Inesquecível

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•POV Ucker•

Voltei pra casa, ainda sem acreditar que era ela. Aqueles olhos, aquela boca, aquela marra... típicos dela. Candy... parece que voltei no tempo quando a reconheci, me senti um adolescente outra vez. Dulce Maria Saviñon foi a responsável pelos 3 anos mais intensos da minha vida. Intensidade, era isso que a definia. Não havia outra palavra. Eu fui um idiota por perdê-la daquela forma. Nossa despedida foi um dos momentos mais dolorosos que já vivenciei, o arrependimento me consumiu. Anos se passaram e não havia um só dia em que eu não me culpasse por tê-la abandonado. Acho que virou um hábito para mim perder as mulheres que amo.
Entrei em casa e fiquei por alguns instantes parado na porta, analisando tudo que aconteceu. Não esperava encontrá-la outra vez, muito menos nessas circunstâncias.

Cristian: Ei, o que aconteceu lá?
Ucker: O quê?
Cristian: Me diz você. Saiu daqui pra resolver o lance da batida e 10 minutos depois volta aéreo.
Ucker: Cris, é a Candy... quer dizer, Dul, é a Dul.
Cristian: Quem? Do que você tá falando?

Sentei-me à mesa de jantar em frente ao Cristian e contei à ele sobre o ocorrido. Ele estava em choque assim como eu.

Cristian: Mas ela não tinha sumido depois do que rolou entre vocês?
Ucker: Ela ficou fora por 6 anos. Passou um tempo na Flórida em um intercâmbio com a Maitê, depois disso deixei de acompanhá-la. Foi na época em que conheci a Sarah.
Cristian: Como se sente?
Ucker: Em que sentido?
Cristian: Em todos os sentidos. O grande amor da história sua vida está a menos de 8 metros de distância, após o quê, 10 anos sem vê-la?! Vai dizer que isso não mexeu com você?
Ucker: Eu não sei, eu... tô confuso. Quer dizer, eu tô surpreso e em choque, mas acho que só isso. Em parte ainda me sinto culpado pelo que fiz com ela e nunca vou me perdoar por isso. Vê-la é como... não sei... reviver parte daquela dor, a dor que eu infligi a ela.
Cristian: Acho que devia falar com ela. Marcar um encontro e esclarecer tudo. Ela merece saber o que aconteceu de verdade.
Ucker: Não, eu não tenho cabeça para encontros. Não estou pronto pra isso ainda.
Cristian: Acho que a menina com quem dormiu ontem a noite diz o contrário.
Ucker: Ah qual é, foi um caso de uma noite, não tem nada a ver. A Dul é... ela é diferente.
Cristian: Está bem, faça como quiser.
Ucker: Eu vou ter que falar com ela a respeito do carro de qualquer jeito, mas não sei se o assunto vai além disso. Ela não me parecia interessada em conversar comigo. Assim que se deu conta de quem eu era, agiu como se quisesse fugir de mim a todo custo. Ainda deve estar chateada...
Cristian: Depois de tanto tempo? Não sei, talvez ela tenha superado isso. Não custa tentar. Você mesmo me disse que a pior decisão que tomou foi tê-la deixado ir embora. Vai deixar isso acontecer de novo?

Parei por um instante. Deixá-la ir. O peso que essas palavras me trazem... quantas vezes repeti isso a mim mesmo para justificar os meus atos? Covarde, Ucker. Você foi um covarde e está sendo covarde outra vez.
Levantei-me da mesa e fui em direção às escadas.

Cristian: Pra onde você vai?
Ucker: Dar um tempo de tudo isso.

