Nine

8 0 0
                                    

O Malfoy não sabia sequer que horas eram, só sabia que estava exausto. Afinal, depois de dias em uma rotina desgastante no hospital, não era surpreso que uma hora ficasse realmente cansado. Milagrosamente estava de bom humor, a adrenalina o deixava bem-humorado, suficiente para esquecer do estresse que o Potter o causava. Não sabia o que instigava esse instinto em si, apenas sentia raiva do garoto somada ao acontecimento da enfermaria.

- Potter, você está me irritando com tanto movimento. – Draco disse.

- Não sei como você não fica animado – Harry sorriu largo – Salvamos várias vidas.

- Eu estou animado, mas estou mais cansado do que animado! – Draco respondeu.

O celular de Draco começou a tocar, Harry apenas ficou quieto observando. Draco estava com a cabeça pendida para trás e sequer olhava para o aparelho ao canto da sala. O celular parou de tocar mas logo começou a tocar novamente. Harry via a feição de Draco endurecer e sabia que o mesmo estava incomodado.

- Malfoy – Harry falou com uma certa cautela na voz.

- Fica quieto, Potter! – Malfoy disse ainda de olhos fechados.

- Pode ser importante – Harry respondeu.

- Não é importante – Malfoy falou.

- Como você pode saber se não atendeu? – Potter indagou.

- Por que você não faz o favor de tomar conta da sua vida? – Malfoy abriu os olhos irritado.

- Precisa dessa grosseria? – Harry o olhou.

- Você pede por isso! Eu não te mandei ficar quieto?! – Malfoy disse e se levantou pegando o celular e vendo as inúmeras ligações de Astoria. Poderia até não ligar próximo de Harry e deixar aquilo privado. Deu de ombros e retornou a ligação.

- Você esqueceu que é casado? – Astoria disse ríspida.

- Mas é claro que não – Draco disse com a voz banhada em sarcasmo.

- Já faz uma semana que você não aparece em casa – Astoria respondeu.

- E por mim passaria uma vida toda longe de você! – Draco disse.

- Você diz isso mas quando está na frente de – Astoria iniciou.

- Eu não irei te responder se for ser uma chantagista! – Draco falou simplista. – Volto amanhã pela manhã.

Desligou o celular e o jogou contra a parede.

- Mas que inferno! – Draco disse transtornado e mal se virou quando o enfermeiro adentrou a sala.

- Doutor Malfoy, urgência! – o enfermeiro disse ofegante e logo estavam andando apressados pelo corredor. – Parada cardiorrespiratória!

- Sinais vitais, Potter! – Malfoy proferiu.

- São... – Harry iniciou.

Os doutores mal iniciaram os procedimentos quando o painel aptou com uma nova parada, Harry olhou assustado para Malfoy. Draco estava se desesperando e Harry veio com o desfibrilador, tentaram reanimar o paciente mas já era tarde demais. Harry ouviu o bip e então no painel já indicava a falta de vida. Malfoy pegou o aparelho de suas mãos e entregou ao enfermeiro.

- David, você pode chamar a equipe e cuidar do corpo. – Malfoy disse e o ar se tornara pesado. – Potter, venha comigo!

Malfoy sabia o choque inicial do primeiro paciente a ser perdido. Ainda que odiasse o rapaz, sabia que era uma droga enfrentar aquilo. Sem contar que embora já tivesse alguns anos de prática, era sempre algo chato para lidar com a morte. Por sorte e pelo horário, aquele era o último paciente de seu plantão, avistou no balcão os médicos que iniciariam o próximo plantão. Era Blaise um deles e o moreno sorriu para si.

- Final de plantão tenso, não? – Zabini abraçou Malfoy.

- O socorro demorou, tentamos o possível mas já era tarde. – Malfoy disse.

- Potter, é estagiário desse nojento? – Blaise sorriu e estendeu a mão para Harry que a apertou prontamente – Prazer, doutor Blaise Zabini.

- Harry Potter e o prazer é todo meu! – Harry sorriu.

- Sabe, eu e o doutor Malfoy perdemos o nosso primeiro paciente em um plantão na emergência. – Blaise iniciou.

- Lá vem! – Malfoy rolou os olhos.

- Draco chorou como um bebê, eu tive que ser o homem na situação e segurar as pontas – Blaise disse sério.

- É sério? – Harry perguntou.

- Claro que não – Malfoy disse – Vamos temos o que fazer!

- Como está a Astoria? – Blaise perguntou.

- Viva! – Draco disse.

- Boa sorte aí, Harry! – Blaise riu.

Draco ficou algum tempo resolvendo a papelada sobre o óbito daquele paciente e Harry estava acompanhando para aprender mais.

- Você está irritantemente quieto demais – Draco falou – Eu poderia muito bem soltar mil cachorros por me irritar antes, mas sei como esse momento é complicado. Você fez a sua parte, não o melhor mas fez a sua parte.

- Você é ótimo com apoio emocional – Harry respondeu.

- É o ponto mais alto do meu charme – Draco ironizou.

- Eu só me sinto incapaz – Harry respondeu – Ele era um morador de rua, Malfoy, talvez não houvesse ninguém para voltar e foi apenas deixado à beira da sociedade...

- Isso tudo não importa agora, Potter! – Malfoy o olhou – Você terá que aprender a lidar com a morte, ela vem e é inevitável. Nunca misture o profissional e o emocional, um paciente, sempre sendo empático é claro, é um produto a ser consertado. Eventualmente, um produto já não tem a possibilidade de ser consertado.

- Não é assim que funciona! – Harry o olhou com os olhos marejados.

- Você pode entender da forma que quiser – Draco respondeu. – Seu plantão está encerrado, não me encha de mais ódio e só apareça na segunda-feira. Da próxima vez que se intrometer na minha vida, eu anulo todas as suas folgas.

Que se dane! Harry pensou consigo. Estava em uma letargia e tudo que mais queria era chegar em casa.

CONTINUA

Não Brinque Comigo - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora