Delírios?

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• Pov Dul •

Acordei às 6:00 do dia seguinte. Não consegui dormir direito. Estava ansiosa. Com a recuperação da Titi e a saída dela do hospital... Minhas esperanças de tê-la comigo aumentaram e meu coração estava a mil. Saí da cama com cuidado para que a May não acordasse. Calcei minhas sandálias e deixei o quarto.
Olhei para o corredor. Analisei os cômodos do andar. Não sei quanto tempo demoraria até que eu conseguisse trazê-la pra casa. A papelada, os documentos... Já estava ciente de que todo o processo era demorado. Mas a May me ajudaria com isso. Pela conversa que tivemos na noite anterior, o fator psicológico e o seu recente quadro de saúde poderiam estar ao nosso favor. Poderíamos apelar para o fato de que ela passou por um longo e exaustivo tratamento e que tudo o que ela mais necessita agora é de um lar que possa oferecer amor, conforto e toda a infância que lhe foi negada até o momento. Escola, amigos, brincadeiras no parque, dias de piquenique, sol, piscina e sorvete...
Eu queria mostrar o mundo pra ela.
Analisei os cômodos novamente. Teria que trazê-la pra cá e vender o meu apartamento até encontrarmos uma casa maior e com mais espaço para nós duas.
Fui até o meu escritório. Abri a porta. Eu poderia colocar a escrivaninha no espaço vazio em frente a cama no meu quarto, na parede que faz divisa com o closet. Daria um jeito de organizar os livros, tirar essas prateleiras e liberar o cômodo. Poderia comprar uma cama infantil, guarda-roupa, brinquedos e acomodá-la aqui.
Talvez desse pra fazer um cantinho de pintura em frente a cama. Estimular atividades lúdicas, leitura infantil... Manteria aulas particulares até que ela se adaptasse e estivesse pronta para a escola.
Eu nem acredito que chegamos aqui. Os últimos 3 anos foram intensos e por vezes eu pensei que fosse perdê-la. Perdi a conta de quantas vezes entrei em seu quartinho e me aproximei do seu leito só para vê-la respirar. De quantas vezes deitei-me com ela e apoiei o seu rostinho em meu peito enquanto sentia o seu corpinho fraco buscando forças para me abraçar.
Uma lágrima escapou pelos meus olhos.
Respirei fundo e saí do escritório.
Desci as escadas com cuidado e fui até a sala.
Deparei-me novamente com a janela aberta. Manias da Elle. Me aproximei do parapeito, afastei as cortinas e outra vez, mirei a casa ao lado. Nenhum sinal dele. Por que eu estava mesmo esperando que ele aparecesse?
Minha mente estava acelerada e já tinha muito com o que me preocupar. Não vou mais pensar nele. Apenas na Titi, é só ela que importa agora.
Fui até a cozinha e encontrei Matt fazendo ovos mexidos enquanto Eleanor colocava a mesa.

Matt: Bom dia, flor do dia! Acordou cedo depois de uma noite regada a tequila? Você está bem?
Dul: Bom dia, Matt. Foram só algumas margaritas. E não consegui dormir. Bom dia, Elle.
Elle: Bom dia!
Dul: Eu tenho um comunicado pra fazer a vocês.
Matt: Ah meu Deus, quando ela começa assim...
Dul: Fiquem tranquilos, não é nada grave, não precisam se preocupar. É só que... algumas coisas podem mudar por aqui e quanto antes vocês souberem, melhor. Vou precisar muito do apoio de vocês.
Elle: Claro, querida, pode falar.
Dul: Acho que estou prestes a adotar uma garotinha de 6 anos.
Matt: O quê?

Matt virou-se para mim, queimando o braço na frigideira. Os guarda-napos escorregaram das mãos da Elle e os dois se enteolharam confusos.

Dul: Acalmem-se e sentem-se. Eu vou explicar tudo.

Eles se sentaram e novamente contei toda a nossa história. Estava emotiva e me permiti chorar um pouco. Minha voz fraquejava quando contava sobre os dias difíceis do tratamento e me dava conta de que esses dias acabaram... Dava pra perceber o quanto eu estava entusiasmada com sua possível chegada. Eu sentia que tudo poderia dar certo a partir de agora. Poderíamos ser uma família. Eu seria a família dela.

Elle: Puxa, senhora. Eu nem sei o que dizer. Não fazíamos ideia, não esperávamos por isso. Será uma grande mudança, pra todos nós. Mas da pra ver o quanto ela já a fez feliz.
Matt: Você será uma excelente tutora, Dul! Conte conosco, para o que precisar. Essa menininha vai receber todo o amor do mundo se depender da gente. Sua atitude é admirável. Ela tem sorte por ter encontrado você.
Dul: Não, Matt. Eu que tenho sorte de tê-la encontrado e de ter sido escolhida por ela. Muito obrigada pelo apoio, vocês são muito importantes pra mim. Sabem disso, não sabem?
Elle: Nós sabemos.

Dois LadosOnde histórias criam vida. Descubra agora