Fui até o quarto e olhei pela janela. Não havia notado o fato dos nossos quartos serem de frente um para o outro, essas casas parecem terem sido projetadas todas iguais. Não vi sinal de movimento pelas cortinas da casa dela. Deitei-me por alguns minutos. Estava inquieto. Não sabia a que horas ela viria até a mim, ou se viria. Não sei se deveria ir até a casa dela outra vez...
Entrei no Instagram, pesquisei seu sobrenome, não foi difícil achá-la. Ela continuava estonteante. Personalidade forte, independente, carreira decolando... Você conseguiu, sabia que conseguiria! Não era muito de postar coisas pessoais ou rotineiras, seus posts falam mais a respeito de projetos literários e e-books que estava desenvolvendo. Escritora sexy misteriosa. Bem a cara dela...
Um sorriso bobo me escapou ao ver aquelas fotos. Eu estava num frenesi de sentimentos, como se aquela paixão exagerada estivesse adormecida e de repente viesse à tona outra vez. Eu só queria ir até ela agora e consertar a merda que fiz anos atrás. Era inevitável, só de estar perto dela, ainda me despertava os mesmos sentimentos, as mesmas sensações, como se nunca tivéssemos nos separado, como se eu nunca a tivesse esquecido de fato. Mas a Sarah... eu não posso... não dá...
Coloquei as mãos na cabeça, que agora parecia querer explodir, sentei-me na lateral da cama e fiquei assim por alguns minutos. Olhei para o chão, minha mochila estava aberta e o envelope estava caído para o lado de fora. A agenda estava sob a escrivaninha ao lado.
Aquelas últimas páginas... Eu falhei com ela... assim como falhei com a Dul, eu falhei com ela. Não é isso que eu quero pra mim, pra minha vida. Não posso permitir que se torne um padrão. Essa tendência em me afogar nos meus problemas e esquecer o mundo ao meu redor. Ela não iria querer isso, ela acreditava em mim, confiava em mim. E o fato de ela ter depositado toda sua esperança em um cara pacato como eu, só revela o quão incrível ela era.
Peguei minha carteira em cima do criado e retirei uma foto da nossa última viagem, ela estava radiante e feliz. Um dos nossos últimos momentos felizes juntos... Eu preciso mudar, devo isso a você, Sarah. Prometo um dia ser o homem que você acreditou que eu fosse.
Guardei a foto na carteira novamente. Agora eu precisava me retratar com a Dul, era o mínimo que eu podia fazer por ela.
Chamei o Cris e comecei a ligar pra uns contatos meus que poderiam dar um jeito no carro. Em instantes, consegui o número dela com um acessor da agência para qual ela trabalhava. Não sabia se devia, mas mandei uma mensagem.

Msg//On

Ucker: Oi. Espero não estar sendo invasivo, consegui seu número com um amigo. Então... consegui o mecânico que pode vir fazer o conserto, se você autorizar. É coisa simples, deve chegar ainda hoje. Em 3 dias Seu carro estaria pronto. Tudo bem pra você?

.
.

Ela estava online. Em poucos minutos visualizou a mensagem, mas demorava a responder. Me pergunto se não teria sido formal de mais. Ou talvez íntimo de mais ao aborda-la assim. Ia apagar a mensagem quando vi que estava digitando. Esperei alguns segundos.

Msg//On

Dulce: 👍🏻.

.
.

Queria convidá-la para um café, mas não sabia nem por onde começar. Era nítido que ela não estava confortável com tudo isso. Decidi dar espaço, talvez depois que tudo isso passar...

Ucker: Cris eu vou ter que ir ao meu apartamento buscar mais algumas coisas a tarde, se quiser ir, ou precisar ir à algum lugar...
Cristian: Na verdade, ia falar com você... Victor ligou, me pediu pra voltar amanhã, disse que era melhor que você passasse esse tempo sozinho. Me pediu pra resolver umas coisas no sistema até o seu retorno. Eu não queria ir, mas aquilo está uma bagunça, de verdade.  Eu posso recusar, se você precisar de mim, eu fico.
Ucker: Não, eu entendo, te disse que não precisava de babá, pode ir, vou ficar bem.
Cristian: Vou arrumar as coisas e amanhã cedo eu saio. Se precisar de qualquer coisa, já sabe, meu número tá no seu contato de emergência.
Ucker: Pode deixar.

Subi e decidi descansar mais um pouco, ainda estava meio zonzo, pensativo sobre tudo que aconteceu. Não conseguia tirar a Dul da cabeça. Nossos momentos juntos voltaram em um flashback acelerado. Eu rejeitei por muito tempo essa parte da minha vida, só pra evitar a culpa, o ressentimento. Havia planejado o resto dos meus dias ao lado dela. Estava certo de que acabaríamos juntos. Era o tipo de amor que não foi feito pra deixar-se morrer como uma lembrança na gaveta e eu sentia isso. Seria insano pensar que poderia apagá-la dessa forma. Dulce Maria sempre foi uma mulher inesquecível.
Errei feio com ela. A desculpa de que eu era muito jovem e imaturo, não cola mais pra mim. Acho que esse reencontro é uma chance pra que eu possa consertar tudo isso. Só quero poder me redimir e poder seguir a minha vida. E é isso que vou fazer.

Continua...

Dois LadosOnde histórias criam vida. Descubra agora