório de estágio – Draco olhou e sorriu ácido.

- Isso é abuso de poder e dano à minha integridade moral, Malfoy! Eu posso processá-lo! – Harry rebateu.

- Você pode, claro. Mas qual argumentação você tem para os danos que cometeu à minha? – Draco o olhou.

Harry apenas fechou a cara e saiu dali pisando forte. Draco sorriu, sentia-se imensamente melhor depois daquilo. Certamente poderia ir para casa e ter o seu devido descanso.

Harry entrou extremamente nervoso no apartamento, sequer pode pensar em não fazer barulho para acordar seus amigos. Malfoy tinha sido capaz de tirar toda a paciência que tinha. Ele ficara de plantão desde as quatro horas da tarde e sentia suas pernas pedirem urgentemente descanso, seus olhos estavam tão cansados e o sono era tão grande que nem fome era capaz de sentir.

- Inútil. Aquele arrogante, inútil é ele – Harry praguejava – Eu sou Draco Malfoy um riquinho metido a besta e me acho melhor que os outros.

Harry entrou no chuveiro e não se importou com a água fria caindo em seu corpo. O estresse era absurdo e a raiva de Malfoy absurda. Queria só poder ir se deitar o mais rápido possível para tirar as palavras do loiro de sua mente, se sentia extremamente irritado e não apenas pelas palavras de Draco, mas pelo jeito arrogante do mesmo.

- Dane-se que ele vai escrever meu relatório, desgraçado – Harry disse saindo do banheiro enrolado em uma toalha. Estava tão distraído em sentir raiva que não notou a cômoda e seu dedinho foi contra a quina da mesma. A dor foi absurda e a raiva que o mesmo pensou que não poderia aumentar mais, atingiu o ápice – Maldito, Malfoy!

Pegou a primeira boxer que viu, vestiu o pijama e se jogou na cama. Sentia-se exausto e por hora o melhor remédio para tudo era dormir. 

Não Brinque Comigo - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora