• Pov Dul •
Ele continuou dirigindo. As vezes me encarava por alguns segundos como se estivesse me analisando. Percebi isso pelo seu olhar as vezes confuso, as vezes perdido e as palavras meio soltas que acabava deixando escapar entre um assunto e outro. Eu o deixava nervoso, isso ele não poderia negar.O jeito que media as palavras e o quão preocupado parecia com as minhas reações diante delas...
Relembrar todos aqueles momentos estava mexendo comigo. Me escapavam sorrisos que eu não conseguia explicar ou disfarçar. Não importa o quão puta eu estivesse com tudo que aconteceu, ou os modos arrogantes e prepotentes que claramente ainda faziam parte dele, aquilo parecia me dominar. Que merda, o que eu tô fazendo?Ucker: Dul?
Dul: Ham?
Ucker: Eu só queria que soubesse que quando fui embora...
Dul: Não, Cristopher, por favor... Não vamos voltar nisso.
Ucker: Eu só preciso que me escute, por um segundo.
Dul: Não preciso ouvir nada, é sério. Está tudo bem, isso é passado, não importa mais.
Ucker: Mas pra mim importa. Dul, eu não queria que nada disso tivesse acontecido, eu...
Dul: Não, por favor. Você não me deve satisfações. Não temos mais nada a ver um com o outro. E foi melhor assim. Você nunca foi o tipo de homem sério pra se comprometer de verdade com alguém, não é? Eu que enxerguei isso tarde de mais...Ele ficou em silêncio por um tempo. Parecia contrariado. Puxou a gravata desfazendo o nó e afrouxou a gola da camisa. Costumava fazer isso quando ficava nervoso.
Dul: Eu disse algo de errado?
Ucker: Ah fala sério, Dulce. Nunca fui o tipo de homem sério pra se comprometer de verdade com alguém? Os anos que passamos juntos foram uma piada pra você? Todo o tempo que dediquei a você, tudo que construímos juntos... Você fala como se tivesse sido uma brincadeira.
Dul: E não foi?
Ucker: Você está com raiva e só diz isso pra tentar me atingir.
Dul: Você realmente acha, que depois de tanto tempo, eu queimaria meus neurônios tentando atingir você? Ah por favor, não seja tão confiante.
Ucker: Vai negar que o que tivemos foi real? Tem mesmo coragem de olhar nos meus olhos e dizer que eu não signifiquei nada pra você?Ele me encarou seriamente nesse momento, meus olhos se perderam e minha boca começava a falhar. Tudo que eu queria dizer era que não, que ele não significou nada e que tirasse isso da cabeça. Mas eu simplesmente não conseguia.
Dul: Eu...
As palavras não saíram, minha mente já tinha uma resposta pronta e direta que com certeza tiraria esse gostinho de confiança que ele aparentava ter ao se referir a mim e aos meus sentimentos. Queria machucá-lo, como ele me machucou. Queria fazê-lo sentir a humilhação e a decepção que ele me fez sentir. Queria dizer que eu era jovem e que aquilo não passava de uma paixão adolescente sem sentido e que foi um erro termos nos envolvido. Queria dizer que ele se confundiu, talvez pela diferença de idade, que levou tudo muito a sério. Queria fazê-lo se sentir um tolo, um idiota. Mas eu não consegui.
Dul: Eu acho melhor você ficar de olho na estrada.
Ucker: Vai ser assim então?
Dul: É, vai ser assim.
Ucker: Certo.
Dul: Ótimo.Eu tinha me esquecido da capacidade que ele tinha de me irritar, de me tirar do sério. Aí estava, o arrogante e prepotente que ele sempre foi. Não sei como consegue achar meios pra se justificar depois de tudo que ele me fez. Ele deve me achar muito burra pra pensar que esse papinho de arrependimento ia colar comigo.
Continuei com os olhos fixos na janela e ele se manteve atento à estrada. 40 minutos se passaram, já estávamos perto. Não trocamos uma palavra sequer depois disso. A chuva estava cada vez mais forte. Coloquei o endereço no aplicativo do carro e pedi que me deixasse lá. Ele apenas concordou com a cabeça e manteve-se em silêncio até chegarmos.
Dul: É aqui. Obrigada por me trazer! E desculpe o incômodo.
Ucker: Não foi incômodo, era o mínimo que eu poderia fazer.Eu tirei o cinto, ele se adiantou e abriu a porta pra que eu pudesse sair. Me estendeu uma jaqueta de couro que tirou do banco de trás do carro. Eu o encarei.
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Dois Lados
FanfictionDulce Maria é uma escritora de sucesso, tem muito dinheiro, poucos amigos, é responsável e atarefada, raramente consegue um tempo livre e quando o tem, opta por trabalhar em novos projetos. Escrever é a sua paixão, sua motivação diária, Dulce se ded...